Blackout

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"Você não pode obrigar as pessoas a sentir o mesmo que você sente por elas."  - Kyle XY

"Reid, espera, eu..." tarde demais. Ele já caminhava até mim, derrubando a bandeja que pendia em meus braços. Ele me empurrou contra a porta, e eu só conseguia pensar nos copos de vidro se chocando contra o chão enquanto uma dor lancinante atingia minhas costas.

"QUE TAL ME DEIXAR SOZINHO AGORA?" A voz alterada preencheu meus ouvidos. Tentei sorrir, só para deixá-lo com mais raiva.

"Sim, senhor." Juntei toda a coragem que Deus me deu e abri a porta de madeira maciça.

Eu ficaria bem longe dele, ficaria no inferno se fosse preciso, mas eu não conseguiria. Ele agora é como a minha droga, não conseguiria ficar longe dele, em uma abstinência profunda, sem surtar em alguns segundos incontáveis.

"O que aconteceu, filha?" Abri os olhos, e vi um ser de olhos azuis me encarando.

"Eu... eu não sei. Spence está alterado." Tentei sorrir. Não ficaria séria ou triste por que deu a louca nele. Manteria meu sorriso, mesmo que minhas forças estivessem sendo consumidas pela dor forte em mim. Não só por conta do impacto, mas também pela maneira que ele me tratou. Meu coração estava despedaçado. Eu senti ele se despedaçar, e seus cacos se espalhavam por mim e se prendiam em meus órgãos. É a pior dor que eu já senti, em toda minha vida.

"Vou falar com ele. Sente aqui." Só então percebi que já havia caminhado até a sala do andar em que estava. Fiquei em pé, puxando força de onde não existia para conseguir deixar meus olhos abertos. Era uma dor imensa.

"Não, Candice. Eu o entendo." Não, eu não o entendia, mas ele quer ficar sozinho, ele merece isso agora.

"Mas ele te bateu, Elizabeth!"

"Na verdade, ele quase não tocou em mim." Ri da minha ironia.

"Mas promete para mim que vai falar com ele depois?" Ela me segurou pelos ombros, e eu me deixei ser guiada por ela até o meu quarto.

"Eu estou cansada de prometer, mas... Depois eu converso." Sim, eu iria conversar. Mesmo resistindo, teria que entrar novamente no paraíso.

"Deite agora e fique calma. Eu trarei algum remédio para você." Dizendo isso, acompanhei com dificuldade o corpo de mamãe caminhar até a entrada do meu quarto. Meus olhos agora pesavam muito.

Joguei meu corpo sobre a cama. Não queria pensar no ocorrido, não queria lembrar da dor que eu estava sentindo. Era tão fote e torturadora, que não conseguia sequer chorar, pois a dor piorava com cada movimento que eu dava. Chorar seria como se deleitar nas chamas do inferno de biquiní, e ainda tomar banho em rios de larvas vermelhas e profundas. Seria extremamente doloroso pensar em qualquer coisa que não fosse o relógio da Minnie na mesinha ao meu lado. Observando os segundos mudarem, eu pensei em como o tempo passa rápido.

Meus olhos ardiam só de ficarem abertos, mas doía demais pisca-los. Tentei alcançar meu livro favorito, Lolita, que estava jogado de qualquer jeito encima da mesa, mas quando tentei pegar, desejei não ter feito. A dor foi tão forte que acabei deixando o livro de sofrimentos cair ao chão, e ouvi e impacto calada, tentando evitar a explosão em meus ouvidos quando isso aconteceu. Eu senti uma lágrima quente arrancar a frieza da minha pele, me rasgando enquanto descia pelo rosto, e se desmanchava no pano fino que cobria a cama. E então, várias outras dessas vieram juntas, e precisei aguentar, sem soltar nenhum gemido de dor, meus olhos serem pisoteados por uma chuva lacrimosa e meu rosto rasgado pelo calor que a chuva produzia. Qualquer tortura seria mil vezes mais prazerosa, até engraçada, do que sentir aquela dor novamente. Mas só então percebi, que a dor não era minha, e sim dele. Eu estava sentindo toda a dor que Reid sentiu ao ver Maeve jogada no chão a sua frente. Estava sentindo a dor que era para ele me beijar, e conseguir ver vestígios da Maeve em mim. Estava sentindo o que ele sentiu quando me chocou contra aquela porta.

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