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O primeiro dia de primavera em Pádua amanheceu ensolarado e fresco, um belo convite para que os moradores deixassem os grossos casacos e cachecóis e tirassem do armário suas roupas leves e floridas.

Tudo em Pádua girava entorno da primavera, era a época mais agradável na cidade e atraía turistas de toda a parte para observar as flores raras desabrocharem no parque municipal e os lindos campos de girassol, além de ser a época do anual festival de música da região.

Simon Erickson saiu de casa de bom humor e seguiu para o trabalho em seu opala vermelho. Trabalhava na loja de discos no centro, era mais um favor a Sra Perky, a dona da loja, do que propriamente para ganhar algum dinheiro, embora também amasse estar na loja rodeado por instrumentos e seus cantores e bandas favoritos.

Enquanto dirigia até o trabalho podia ver o centro da cidade ganhando movimento quando as lojas iam abrindo e o número de pessoas nas ruas seguindo para seus destinos aumentava. Parou em um sinal ao lado de um veículo com duas crianças no banco de trás que o encaravam pela janela.

Simon adorava crianças então acenou para os dois meninos uniformizados, deviam estar a caminho da escola. O mais alto sorriu e mostrou seu bichinho de pelúcia, o outro menino fez um careta engraçada para Simon que devolveu da mesma forma fazendo os meninos rirem.

O sinal abriu e Simon deu partida, rindo das crianças e cantarolando a música que tocava no rádio do carro.

It takes a fool to remain sane
In this world all covered up in shame

Chegando a loja Simon cumprimentou Iaz, a outra funcionária, e foi para os fundos em direção a sala da Sra. Perky, no final do corredor.

Ela passava a maior parte do dia ali, escrevendo um romance ardente. Era comum que Simon a ouvisse recitar alguns trechos já que a porta da sala estava sempre aberta. Ele se aproximou devagar, ficando junto a parede ao lado da porta, sem ser visto, ouvindo a sra Perky divagar sobre o romance, rindo baixinho vez ou outra.

— (...) ondulando de desejo, Adrian retira sua capa vermelha — a senhora pausou e suspirou. Simon aproximou-se o máximo que pôde da porta para ouvir escondido. Ouviu o som de uma tecla repetidas vezes — capa...carmesim... a visão da rigidez de Reginald — ela falava com uma voz baixa e sedutora — qual será a outra palavra para congestionado? Inchado? Túrgido?

— Tumescente? — Simon posicionou-se a frente da porta para que ela o visse e sorriu para a senhora

— Perfeito! Obrigada querido. Venha aqui — a senhora levantou da cadeira e foi até Simon no mesmo momento em que ele entrou na sala e abraçaram-se

— É bom vê-la aqui. Como está?

— Me sinto bem. Você está mais alto, querido?

— Acho que não, senhora Perky. Deveria dar uma olhada em seus óculos

— Muito engraçado. Me avise quando a entrega de revistas clássicas chegar, ok? Ficarei aqui dentro por algumas horas, não quero atrapalhar o trabalho de vocês no salão

— A senhora não atrapalha, sabe que prefiro mil vezes vê-la na loja contando aos clientes as histórias da Broadway.

— Eu já estou velha demais para toda essa agitação Simon, mas agradeço por ter você cuidando de tudo para mim. Você sabe que estou pronta para passar a loja para você a qualquer momento.

Simon apenas sorriu. Já tinha tido essa conversa com sra Perky muitas vezes. Ela sempre tentava convencê-lo a assumir a loja de vez mas Simon não queria continuar em Pádua, se tudo desse certo ele iria para Juilliard School estudar e ser um grande astro da música.

Das coisas que odeio em vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora