Capítulo 6 - Espera

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Os dias que se seguiram deram um novo significado à palavra “espera”. Era tudo o que eu fazia agora. Minha vida estava em suspenso. Meu corpo e minha mente funcionavam à base de comandos muito simples:

Manter-me vivo.

Proteger Peg.

Esperar.

Eu passava horas intermináveis no hospital de Doc, como quando a gente acompanha um ente querido durante uma longa internação. A diferença é que eu ia lá porque queria. Por várias razões.

Depois que fiquei sabendo dos detalhes mais sórdidos dos planos de Peg, eu queria manter um olho grudado em Doc. Não dava para saber se ele iria resolver, de repente, cumprir sua promessa. Eu sei que parecia meio idiota levar Peg para perto dele, quando o que eu queria era mantê-lo longe dela. Mas desse jeito eu podia ficar perto dos dois.

Sei, sei, eu estava paranoico. Mas se eu tivesse sido paranoico antes, não teria sido passado para trás. Eu teria percebido o que aquela cabecinha alucinada de Peg estava maquinando e a teria feito mudar de ideia. Claro que teria sido tão eficiente quanto um barco no deserto, porque convencer Peg de qualquer coisa era quase mais difícil do que me convencer. Mas eu poderia ter feito o que Jared fez...

O fato é que agora que eu sabia de tudo, não ia deixar nunca mais alguém me pegar desprevenido e, apesar de acreditar que Doc já tinha desistido de sua promessa, eu ficaria alerta. Ninguém mais nas cavernas teria coragem de tentar, mesmo que estivesse disposto a se meter. Todo mundo sabia que eu mataria qualquer um com minhas próprias mãos. Depois ter que explicar isso para a Alminha Paz e Amor é que seriam elas! Mas eu estava disposto a encarar esse rojão se fosse preciso.

Outro motivo para eu querer ficar no hospital era Kyle. Ele ainda estava lá ao lado do corpo de Jodi e segurando o tanque de Sunny. Quem diria! Os O’Shea, outrora fortes, encrenqueiros e destemidos, agora eram dois malucos, cada um com a sua latinha. As voltas que o mundo dá!

Mas brincadeiras à parte, eu estava com medo de que Kyle estivesse mesmo ficando louco. E eu também não estava muito longe disso. Pelo menos podíamos nos apoiar, manter um ao outro são ou, na pior das hipóteses, ajudar o outro a enlouquecer de vez. Com Kyle e eu nunca dava para ter certeza.

Além disso, o motivo real mesmo era que eu não tinha para onde ir. Não dava para trabalhar, eu não soltaria o tanque de Peg para nada (Jeb estava sendo bem paciente quanto a isso), e ficar o dia todo trancado no quarto era enlouquecedor. A última lembrança que eu tinha de Peg era lá. Foi de lá que ela se levantou para caminhar para o que acreditava ser sua morte. Eu imaginava isso repetidamente e em diferentes versões. Em todas elas, Peg fazia algum barulho ou movimento que me acordava e eu a impedia. As infinitas possibilidades, os milhares de “e se”, estavam me deixando louco. Então eu ficava a maior parte do tempo no hospital e só ia para o quarto quando já mal conseguisse mais abrir os olhos. Às vezes nem assim.

Mas era mais fácil dessa maneira. O hospital era sempre movimentado nos últimos tempos. Havia uma espécie de peregrinação constante dos amigos de Peregrina: Lily, Heidi, Trudy, Geoffrey... Peregrinação para ver Peregrina. Soa engraçado! Eu estava mesmo ficando louco, rindo de piada sem graça!

O fato é que as pessoas vinham e, embora eu não estivesse em condições de manter uma conversa agradável com ninguém, eu gostava de ouvi-los conversar. Era bom saber o quanto sentiam falta dela. Quando acordasse e soubesse disso, ela ficaria feliz.

O primeiro que veio foi Jamie, pouco tempo depois de Jared contar para ele, logo naquela primeira manhã, que Mel estava de volta. Eles quiseram que ele viesse aqui primeiro para saber que Peg estava segura, antes de ver a irmã.

A Hospedeira - Antes e Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora