Are you ready for another bad poem?

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Estava tudo bem e Ester manteve-se positiva por um bom tempo. Parecia que tudo daria certo para os dois, mesmo tendo vidas tão diferentes. Ela, que nunca teve talento algum, tendo que se meter a estudar na faculdade, sendo mantida pelos pais, e ele, correndo atrás do seu sonho enquanto inventava um jeito de se sustentar sem qualquer apoio familiar. Ainda assim, passaram os quatro primeiros meses de forma maravilhosa, entendendo-se como nunca haviam feito com outra pessoa. Não queria que o tempo passasse nunca.
Sentia-se tão bem quando estava perto dele e tão mal quando se separavam. Sentia uma agulhinha alfinetá-la quando não podia encontrá-lo, pelo menos, um dia da semana, seja porque seu estudo e seu estágio não deixavam tempo, seja porque quando podia, Arthur estava em mais uma reunião para mais um projeto ou tocando em um lugar encardido qualquer.
E as desculpas foram aumentando com o tempo, a distância só crescia entre os dois, até o momento em que Ester achou que não o conhecia mais. Já estavam juntos há 8 meses, e esse era o tratamento que recebia. Começou a se perguntar o que significava para ele, por que nunca conseguiram se acertar de verdade, se tornarem "oficiais".
Cada desencontro aumentava sua frustração, e a crescente busca por atenção piorava quando ouvia aquela droga de celular cair na caixa postal; isso a enlouquecia e a tirava de si.
— É A TERCEIRA VEZ QUE EU LIGO, E ESSE CARALHO SÓ CAI NA CAIXA! — reclamava indignada com Ysa, a única pessoa que estava ao seu lado e com quem podia desabafar. — O que diabos ele tá fazendo, que é mais importante que me dar um sinal de vida?
— Não sei. Eu não quero defendê-lo, já sabe disso. Você deveria aproveitar que ele não te dá bola e partir para a próxima.
— Queria que isso fosse possível, Ysa.
— Ester! — Ysa a repreendeu, sendo mais dura que o de costume. — Há quanto tempo você não tem uma notícia dele? Nem sequer uma mensagem boba no Facebook ele se incomoda em deixar. É assim que ele gosta de você?!
Ester odiava esses surtos de sinceridade da amiga porque fazia crescer nela o sentimento de insegurança e derrubava cada vez mais sua autoestima. Claro que merecia mais, merecia alguém que lhe desse atenção e olhasse com carinho para ela, como há muito já não tinha mais de Arthur.
Recebeu uma mensagem, informando que o número de Arthur estava disponível para receber ligação. Retornou, apenas para continuar frustrada, porque, desta vez, chamou até não poder mais.

X-X-X



A calma que sentia quando estava perto dele transformava-se em tempestade quando ficava longe. Ela não conseguia se entender, nem aceitar esse tsunami de sentimento. Era muito intenso para ela e ficar de braços cruzados só piorava a situação. Será que ele não sabia tudo o que ela sentia?
Era mais uma sexta em que chegava do estágio, arrasada mentalmente por ter que pensar nos dois pelos dois. Havia, pelo menos, 2 semanas em que não o via, apenas conversavam por breves minutos e, depois, mais silêncio.
— Hoje tem show de você-sabe-quem. — Ysa adotou a técnica de sequer citar o nome dele, na tentativa de fazer a amiga melhorar. — Talvez pudéssemos ir lá rapidinho.
Ysa sabia que o tiro podia sair pela culatra, mas também sabia que a amiga precisava vê-lo para decidir seguir com sua vida e acabar com essa nuvem negra que pairou. Ester havia se transformado em qualquer pessoa que não fosse ela. Era difícil achar os traços da antiga Ester alegre e positiva depois que começou a se envolver com tanta profundidade com aquele garoto.
Garoto. Menino. Moleque. Era isso o que Ysa achava de Arthur, pois nunca pensou que sua amiga pudesse passar por isso, e o medo crescia, pois sabia exatamente como ele era instável e dramático. Além de não saber valorizar a pessoa que mais gostava dele nesta Terra inteira. Quem ele pensava que era?
Não queria ter que dizer a amiga "eu te disse".
— Você tem certeza? — Ester estava apreensiva. Adotou uma regra implícita de nunca aparecer nos lugares em que ele estava trabalhando. Odiava se sentir groupie, pois pensava que só estava com Arthur por ele ser um pouco conhecido e tocar um instrumento. — Não acho que seja uma boa ideia.
— É, sim. Troca de roupa. A gente já estamos indo!
Mesmo com o coração batendo forte, pedindo para não ir, arrumou-se.
Chegaram atrasadas, com a banda já tocando suas músicas, e viu que Luís Felipe também tocava com o amigo. Ester surpreendeu-se com a quantidade de gente que estavam ali para vê-los tocar. Sabia que Arthur era muito bom, mas, ao ver a casa quase lotada, teve a certeza de que ele conseguiria ir tão longe quanto pensava. Sentia certo alívio de saber que ele estava no caminho certo.
Assistiram o show ao longe, apenas observando-o fazer suas gracinhas em cima do palco. Quando terminou, esperaram as pessoas dispersarem, sem saber direito o que faria. Falaria com ele? Iria embora?
— Vamos lá para fora um pouco. — Ysa puxou a amiga, sem perguntar nada.
— O show acabou, Ysa. Vamos embora, vai. — Ester tentou.
— Você tem certeza?
— Não, mas também não tenho certeza se quero vê-lo hoje. Eu estou mais magoada que o de costume. Não sei o que sinto... Eu quero matá-lo, mas sei que quando eu ver aqueles olhos, a realidade vai ficar distorcida, e não vou resistir. — Suspirou fundo. — Eu tô perdida.
Ysa parou de frente para ela, fazendo Ester encará-la.
— Ester, se você se sente mais mal que bem quando está com ele, então sabe muito bem o que deve ser feito!
A loira queria ter essa certeza, por um fim naquela agonia e seguir com a vida, mas acreditava nele, acreditava que as coisas seriam melhores e, enfim, encontrariam um denominador comum em suas vidas, colocando-a nos trilhos outra vez. Aquele sentimento bom e inexplicável de quando tudo começou estava lá, ela sabia, só estava um pouco perdido. Não queria desistir assim tão fácil.
Neste momento, o que podia fazer era apenas falar tudo isso a ele.
Viram-no do outro lado da calçada, com Luís Felipe, fumando um cigarro, como sempre, e conversando com outras duas garotas.
O coração de Ester começou a bater rápido, suas mãos suavam e sentia seu corpo tremer com a aproximação. Pronto. Era assim que as palavras simplesmente iam embora, sem deixar qualquer rastro. Olhando-o era desnecessário falar tudo aqui. Pôde ver Luís Felipe dar uma cotovelada no amigo e leu seus lábios: "Olha lá quem tá vindo!".
Ela não nunca soube se Luís Felipe ia com a sua cara ou não, mas, vendo aquela cena e o desprezo escancarado na cara do amigo de Arthur, teve certeza: ele não gostava dela.
E isso só poderia ser porque Arthur falara alguma coisa sobre ela. Começou a pensar nas possibilidades de ele não sentir mais nada e ela não passar de uma garota imatura, que enchia o saco dele, pedindo por atenção, atrapalhando sua vida. Um calafrio tomou conta.
— Ester. — Arthur cumprimentou, após dispensar as garotas que estavam com eles. — Ysa.
— Quanto tempo, né? — Ysa alfinetou.
— Pois é! Muito trabalho!
Por que Ester sentia que eles estavam distantes? Tão distantes que a deixava desconfortável em estar ali, de frente para ele.
— Foi um bom show! Parabéns! — Ester elogiou.
— Se foi! Não estávamos esperando esse tanto de gente... — Ele sorriu. — Vai ficar por aqui?
— Não, a gente vai tomar uma ali do lado — respondeu com o semblante sério e sem graça.
— Certo. Depois, eu vou lá, ok? — Arthur deu um beijo na bochecha dela.
— Vai mesmo?
— Vou, Ester. — Ele sorriu, depois de dar mais um trago no cigarro. — Tô precisando de você.

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