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Diego

Acordar todos os dias sem a presença deles estava me matando. Estava sentindo muita falta do meu filho aqui comigo e de toda madrugada acordar no susto com Manuela jogando a perna por cima de mim. A gente era uma família, apesar dos conflitos quando separada dói e muito.

Me levantei às seis e vinte da manhã, tomei uma ducha quente demorada e sai do banheiro me secando e vestindo minha calça social. Preparei ovos mexido, fruta acompanhado de um expresso para meu café da manhã e após terminar lavei tudo deixando tudo limpo e fui terminar de me arrumar. No caminho para a empresa eu escutava uma música na rádio bem baixa, admirava o céu azul com as nuvens branquinhas e dirigia tranquilamente pela avenida. Ao parar no sinal me estiquei até o porta luvas para pegar meus óculos de sol e algo caiu no chão.

— Droga! — olhei rápido para o sinal que ainda estava fechado e destravei o cinto para que conseguisse alcançar o que havia caído no chão.

Era uma foto em formato polaroid da Manu, um dia aleatório que fomos na praia e ela ainda estava grávida do Ben. Me lembrei como eu achava ela linda com aquele barrigão maior que ela e como ela ficou linda em toda gestação. Só voltei para a realidade quando escutei milhões de buzinas sendo tocadas pelo os carros que estavam bem atrás de mim.
O sinal já havia aberto e eu estava admirando ela esse tempo todo...

Ao descer do carro no estacionamento da empresa me dirigi para o elevador que me deixou no hall em segundos. Iria passar na recepção para checar se havia algo para mim
ou algo marcado já que minha secretária havia tirado licença maternidade e ainda não tinha a substituído.

— Para hoje uma reunião às 16h30, Senhor Guerra — disse sem tirar os olhos do visor.

— Obrigado!

Quando me virei dei de cara com Vanessa, ela era do setor do RH e de alguma forma ela tinha descoberto que eu não estava com a Manuela e que tínhamos dado um tempo. Nem ficando alguns dias afastado as pessoas deixavam de fofocar.

— Di! — mostrou entusiasmo ao me ver e eu forcei um sorriso.

— Oi, Vanessa — soltei um suspiro pesado e passei pela mesma em direção ao elevador.

— Como você está? Não te vi essa semana aqui na empresa...

— Deve ser porque a semana começou ontem!— resmunguei.

— Oi?

— Muitos trabalhos...

Apertei o botão do elevador e pedia desesperadamente para que ele chegasse logo.

— Quer almoçar comigo hoje? Vou ter que ir sozinha e você poderia me fazer companhia — tentou tocar na gola da minha camisa e a porta abriu dando passagem para eu entrar e assim desviar de suas mãos.

— Valeu pelo convite mas dispenso. Chama o Herrera talvez ele vá com você — as portas se fecharam.

Que mina chata, velho!

Adentrei a minha sala logo ligando o ar condicionado e me jogando na cadeira. Abri meu notebook, arrumei algumas papelada sobre a mesa e verifiquei o celular antes de começar a trabalhar porém não havia nenhuma mensagem importante. Suspirei ao ver o papel de parede do meu celular pois era nós três no último ano novo em angra e saudade, que não passava um segundo se quer, faltou só esmagar meu coração ou pelo menos tentar.

— Bom dia, lindo! — entrou na segurando sua paste e celular em mãos.

Olhei para Gabriel e dei meio sorriso e o mesmo que estava sorrindo continuou mas ao ver que não obteve respostas o desfez.

— Quanto ânimo...

— Não enche, Gabriel! — bufei.

— Calma, princesa. Vim só perguntar se você está bem.

— Tô.

Sabendo da realidade ele pegou suas coisas e já ia deixar a sala.

— E eles, estão bem? — perguntei meio sem jeito e com um nó na garganta.

Gabriel deu um sorriso fraco, como se tivesse esperando por essa pergunta e se virou para mim.

— Está sim, irmão.

Eu precisava ver meu filho, comecei a agilizar as coisas e ainda eram oito e dezessete da manhã então decidi que pararia algumas horas antes do almoço para ir ver Benjamin na casa de Gabriel.


[...]


O porteiro daqui ainda era o mesmo, mal havia chego e ele já veio abrir o portão do prédio para mim com um sorriso do rosto. Minhas mãos estavam soando, estava um pouco nervoso mas feliz que iria ver meu filho hoje. Apertei o botão do andar e esperei aquela caixa metálica me levar até o destino. Ao apertar a companhia, segundos depois escutei sua voz se aproximando e sem dúvidas algumas estava reclamando achando que fosse Gabriel que tivesse esquecido a chave.

— Você não leva nunca a chav...

Meu coração acelerou e seus olhos se arregalaram-se.

— Posso entrar? — ela deu espaço e eu adentrei.

Fui na direção do Ben que estava sentado no sofá sozinho assistindo desenho, nem acreditava que tinha perdido esse momento. Agora meu filho sentava sozinho e tentava se equilibrar também. Ele abriu um sorrisão e seus dois dentinhos estavam nascendo.

Cada dia que passava ele crescia mais e eu estava perdendo isso.

— Estão precisando de alguma coisa? — perguntei sem a olhar.

— Não. Estamos precisando de nada — disse baixinho.

Eu assenti e continuei com meu filho nos braços o balançando como ele gostava. Fiquei umas duas horas com Ben, sendo mais claro até ele cansar e dormir após um banho quentinho que o papai deu.

Antes de ir embora eu parei próximo a Manuela que estava com a mão na maçaneta e seu cheiro exalava por todo ambiente e aquilo estava me deixando maluco. Ficamos nos encaramos por alguns segundos até eu desviar o olhar.

— Bom, vou nessa. Talvez eu pegue o garoto no sábado, tudo bem pra você?

— Sim, claro.

Assim que eu deixei o apartamento senti sua mão tocar meu punho e meus pelos se arrepiaram.  Ela me olhou por alguns segundos como se quisesse falar algo e me soltou.

— Desculpa. Te espero no sábado.

Fechou a porta e eu segui o meu caminho. Por que as coisas tinham que ser assim? Por que não podiam ser diferentes? Eram tantas questões...

Eu fui criado sem uma base familiar, eu cresci sem saber o que era o carinho e o acolhimento de uma família mas quando Ben nasceu assim formando a minha família eu tomei para mim todo o senso familiar que eu sempre quis ter e nunca tive. Me lembro bem que na época eu me estranhei, uma sensação de proteger, se cuidar e principalmente de zelar por nós três sem medir esforços. Não sabia se aguentaria muito tempo tudo isso mas tinha medo de voltar atrás.

Por que ela tinha que esconder isso de mim? Logo de mim...

Eu só conseguia sentir falta da minha família, da família que nós construímos.

NÓS 2 | UM NOVO ACASOOnde histórias criam vida. Descubra agora