08

155 20 125
                                    

Wilhelm saiu do Pub um tanto bêbado, com as pernas trôpegas e a visão embaçada.

A noite estava fria e não havia movimento nas ruas a volta, apenas o Pub aberto e funcionando.

Deixou que seu celular vibrasse insistentemente no bolso da jaqueta durante toda a noite, ele não queria ser incomodado. Mas seja quem quer que estivesse tentando falar com ele, não desistiu, e continuava ligando agora.

Com um suspiro exasperado, Wilhelm pegou o aparelho e atendeu irritado, a voz meio lenta.

— Oi

“Wille, por que não atendeu?”

— Me deixa em paz, Malin

“Você tá bêbado? Isso não resolve muita coisa, garoto”

— E o que resolve? O que vai ajudar Erik? Me diz.

“(...) Apenas não volte para casa pilotando a moto ok?"

Wilhelm ficou em silêncio, distraiu-se com uma rachadura na calçada

“Wilhelm?!”

— Ok Malin. Não vou.

Desligou o celular e o enfiou no fundo do bolso da jaqueta, apertando-o com força.

Encarou sua moto estacionada na rua, não ia mesmo voltar para casa dirigindo no estado de embriaguez em que estava.

Arrastou-a até a calçada, junto à entrada do Pub. Já havia feito isso outras vezes, o dono do estabelecimento o conhecia e as pessoas sabiam bem a quem aquela moto pertencia.

Ninguém em Pádua seria capaz de roubar Wilhelm.

Um sorrisinho surgiu no canto da sua boca ao lembrar da expressão assustada daqueles dois adolescentes que foram até sua mesa enquanto ele fumava.

— Coitados — ele murmurou para si mesmo. Divertia-se com o pavor que causava nas pessoas.

Pádua, a cidade primaveril, colorida e alegre em nada combinava com Wilhelm, que estava quase sempre usando um boné ou capuz ocultando um pouco do seu rosto, um par de botas pretas pesadas - quase como as de combate - roupas escuras, muitas com detalhes metálicos ou em couro.

Sua aparência um tanto sombria e seu jeito reservado lhe conferiram um ar misterioso ao longo do tempo. Era quase natural que as pessoas sentissem medo ou o tratassem com cautela.

Já havia escutado os boatos sobre ele ser um ex-presidiário e até sobre ter comido bichos inteiros vivos. Ele não perdia tempo tentando mudar a opinião dos outros sobre ele, era até divertido e isso mantinha as pessoas a uma certa distância.

Wilhelm apertou sua jaqueta surrada, fechando-a um pouco mais para enfrentar o frio e seguiu caminhando para casa pela rua vazia, sob a luz difusa dos postes de iluminação.

Bebeu o suficiente para não pensar em Erik, mas ali, caminhando pela rua sozinho, havia pouca ou quase nenhuma distração para impedir-lhe de pensar nas altas despesas médicas de seu irmão.

— Na pior das hipóteses posso roubar um banco… Já pensam que sou um criminoso mesmo

Soltou uma risada curta imaginando a expressão de Malin se o ouvisse dizer uma coisa dessas.







Alex chegou ao colégio bem cedo, indo imediatamente à procura de Mads. Encontrou-a sentada na grama, pernas dobradas uma por sobre a outra, lendo um livro, concentrada.

Quando Alex projetou sombra sobre a garota ao colocar-se a sua frente, bloqueando o sol, ela tirou os olhos das páginas que lia e encarou o amigo.

— Vejo que sua noite de sono não foi boa… Que cara é essa, Alex?

Das coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora