Capítulo 11 - Intensos e Confusos

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E foi assim que mais um item foi adicionado à minha rotina sem Peg: manter-me vivo, proteger o tanque, esperar e... Cuidar do Pequeno Sol. Era assim que eu a chamava, pois não sabia seu nome e ela não era mais Pet. Ainda não era Peg, tampouco. Será que os olhos dela se abririam para trazer de volta a consciência de uma criança inocente no corpo de uma adolescente? Seria uma complicação e tanto!

— Tracy? Você tem cara de Tracy – disse Mel, mais uma vez tentando acordá-la.

Nós dois nos dedicávamos integralmente a essa tarefa. E todos os amigos de Peg vinham ajudar a manter o corpo saudável e hidratado. Tínhamos até uma escala. E todos os cuidados que tinham sido tomados com o corpo de Jodi estavam sendo repetidos com Sol.

— Pamela, então? Pam? Você está aí? – insistia Mel, repetindo os esforços de Peg com Candy. – Você se lembra de Pet? Sente falta dela? Ela está bem, mas agora você está livre e já pode acordar. Abra os olhos se estiver aí...

— É inútil, Mel. Tudo isso é inútil. Só estamos pondo o corpo de Sol em perigo.

— Sol?

— Sim, é assim que eu a chamo – respondi sem graça.

— Por quê?

— Porque ela é... luminosa.

Mel me olhava com uma expressão ao mesmo tempo terna e curiosa.

— Você já gosta dela, não é? Já consegue enxergar Peg nela.

— Desde o início.

— Mas ela é tão diferente! De mim, eu quero dizer. Você se apaixonou por Peg quando ela tinha a minha aparência – disse Mel, com uma expressão no rosto que só podia ser...

— Ciúmes, Srta. Stryder? Você está com ciúmes? De mim?

— Ah, não seja tonto, Ian! Você sabe que eu amo Jared. Aliás, se ele estivesse aqui, ficaria furioso com você por dizer isso.

— Não, Mel. Ele ficaria furioso é com você! Porque você está com c-i-ú-m-e-s de mim – provoquei, soletrando a palavra que a irritava tanto.

— Você está particularmente irracional hoje!

— E você está particularmente humana hoje, então estamos quites!

Mel acabou rindo da discussão boba que estávamos tendo e o riso a desarmou.

— Fique sabendo de uma coisa: se você falar desta conversa com Jared ou com Peg ou com quem quer que seja, eu te esfolo vivo, entendeu? Mas eu acho que tive um pouco de ciúme, sim. Você acabou se tornando muito importante para mim, na verdade.

Eu queria dizer: “você não teria coragem de esfolar meu lindo courinho”, mas a sinceridade dela desmontou minha piada. Subitamente, a conversa se tornou intensa demais para ser desviada com brincadeiras. Uma das coisas que sempre me ajudou com as mulheres foi saber quando essa hora chegava.

— É, eu sei. Você também é importante para mim. É estranho, né?

— Sim, muito estranho. Quando acordei, depois que a Peg nos deixou, eu senti sua falta. E tive muito medo de que você me odiasse.

— Eu não te odiei. Nem por um segundo. Mas eu não sabia como me sentir em relação a você. Para falar a verdade, ainda não sei muito bem. Só sei que gosto que você esteja perto de mim.

— Eu também me sinto assim – ela admitiu.

Mel estava completamente vulnerável agora. E eu também. Estávamos mesmo precisando organizar nossos sentimentos um pelo outro. Ela hesitou um pouco, mas depois de uns segundos perguntou:

A Hospedeira - Antes e Depois da ChuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora