Capítulo 1

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ESTEFANO

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_ Poxa mãe! Hoje é o último dia de aula, ninguém vai pra escola no último dia de aula – reclamei cobrindo o rosto com o edredom.

_ Você não é ninguém, você é meu filho e filho meu não falta aula – rebate minha mãe já desligando o ar-condicionado e abrindo a janela para o sol entrar – cuida Estefano, vá tomar um banho.

Realmente filho da minha mãe não faltava aula, em todos os meus anos de estudo, posso contar nos dedos de uma mão as vezes em que faltei aula, e todas foram por motivo de doença, meneio a cabeça pensando na possibilidade.

_ Cof, cof – finjo uma tosse e passo o dedo no nariz simulando uma coriza.

_ Vai Estefano, você pode fazer melhor que isso – sorri minha mãe terminando de recolher minha roupa suja e jogando o uniforme da escola na minha cara – você tem 5 minutos pra estar na cozinha tomando café, ou vai sair sem comer.

_ Nenhum ser humano consegue tomar um banho decente em 5 minutos – questiono.

_ 5 minutos – grita ela do corredor.

Bufo, porque minha mãe parece uma mula de tão teimosa, uma característica que eu herdei, mas como é ela quem manda e desmanda na minha vida, eu não tenho escolha a não ser me levantar e ir me arrastando para o banheiro.

_ Que inferno – grito assim a água quente cai em mim, certeza que a Heloisa acabou de tomar banho, porque ela é a única que gosta de tomar banho com a água fervendo.

Assim que a água esfria volto a ficar embaixo do chuveiro, fecho os olhos e sinto a água escorrendo, é por isso que gosto de água gelada, porque posso me desligar de tudo, posso ter um momento só meu, posso esquecer-me dos problemas, ter paz, e eu duvido que a Heloisa possa ter um momento relaxante com a água a 100ºC.

_ 2 minutos – grita minha mãe batendo na porta.

_ Que inferno – grito de volta, por ser interrompido no meu melhor momento.

_ Garoto se você não sair daí agora vou te levar pessoalmente pro inferno – rebate minha mãe.

"Que inferno", grito mentalmente, que inferno na verdade é minha expressão preferida, e eu digo pra tudo que me desagrada, o que deixa a minha mãe bem irritada, porque ela é dessas pessoas que acham que atraímos tudo o que a gente fala.

_ Estefano não me tira do sério – ela grita mais uma vez.

O que me leva a acreditar na teoria dela, de que atraímos aquilo que falamos, e eu já estava realmente no inferno. Me enrolo na toalha e dou um sorriso forçado pra ela quando a vejo no corredor.

Jogo a toalha no chão assim que tranco a porta do quarto, vejo meu reflexo no espelho do guarda-roupa, eu odeio esse guarda-roupa por causa desse espelho que é maior que eu, quem que precisa de um espelho desse tamanho? Demoro um pouquinho me analisando nu, me viro de lado pra ver o tamanho da minha bunda, mixuruca, mas também o que eu esperava tendo esse corpo que tenho? Magro, as costelas aparecendo, as pernas que não sabe onde termina canela e começa coxa, pelo menos sou salvo pelo rosto, um pouco, tenho traços delicados, quase femininos, olhos azuis e cabelos fininhos quase loiros, que vivem bagunçados, na orelha direita uma argolinha pendurada no lóbulo e um piercieng transversal. Pronto eu me contentaria com um espelho que fosse do tamanho apenas do meu rosto.

Visto meu uniforme com pressa e saio em direção à cozinha, antes que a louca da minha mãe resolva bancar o coelho da Alice mais uma vez. Como de costume já estão todos na cozinha tomando café e conversando sobre o último episódio da novela.

DEPOIS DE TODO ESSE TEMPO?Onde histórias criam vida. Descubra agora