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Os eventos que vieram a seguir passaram como um borrão para Simon.

Após reconhecer o corpo da mãe, Simon queria correr e vomitar na lata de lixo mais próxima.

Alguém segurou seu braço, sustentando seu corpo. Ele estava caindo? Simon sentiu mesmo as pernas fracas.

Olhou para o lado e viu Ayub. Segurou-se a ele com força.

Viu Rosh abraçada a Sara, que não conseguia parar de chorar.

Uma mulher entregou a Simon os pertences de sua mãe. Suas mãos tremiam.

Ele não lembra como chegou em casa. Não lembra nem de ter dito algo a Sara. Sua cabeça doía, aquela dor pulsante na têmpora. Sentia o corpo tenso.

Não dormiu.

Felice, a funcionária de sua mãe e amiga da família, foi quem ajudou com o enterro.

Simon assinou algumas coisas que Ayub leu antes de explicar para ele rapidamente. Simon não registrou o que era.

Simon conseguiu chorar enquanto tomava banho.

E depois, quando precisou escolher uma roupa para a mãe.

E depois quando se viu na frente do espelho de seu quarto usando um terno preto. Olheiras profundas adornavam seus olhos.

Viu Sara na sala de estar de casa e... August? Simon o ignorou.

No velório, as pessoas o cumprimentaram e abraçaram. Amigos de sua mãe, amigos de Simon.

Seus pés moveram-se para longe do caixão e quando se deu conta estava sentado em um banco próximo a uma grande árvore, no jardim do cemitério.

A primavera em Pádua era realmente esplêndida e Simon começou a observar como o jardim do cemitério estava florido.

Fechou os olhos e lembrou de sua mãe ajoelhada no canteiro de casa, mexendo na terra, cantarolando, enquanto cuidava das rosas.

Lembrou dela colhendo os lírios e ajeitando-os em um vaso na mesa da cozinha. Lembrou de seu perfume e de como ela sorria.

"As flores deixam tudo mais alegre, Simon" ela dizia quando o pegava observando-a em silêncio enquanto ela cuidava das flores no jardim de casa

— Não hoje.

Simon respirou fundo e soltou o ar pesadamente, levantou-se do banco e deixou seus pés guiarem-no novamente, a passos pesados, em direção à capela.

Uma lufada de vento atingiu as árvores, agitando as folhas e soltando as florzinhas que agora flutuavam em direção ao chão, uma chuva de cores, pétalas dançando com a brisa.

Simon observou as pequenas flores grudadas em seu paletó por alguns segundos, não as retirou dali, apenas olhou para o céu e sorriu.

— Gracias, mamá.

Das coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora