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O livro gasto descansava de um lado da mesa marrom. Já tinha passado o olhar pela tinta fraca de suas páginas diversas vezes, mas depois de tudo, era a única coisa que lhe resta a na tentativa de fazer algo levemente divertido.

O som da televisão à sua frente podia ser ouvido como um murmúrio constante e irritante, e a comida em sua boca era insípida.

Realmente detestava hospitais.

Desejou poder antecipar a hora de sua morte, já que, no fundo de seu ser sabia que essa seria a única escapatória da sua prisão de tristeza.

Mal conseguia se mexer, mas ainda respirava de forma confortável.

Cada segundo era torturoso.
Estava fisicamente esgotado pelos vários medicamentos e mentalmente por ter que unir forças para se manter firme ante o olhar de expectativa do médico, junto aos corações rachados de seus pais ao ouvir o mesmo dizer “nao vou fazer a cirurgia”

Todos pareciam esperar que ele vivesse, mas para quê?
Estaria vazio, seria julgado novamente como antes de conhecer seu príncipe.
Uma vergonha, incapaz de seguir as normas de uma sociedade construída estritamente sob o conceito de romance.

Apenas não se encaixava, e já não tinha mais nenhum desejo de se encaixar.

Pelo menos uma vez, uma única vez, queria ser capaz de decidir.
Mesmo que fosse sobre um tópico tão difícil quanto era a sua própria morte.

Ouviu o som familiar da porta se abrindo, como de costume nos últimos dias.
Sua privacidade não existia naquele quarto, onde médicos e enfermeiras constantemente o perseguiam como sombras de seus piores pesadelos. Mesmo antes de ir dormir, sempre haveria alguém disposto a insistir, a dar-lhe algumas conversas motivacionais que mais tarde teria um efeito inverso e gerasse ainda mais desejo de falecer do que entusiasmo pela vida.

Tentou se virar para ver quem era, pronto para mandá-lo embora, mas não conseguiu, porque no momento em que se moveu ligeiramente seu tronco inteiro começou a queimar.
Algumas lágrimas solitárias exploraram suas bochechas e sentiu como o desejo de tossir começava a se acumular em seu peito.

-R-riki?

A voz de Hayato foi como uma carícia, mas também um inferno.

Não sabia como, mas sendo ainda mais forte do que toda a dor que lhe percorria dos pés a cabeça, conseguiu levantar-se, e quando o fez, pétalas azuis começaram a brotar de sua boca, enchendo sua cama como pequenas gotas de chuva.

Wildflower | Hanahaki FicOnde histórias criam vida. Descubra agora