Coffee?

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Ela havia sido morta há duas horas. Seus lábios estavam inchados, seus olhos saltavam das órbitas, sua vagina foi tão perfurada que foi deformada. Seus cabelos ruivos estavam curtos e sujos de sangue. Os dedos mindinhos das mãos foram cortados. A testa - aquilo era a testa dela? - estava suja de sangue, como a primeira pincelada em uma tela enorme. Sua barriga estava costurada superficialmente. Era a pior cena de se ver.

"Eliza?" Pelas minhas contas, era a vigésima quinta vez que Penelope tentava falar comigo desde que eu me encolhi no chão daquele beco e chorei histérica. Se Morgan tivesse freiado mais rápido, se eu tivesse virado o rosto segundos antes, se eu tivesse gritado mais alto quando o vi sair correndo do beco... Teríamos pego ele.

"Onde ela está?" Escutei a voz distante de Spencer, mas não movi sequer um dedo. A cena dela não saía da minha cabeça. O pior de tudo, foi saber que aquela garota havia sofrido tudo aquilo, ainda viva.

Spencer Reid POV

Eu a vi encostada no chão daquele beco frio. A neve havia voltado a cair, e ela não estava com nenhum casaco. Eu não ligava mais pra cena de crime que estava na minha frente. Eu queria só a segurança dela. Eliza parecia um gatinho encolhido em um dia de chuva. Ela era minha gatinha. Não no sentido imoral da palavra, no sentido mais puro. Aquela mulher, que estava jogada quase ao meu lado, era uma triste cena do que aconteceria com ela se eu não trabalhasse direito. O medo, a angústia e a dor de cabeça foi a única coisa que tomou o corpo por completo, como Eliza havia feito nos poucos dias que passamos juntos. Eu estava com medo de falhar. Com medo de que, por um erro meu, aquele ser maravilhoso que não deveria pisar os pés na terra de tão majestosa que era, pudesse morrer por que Spencer Reid foi burro demais. Eu estava fazendo de tudo. Tudo mesmo. Mas o meu perfil geográfico falhou, os meus suspeitos não tinham nada a ver com os crimes, e ela não tinha culpa de ser ter cabelos vermelhos e olhos verdes. Aquela era ela, não daria para mudar. E se mudasse, ainda seria a agridoce Elizabeth de sempre. Mesmo que ninguém a reconhecesse, eu a reconheceria. Desde as sardas de quando ela fica muito tempo no sol, até o brilho do olho levemente apagado. Elizabeth McAllister sempre seria a mesma para mim. A agridoce garota inesquecível.

"Eliza?" Me ajoelhei ao seu lado. Ela mantinha o olhar fixo em um ponto qualquer, quando eu puxei seus braços até mim e a abracei. "Eu não posso te dizer que irá ficar tudo bem, por que eu não tenho certeza, mas eu vou estar aqui."

"Reid, quem era ela?" Eu não a respondi. Não suportaria responder. "Por favor, Reid."

"Lize..."

"Por favor." Dos seus olhos, lágrimas pesadas escorriam, e se derramavam no meu braço. Aquilo era de partir o coração.

"Vamos sair daqui." Puxei seu corpo comigo quando levantei. As feições do seu rosto estavam apagadas e seus olhos grandes estavam inchados. Ela se apoiou em mim para não tropeçar nos próprios pés.

"Spencer..." a sua voz estava manhosa, como quando ela quer pedir algo.

"Sim?"

"Eu quero café."

"Café?"

"Sim." Eliza gemeu, antes de cair por cima de mim e fechar os olhos. Segurei seu corpo pequeno e a levei até o carro. Morgan me ajudou a colocá-la deitada no banco de trás, com a cabeça no colo de Penelope.

"Vamos para a lanchonete mais próxima." Ela dorme como uma princesa. As vezes parece zangada, de modo que seus lábios se contraem, e viram bico vários vezes, e ela franze o cenho ainda dormindo. Sei disso por que todas as noites de pesadelo, me levanto e a observo dormir.

Morgan acelerou o carro o mais rápido que conseguiu. Ele estava muito bravo pelo fato de não termos conseguido resolver todo esse caso em 4 dias. Eu também estava. Me sentia incompetente. E aquela morte, com a assinatura do assassino, mas não os padrões, foi como um choque de realidade. Eliza não era uma boneca, ela corria perigo. Isso não era um jogo, era a nossa vida. Ou eu a salvava, ou eu a perderia. O problema é que eu não sei como salvar o enigma que ela é.

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