Virginia

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Seus passos eram calmos e calculados, e o sorriso estampado não largava o rosto em nenhum momento. Ele passou as mãos nos fios castanhos, quase pretos, e se sentou duas poltronas a minha frente. O filho da puta iludido realmente havia comprado uma passagem de última hora. E provavelmente até esbarrou com os agentes do FBI na fila. Talvez até tenham batido um papo agradável sobre bebidas e como é passar um turno inteiro em pé servindo bebidas para bêbados e tarados - certamente se referindo a mim, por conta das minhas necessidades femininas - ou como é passar dias predendo mentes doentias ou resolvendo serviços burocráticos. Sorte a minha que ainda estou na faculdade. E, ao invés de ter ido comprar a passagem como o restante dos meus quase-amigos, eu estava na verdade deitada no colo de Reid nos bancos de espera do aeroporto. Não que eu esteja reclamando, pelo contrário, o colo do Spencer é mais confortável do que qualquer outra coisa - com exceção da minha cama -, mas porque diabos eu fui me deitar logo ali? Perto do amiguinho saliente dele?

Ah, Eliza, você deu encima de um barman que podia tanto ser um psicopata quando um mal-dotado, e ainda pergunta isso?!

É. Talvez eu seja mesmo uma tarada completa. Mas nós temos necessidades, não temos?! Não sou a única mulher que quase quebra o pescoço ao tentar olhar para a bunda de um homem. Não sou a primeira nem a última! Somos todas safadas, e talvez eu só esteja um tiquinho mais safada esses dias. Culpe o Reid. É muito injusto se aproximar tanto de uma mulher quanto sua única intenção é iludir. Spencer me iludiu? Posso dizer que sim. Desde aquele dia na casa de minha mãe, na nossa discussão, que acredito em algo: ele só está comigo por causa da Maeve. Os sentimentos mortos de Reid é e sempre será a única coisa no mundo que eu não vou querer nutrir, por mais que isso me iluda a tal ponto - Deus me livre ficar no fantasma da falecida. Não estou morta, e nem quero estar. Quer dizer, na situação em que me encontro, não deveria estar dizendo isso, mas onde já se viu gostar de um cara que te beija pensando em outra? E ainda por cima, uma falecida! - bonitinha, por sinal.

Pessoas aterrorizam até depois da morte. Acredito totalmente nisso. Não odeio a Maeve, por mais que fale mal dela. Afinal, mortos merecem o seu descanso, não?! Para o Reid, descanso para os mortos não existia.

Ele só queria se apegar em qualquer vestígio que encontrasse dela.

"Reid?"

"Que foi?"

"Eu vou ao banheiro." Me desprendi dos braços dele e caminhei pelo corredor, tomando a precaução de olhar para Juan de maneira convidativa. Como previsto, ele se levantou logo depois de eu ter passado pela quarta - quase última - poltrona. Reid mantinha os olhos fechados.

"O que diabos ta fazendo aqui?" Perguntei me encostando na porta do banheiro.

"Ue, vou te visitar." Juan sussurrou, como se isso fosse a coisa mais simples do mundo.

"Você é maluco. O Reid sabe que você está aqui?"

"Se souber, qual o problema?"

"Todos os possíveis, Juan!" Fechei a cortina rapidamente para ninguém ver nossa pequena briga.

"Para de se preocupar tanto, Elizabeth..." Empurro-o pelo peito quando seus lábios ameaçam tocar o meu.

"Se você é louco, não quero participar da sua loucura."

"Amai vosso pevertido vizinho com vosso pevertido coração."

"É, mas a sua vizinha de coração pevertido tem um joelho bem próximo das suas partes baixas e adoraria usa-lo."

"Eliza, por favor! Estamos em um avião! Ninguém vai vir aqui pra ver que a cabine do banheiro virou um pequeno motelzinho." Seus lábios bateram em minha bochecha, bem perto do canto dos lábios. "Ninguém se importa, Elizabeth."

Dark ParadiseOnde histórias criam vida. Descubra agora