No thesis existed for burning cities down at such a rampant rate

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Ester não acreditava que Ysa havia a chantageado para ir àquele Bazar. Bazar. Rolava os olhos, demonstrando seu desprezo toda vez que ouvia aquela palavra. Com que tipo de pessoas sua amiga estava andando que a obrigava a ir a um bazar feito por indivíduos que se achavam artistas, mas que não conseguiam vender seus livros, desenhos ou tranqueiras qualquer, que não fosse juntando os amigos dos amigos através de um evento no Facebook?
Com tanta coisa para fazer nesta cidade, como praia, teatro, parque, até ir ao zoológico, que fosse, tinham que ir justo àquele lugar.
Não que Ester fosse contra qualquer artista, mas achava a ideia meio idiota de vender essas coisas no quintal de casa, fingindo ser muito hipster. Quando essa moda finalmente passaria? Esses eventos alternativos metidos à intelectuais não eram muito a cara dela, apesar de adorar um pub com ar de underground e bandas tocando.
Era muito difícil definir Ester. Ela tinha um perfil de quem era popular, mas não havia nenhum traço de fama na sua vida. Seu cabelo era, sem dúvida, a parte mais chamativa; o loiro platinado e bem cuidado chegava a brilhar quando a luz batia no ângulo certo, e isso, sim, era invejado por todos. Gostava de beber e não via problema nenhum em ser a única numa mesa, principalmente, se só houvesse homens. Adorava quebrar estereótipos e achava besteira certas coisas.
E lá estava ela.
Ysa dirigia, enquanto Ester encontrava todos os meios possíveis de desfazer o pequeno evento.
— Parece que eles estão tentando usar a mesma tática que eu fazia quando era criança e me juntava com as primas, Ysa. Dá certo quando é adulto? Mesmo?
Ela sentiu o beliscão arder na hora. Era a milésima vez que Ester colocava algum defeito e elas nem haviam chegado ao meio do caminho.
— Para de reclamar. Você vai chegar lá com o sorriso lindo que você tem, elogiar o pessoal e iremos embora, prometo. Animação, lôra! Vai ter cerveja e gente bacana.
— É free? — Ester abriu o sorriso maior do mundo, ajeitando o cabelo loiro, que insistia em se manter rebelde.
— A cerveja não. — Ysa entortou a boca e levantou um pouco os ombros, sem tirar a atenção do trânsito, como se tivesse pedindo desculpas por falar um palavrão. — MAS É ESSE SORRISO AÍ QUE EU QUERO VER!
Ester cruzou os braços, mas, em pouco tempo, havia se dado por vencida. Não havia mais o que fazer.

X-X-X



Elas fitaram, juntas, a casa com portão vermelho desbotado, onde podiam ouvir o som alto de Frank Ocean invadindo a rua e pessoas fumando cigarros com cheiros duvidosamente misturados na sacada da casa.
— Vou dar um crédito. — Ester disse, desfazendo sua cara emburrada e rindo ao acompanhar a música que tocava. Tinha que admitir que adorava Frank Ocean. E cantarolou: — Or do you not think so far ahead? Cause I been think bout forever.
— Vocês não vão entrar? — Um cara surgiu, abrindo o portão e mostrando seu sorriso com dentes perfeitamente alinhados, mas amarelados pelo cigarro. — Quer dizer, podem ficar na porta também, mas tenho certeza que lá dentro está melhor.
Ester manteve-se estática, contemplando de perto os olhos brilhantes daquele cara, enquanto ele a mirava, sem qualquer disfarce. Suas tatuagens invadiam os braços magros, em milhões de desenhos aleatórios que formavam um conjunto harmônico bonito, e seu ar desleixado com a aparência só o deixavam mais charmoso. Que homem.
Aquela cara de mal dele, mesmo sorrindo, deixava claro que ele não era nenhum mocinho de novela das 7. Porém, não deixou de prender a atenção de Ester.
— Claro que a gente vamos entrar, Arthur! — Ysa interrompeu, recebendo a atenção dos dois. — Já chegou bastante gente?
— Bastante a gente nunca espera, mas já tem gente. — Ele sorriu novamente, mostrando todos os dentes. — Tanto que vou ali comprar mais cerveja. Algum pedido especial pra você ou sua amiga?
Ysa negou, puxando a amiga para dentro da casa, e, antes que Ester o perdesse de vista, trocaram um tímido adeus.
Observou as paredes descascando, cheias de infiltrações, não muito diferentes das mesas que usavam para colocar os "produtos" que estavam à venda; centenas de CDs, vinis, coisas vintages, livros, algumas pinturas feitas pelos organizadores... Tudo disposto para quem quisesse comprar. Perguntou-se se existia alguém que conseguia morar naquele lugar medonho.
Ester não tinha problemas com lugares sujos; inclusive, seu bar preferido não era muito bem aceito pela vigilância sanitária, mas sempre serviam cerveja gelada. E qual sentido de estar num bar limpo, bebendo cerveja quente? Neste momento era possível relativizar, ainda assim, aquele lugar era demais para ela.
Após algum tempo conhecendo e conversando com outras pessoas, alguém chamou atenção no microfone instalado no canto da frente da casa, onde estavam todos, anunciando um show ao vivo.
— Espero que sejam bons, porque basta estar aqui. — Ester cochichou para Ysa.
— São meio revoltados, mas são bons.
Ester viu o cara que as receberam se posicionar junto com o restante da banda.
— Nossa! Por que você não me disse que esse tal de Arthur existia? — perguntou, soltando o cabelo loiro, que estava preso em um coque, e chamando atenção de Arthur, que a observava ao longe. Trocaram sorrisos admirados.
Estavam encantados com o outro.
— Não se anima, lôra. — Ysa avisou. — Essa daí só cheira a encrenca das brabas.
— Foi só uma troca de olhares, sem segundas intenções. — Ester tentou se convencer de que não havia sentido toda aquela energia desconhecida invadi-la e dominá-la. — É o mínimo que eu posso fazer neste lugar sujo a que você me trouxe.
Ysa rolou os olhos.
Ester ficou se divertindo ao som da banda, que tocava uma música cheia de bateria e riffs de guitarra, num som tão sujo quanto aquele espaço, sem perder a oportunidade de retribuir os olhares trocados com Arthur.

Outro poema ruimOnde histórias criam vida. Descubra agora