Capítulo 15 - Chuva

884 70 34
                                    

"Chuva" é baseado no capítulo "Continuada" do livro. Qualquer semelhança não é mera coincidência.


Depois de sermos banhados pela sabedoria do guru Jamie, outra coisa ameaçava nos banhar. A época das monções estava chegando e o ar estava começando a ter o peso e o cheiro da chuva.

Era um cheiro que eu sentia nos cabelos lindos de Peg, despertando ainda mais meus sentidos para os detalhes do corpo dela. Depois do que Jamie nos disse, Mel e eu nos esforçamos para não aparecer mais tantas vezes juntos diante dela, e também para soarmos mais amistosos e menos cúmplices.

Era inacreditável que Peg ainda pudesse duvidar do meu amor, mas esse sempre foi um ponto delicado para ela que, por razões misteriosas para mim, se recusava a acreditar que nós a amávamos pelo que ela era. Por seu jeito doce e altruísta. Por sua personalidade irretocável. Pelas coisas verdadeiramente apaixonantes que havia nela, todas tão evidentes. Ao menos para mim, era impossível não amá-la.

E mesmo que a questão fosse tão superficial quanto a mudança de aparência, por exemplo. A dela era tão ou mais atraente para mim agora quanto era na época em que ela estava no corpo da Mel.  Porém, se alguém soubesse de um jeito de fazê-la entender isso, eu estava pagando para me ensinarem.

Mesmo assim, o fato é que quando Peg percebeu que eu não estava apaixonado por Mel e nem estava ficando ao lado dela para ser gentil, permitiu que eu me aproximasse mais e com mais frequência. E eu tentava ficar ao lado dela o máximo que podia. Nem sempre era fácil, porque não podíamos mais dar a ela os trabalhos mais pesados. Então, muitas vezes eu tinha que passar um tempo longe enquanto estava plantando, arando, colhendo ou limpando os espelhos, todas coisas que ela não podia mais fazer.

A ela agora eram delegadas as tarefas fisicamente mais leves, como cozinhar, lavar ou fazer pequenos reparos nas roupas. Isso a deixava tremendamente irritada, porque Peg estava acostumada a trabalhar como uma máquina, como se devesse algo para nós e estivesse pagando com seus esforços incessantes. E estava claro para todo mundo, menos para ela, que isso não seria mais assim.

Porém, especialmente quando via Melanie trabalhando, Peg se esforçava para ajudar, pedia que dessem alguma tarefa para ela ou simplesmente começava a trabalhar quando ninguém estava olhando. Então, pouco tempo depois, gotas de suor começavam a brotar de sua testa e seus músculos frágeis começavam a ceder ao cansaço. Eu enfiava os dedos pelos seus cabelos, tocando a sua nuca, e percebia que ela estava banhada em suor e seus músculos tensos de insatisfação consigo mesma.

Nessas ocasiões, tudo o que eu queria era tomá-la nos braços e ensinar a ela como um O'Shea relaxa uma mulher, mas eu sabia que era cedo demais para isso. Não me passava despercebido que ela se arrepiava ao meu toque e ficava corada quando eu a encarava por mais tempo do que devia. Mas eu ainda achava que ela estava confusa em relação aos seus sentimentos por mim e por Jared, então tinha resolvido que daria a ela um tempo pra se resolver. Desta vez, eu esperaria que ela viesse até mim, para variar.

Então, como eu estava sendo só o "amiguinho", eu apenas ficava por perto esperando que ela entendesse e aceitasse as limitações do corpo de Sol e parasse de se esforçar tanto. Coisa que, como se pode imaginar, não acontecia. Eu me limitava a tentar lhe dar funções leves, só para mantê-la por perto ou, quando ela acabava pegando algo mais pesado, tomar o trabalho de suas mãos antes que ela ficasse ofegante demais até para reclamar.

Mas mesmo com meu compromisso de lhe dar espaço para rever seus sentimentos, era difícil me manter distante e eu estava sempre orbitando em torno dela, como se Peregrina fosse uma estrela, o sol pelo qual há tanto eu esperava. Eu segurava sua mão, acariciava seus cabelos, mas não me permitia exceder essas carícias amigáveis. Era absolutamente torturante.

A Hospedeira - Antes e Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora