And they throw the matches down into the glitter

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Exatamente quando fez um mês que ela não mais ouviu falar sobre ele, sentiu um frio percorrer a espinha, fazendo seus pelos se arrepiarem. Todo o desespero que sentia por gostar dele transformou-se em algo muito próximo do vazio.
Caminhou até o quarto de Ysa e a viu mexendo no computador.
— Ele se foi.
Ysa ficou sem entender, levantando-se para abraçá-la. O telefone tocou, e um Luís Felipe desolado podia ser ouvido do outro lado da linha.
Um corpo havia sido encontrado nas pedras de uma praia perto da cidade.

X-X-X



Ela era a própria imagem da tristeza. O conceito em forma de gente, coisa de livro, que ninguém nunca imaginaria na vida real. A depressão havia tomado conta, mesmo depois de tantas lutas internas.
Sentada, ali, sozinha, naquele píer, olhando o sol ir ao encontro do mar, na hora mais bonita do dia. Uma das poucas coisas que ainda lhe trazia conforto. Balançava os pés ao vento, numa vontade louca de se jogar naquele mar e lavá-la de toda dor que guardava profundamente.
O cigarro mentolado ia à boca em movimentos lentos. Sentia todas as substâncias dele invadindo seu pulmão; soltava a fumaça, restando a secura.
"Eram 4700 substâncias nocivas à saúde", diziam as autoridades. Nicotina causando câncer, alcatrão causando disfunções, monóxido de carbono causando problemas respiratórios. Todas levando a uma morte lenta, e tudo o que precisava era acabar com tudo de uma só vez. Enquanto isso, matava-se aos pouquinhos, junto com o cigarro.
Estava tão maltratada que não se lembrava da última vez em que havia visto o céu tão vivo e azul.
As mãos ajeitavam o cabelo bagunçado e destratado com a mesma emoção que procuravam o squeeze, já pela metade, com aquele líquido transparente que queimava a garganta. Não mais. O hábito já impedia que houvesse reações. Além do mais, nada podia queimar mais que seu peito. Nem aquele cigarro, nem mesmo o sol, que ia embora à sua frente.
Tudo era nublado. Tudo era melancolia. Tudo era solidão.
Luís Felipe aproximara-se devagar com todas aquelas tatuagens coloridas pintadas em seu braço, sustentando também uma expressão triste e desolada.
— Nunca gostei... — Ela fitou o cigarro, delirando para si, sabendo que ele estaria ouvindo. Sem desviar o olhar do horizonte, levantou a mão, num gesto, oferecendo-lhe o cigarro. Ele entendeu como uma permissão para sentar-se ao seu lado; e assim o fez, silenciosamente, tentando não atrapalhá-la com seus pensamentos. Ela levou novamente o cigarro à boca com os mesmos movimentos lentos, apreciando cada substância daquela droga misturada ao gostinho levemente adocicado que permanecia em seus lábios. — Mas, agora, esta é a única forma de eu acreditar que ainda existe algo doce na vida.
Ele tirou o cigarro da mão dela, sem nenhuma resistência, e o apagou. Junto com as cinzas, caiu uma lágrima.
— Sinto muito. — Luís Felipe disse, abraçando-a.

Outro poema ruimOnde histórias criam vida. Descubra agora