Capítulo 17 - Depois da Chuva

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A partir deste capítulo, o POV de Ian se cruza com o de Peg na minha fic "Depois da Chuva" . Deem uma olhadinha nela também, se quiserem.


Três dias depois que as chuvas pararam, Kyle terminou o quarto que construiu para Sunny e os dois se mudaram para lá. Sunny parecia flutuar no ar e Kyle, embora tentasse dar um ar de obrigação para a mudança, também estava feliz. Muita gente já tinha voltado para seus quartos também.

Uma ideia se pendurou em minha cabeça, balançando-se para lá e para cá, ora me deixando feliz, ora me atormentando. Já estava na hora de nos mudarmos também, mas eu não sabia o que isso significava para Peg, especialmente nesse novo corpo tão jovem. Claro, eu sabia que quem estava dentro dele não era jovem, mas claramente essa juventude a afetava. Tudo isso a tinha mudado. E eu não queria ter que forçar uma menina a estar comigo de uma maneira que ela não estivesse preparada para estar. O quanto minha Alma Peregrina era mesmo uma menina? O quanto dela já era uma mulher?

A ideia se balançava tanto que já estava perfurando os cantos do meu cérebro. Foi quando me lembrei que existia alguém com quem eu podia falar sobre Peg e que a entendia melhor do que ninguém.

Era difícil alcançá-la sem Jared, agora. A cada dia que passava, eles estavam mais próximos, mas esse era um assunto do qual Jared não poderia participar.

— Aaah, Jared?

— Sim?

— É sua vez de tirar a enxada de Peregrina.

— O quê?

— Você sabe, ela continua teimando em trabalhar escondido. Mel já foi e eu também. Se formos novamente, ela vai ficar brava. Você pode fazer isso desta vez?

— Deixe-a trabalhar, Ian. Se é o que ela quer. Ela vai acabar se cansando de qualquer maneira.

— Sim, eu sei, Jared. É o que eu tenho feito com as outras coisas. Mas não quando ela usa ferramentas. Por favor?

— Tá, mas você vai ter que fazer minha parte do serviço enquanto eu estiver fazendo o dela.

— Sem problemas.

Mel acompanhava tudo isso com uma expressão curiosa. Ela já me conhecia bem o suficiente para saber que eu tinha algo em mente para afastar Jared e estarmos longe de Peg.

— Que história é essa, hein? O que é que você está aprontando? – ela perguntou.

— As chuvas acabaram, Mel.

— Sim. E daí?

— Jamie está com Aaron e Brandt. Kyle se mudou ontem para o quarto dele com Sunny. E as chuvas acabaram, Mel.

Melanie me olhou confusa, uma interrogação em seu rosto encerrando o sentido da expressão que dizia "Você está louco?". Até que finalmente...

— Oh! — ela exclamou. Segundos depois, outro "Oh!" mais forte quando seus olhos se arregalavam com o entendimento das implicações.

— O que eu faço? – perguntei, desnorteado.

— Como assim "o que eu faço"? Vou ter que te explicar?

— Claro que não, né? Mas talvez tenha que explicar a Peg. Eu não sei o quanto ela sabe, quer dizer... Sei lá. Não sei como ela se sente quanto a isso.

— Você já tentou conversar com ela?

— Ah, já! É um assunto que surge naturalmente numa conversa durante o café!

— Claro! Desculpe. Pergunta besta...

— E então? – perguntei. – Será que você pode conversar com ela?

— Ai...

— Mel, por favor!

— Tudo bem. Mas você vai ficar me devendo uma.

— Põe na conta! – eu disse, dando um beijinho de leve no rosto dela enquanto assumia o trabalho de Jared.

Peg veio em nossa direção batendo o pé, um biquinho de irritação em seus lábios.

— Já sei — provoquei. — Jared não te deixou trabalhar, não é? Viu como não sou só eu que me preocupo?

— Como se eu não soubesse que tem dedo seu nessa história! – disse ela, toda nervosinha. Era bonitinho.

Mel deu uma risadinha baixa e eu sabia que precisava fazer alguma coisa antes que começasse a rir também.

— Venha, vou organizar umas mudas para você plantar, tudo bem?

— Pode ser – ela se conformou, a irritação cedendo sem que ela se desse conta. Corpo adolescente ou não, essa era Peregrina.

— Peg, não está mais chovendo – lembrei-lhe, minutos depois, enquanto arrumávamos as mudas, meu pedido quase explícito nas entrelinhas da declaração óbvia.

Ela assentiu, ficando mais uma vez corada. Seus olhos, entretanto, não fugiram dessa vez. Fui eu que parei de olhar para ela, aparentemente voltando minha atenção para o que eu estava fazendo, porque eu queria que ela soubesse que não tinha obrigação nenhuma de aceitar nada.

— Podemos voltar para nosso quarto?

Com o canto dos olhos, eu a vi me imitar, fingindo que estava ocupada demais para me dar atenção irrestrita. Mas sua voz aliviada e cheia de promessas me disse bem mais do que as três palavras com que ela respondeu:

— Sim, por favor.

As mesmas três palavras que ela disse quando prometemos um ao outro nosso futuro.

A Hospedeira - Antes e Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora