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1 mês depois.

Tinha vindo almoçar com Lya esse final de semana, escolhemos um restaurante perto da praia e como Diego estava de folga ele mesmo se encarregou de cuidar do Ben enquanto eu estivesse fora. Nenhuma mãe acha isso uma boa ideia mas tenho que dar um voto de confiança.

As coisas tinham mudado significantemente nesses últimos trinta dias, por vacilo meu quase Diego descobre da faculdade de medicina no exterior e desde então ele age como se eu estivesse escondendo algo. As vezes fica emburrado, tem dias que mal nos falamos e assim está sendo esse mês.

Ou seja, conturbado.

— Você precisa contar pra ele, olha o que isso tá causando no teu relacionamento.

— Não sei se estou com cabeça pra isso agora — suspirei fundo um pouco impaciente.

— Vai estar com cabeça quando? Quando o avisão estiver decolando com você dentro? Acorda, Manuela! Já passamos dessa fase.

— O que você quer que eu diga pra ele? Que eu quero ir, que eu vou deixar meu filho pra viver um sonho? Não dá, tá legal?

— Você pode começar dizendo a verdade, o que você vai decidir depois é consequência do primeiro ato.

Minha mente estava em cento e vinte volts a todo momento. Isso nunca havia saído do top um do ranking de maiores problemas mas ainda que tivesse passado um tempo desde do acontecido eu não conseguia tirar aquela menina da orla da minha mente.

Cacete! Eu não aguentava mais pensar nisso.

— Amiga, você está visivelmente mal. Tenta eliminar isso logo de vez, usa toda sua coragem e conta.

— Eu tento, eu juro que eu tento.

— Entenda o lado dele também, ninguém merece viver na desconfiança.

Passamos o dia inteiro juntas, de um simples almoço virou bebedeira num quiosque perto de onde estávamos e ficamos lá curtindo bastante até umas onze da noite. Meu celular havia descarregado, peguei um táxi de uns dos milhares que estavam parados perto do local e fui pra casa. Fazia muito tempo que eu não curtia um pouco, parei a amamentação do Benjamim uma semana depois do seu mêsversário e agora podia beber e comer algumas coisas que antes não podia.

A bebida pegou bem rápido mas o que esperar de uma pessoa que não ingere álcool um ano e pouco?

Cheguei em casa sorrindo atoa, não estava completamente bêbada mas estava alegre como se nunca tivesse ficado assim antes e quando entrei em casa o sorriso foi desfeito quando avistei Diego sentado na cadeira do meio da mesa de jantar bem sério.

— Foi bom o almoço com a "Lya"? — fez aspas com o dedo e um sorriso sínico.

Processei seu gesto com as mãos por uns segundos. Ele estava insinuando na minha cara de que eu estava com outra pessoa?

— O que você está querendo dizer? — coloquei minha bolsa e minhas chaves sobre a mesa.

— Você saiu daqui onze da manhã para um suposto almoço e volta às onze da noite? Eu não sou otário, Manuela...

Toda álcool parecia ter saído do meu corpo
me fazendo voltar ao meu estado de sóbria ao escutar aquilo. Ele realmente estava insinuando isso.

— Qual é a sua, Diego? Eu não posso me divertir? Agora é você quem dita o que eu devo ou não fazer?

— Você agiu como se não houvesse responsabilidades! — alterou o tom de voz.

— Não tenho responsabilidade? Quem você acha que é para dizer isso? Eu passo a semana inteira conciliando trabalho com os deveres da casa e sendo MÃE — cuspi as palavras.

— Tem um tempo que você age como uma adolescente com segredinhos e birras de uma garota de quinze anos. E agora mais essa, some o dia inteiro sem dar satisfação pra ninguém. Que porra, Manuela! O que tá acontecendo com você?

— Sabe qual foi o problema? Você foi pai por um dia e achou que fez o seu máximo. Você é um machista do caralho.

Sai pisando fundo em direção ao quarto e ouvi seus passos atrás de mim.

— Machista? Se eu fosse machista não faria a metade do que eu fiz quando seu irmão te expulsou de casa. Eu fui contra ao que eu acreditava pra ficar do seu lado, larguei minha vida pra ficar aqui.

— Se você se arrepende é só ir embora, Diego. Vai com Deus! — gritei.

— Você não entende? Eu quero fazer isso funcionar mas se você me esconde coisas não dá, Manuela. Simplesmente não dá.

Ambos estavam com vocês alteradas, talvez metade do bloco estaria escutando toda essa discussão e por mais que eu segurasse ao máximo as lágrimas teimavam em escorrer pelo meu rosto.

— Não tenho nada pra te contar, Diego. Você é livre para interpretar isso do jeito que quiser.

O Benjamin começou a chorar, passei por ele que estavam com os olhos marejados e fui até o quarto do meu filho onde eu sentei com o mesmo no colo na poltrona e acalmei o mesmo. Depois dele dormir em meus braços, coloquei de volta no berço e fui tomar um banho.

Me deitei no sofá da sala mesmo, não queria ficar no mesmo ambiente que Diego e após um bom tempo eu adormeci chorando por toda essa situação. Eu seria o motivo da crise do meu relacionamento? Queria que fosse mais fácil...

[...]

Acordei às sete da manhã com uma dor de cabeça terrível, tomei um remédio rápido e fui ver se meu bebê havia acordado e lá estava ele com os olhos bem abertos brincando com os pészinhos.

— Tão quietinho, mamãe — o peguei no colo e o mesmo sorriu.

Diego não estava em casa, não sabia onde ele poderia ter ido tão cedo mas não me importei tanto e fui preparar a mamadeira do Benjamin e para entretê-lo coloquei o mesmo na cadeirinha e mudei o canal para o de desenho.

Eu estava péssima, tanto psicologicamente quanto fisicamente. Os cabelos desgrenhados amarrando num coque bem no alto, vestia uma blusa velha grande com alguns machados e meu olho estava fundo e de ontem para hoje havia nascido uma espinha bem no meio da testa. Era domingo, formoso dia do tédio e o que me restava era passar o dia assistindo alguns filmes ou séries e no fim do mesmo pedir um lanche qualquer.

Quando a mamadeira do Ben ficou pronta, esfriei um pouco na água gelada até uma temperatura boa para que não queimasse sua boca. Diferente de muitos bebês, o desmame foi bem tranquilo e o Ben mal sentia falta do peito. Só chorou algumas vezes durante umas semanas, brincava com ele um pouco nessas vezes e ele simplesmente esquecia.

Passamos a manhã inteira juntos assistindo desenho, ele ficava bastante atento as cores e imagens e por mais que eu não estivesse bem tentava não refletir isso para meu filho aliás ele não tinha culpa de nada e ontem toda aquela gritaria tinha afetado ele.

Cada dia que passava o tempo ia encurtando, logo eu teria que ter minha decisão e isso poderia soar como qualquer coisa mas não era uma tarefa fácil. Sentar, expor essa oportunidade e falar como eu me sinto mediante a ela era muito difícil. Quando se tem uma família qualquer oportunidade se torna difícil.

E agora eu estava passando na pele o que era isso.

NÓS 2 | UM NOVO ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora