EPÍLOGO

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Por Vivian Avilla

      Levou muito tempo para que Julian se recuperasse totalmente. Cheguei até a achar que não conseguiria. Devo muito a Lia, que se manteve ao nosso lado naquele período de tantas reviravoltas. Quando fiquei sabendo da morte de Victor, decidi que já era hora de assumir a responsabilidade pela besteira que havia feito. É, eu não tinha ideia do que encontraria quando voltasse a Lelton, mas sabia que veria apenas as consequências de não ter pensado um pouco mais.

      Julian melhorou bastante nos anos seguintes. Tivemos que nos mudar daquela cidade, porque ele insistia em dizer que não tinha mais nada para nós ali. E, sinceramente, ele estava certo. Lelton era o suprassumo das nossas más lembranças. Ainda ficamos quase um ano por lá, mas os incontáveis pesadelos do meu filho e a piora da sua saúde mental só fez aumentar o meu desejo em sumir daquele inferno. Era rotineiro o encontrar sentado no chão do quarto, chorando, com uma foto da Chloe na tela do celular. Foram meses até que ele reagisse, sobretudo após a morte do velho Isaac, que tanto o ajudou oferecendo emprego e a sua própria casa para que ele se recuperasse. Daí em diante, Sheila nos ofereceu tratamento sem que precisássemos pagar. Ainda bem, porque na época eu ainda procurava um novo emprego e estava financeiramente quebrada.

      Dez anos se foram desde que eu retomei a vida com o meu filho. Concordarmos em nunca mais nos separarmos. Ele se animou a voltar a estudar. Terminou o ensino médio e tirou um ano sabático para aproveitar ao meu lado e refletir sobre o que fazer depois. Eu consegui um trabalho em Dante, nosso novo endereço, como editora de um jornal relativamente popular. Era mais do que suficiente para viver bem. Tentei convencer o danado a seguir no jornalismo comigo, assim como, se vivo, faria o seu verdadeiro pai, mas ele preferia química. Inclusive, ficou surpreso quando mostrei uma foto antiga de Francis e comentei sobre as suas semelhança com o pai. E até ele se rendeu! "Papai tinha o meu chame!", ele brincava.

      Confesso que meu antigo companheiro não gostava da ideia de eu ter um filho. Lembro de quando Julian me pediu para morar conosco, e o carrasco disse que não. Talvez sua opinião fosse parcialmente influenciada pelo fato de Victor ter ido bebado à nossa casa e lançado pedras sobre a janela, me chamando dos piores nomes possíveis. Ou talvez eu só não tenha muita sorte para homens mesmo. Eu errei tanto em não ter priorizado aquele que tinha o meu sangue, em deixá-lo sofrer tanto. Me culpo todos os dias. Meu Deus, ele era só um adolescente! Parando para pensar, talvez tudo o que se passava na cabecinha dele fosse de uma intensidade muito maior do que seria para outros, ou do que outros poderiam sentir. O modo como ele me descreveu os seus anos longe de mim, os perrengues, as perdas, as mortes. Fiquei por muito tempo sem saber o que dizer, mas me mantive ali, compensando o tempo que havia perdido, o apoiando em cada momento. Não foi fácil recuperar totalmente a confiança dele, mas eu não me importei. Acho que eu também ficaria arredia depois de ser abandonada pela minha mãe.

      Seguimos nosso caminho com muita sintonia. Julian realmente engatou carreira na química e disse que moraria comigo até o fim de nossas vidas. Embora deixasse claro que amava o mundo da escrita, da literatura, deixou que ela se tornasse um escape para quando estivesse mal ou quisesse se expressar. Ele se tornou um homem lindo, e não só na personalidade.

      Certo, talvez eu seja uma mãe coruja!

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