Capítulo 2

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IRENE POV'S

Eu admirava a paisagem do lado de fora com um leve sorriso no rosto, as árvores verdes com flores de diversas cores se faziam bastante presentes. Quando você passa muitos anos da sua vida presa, tudo se torna lindo quando você sai, era exatamente o que estava acontecendo comigo.

Eu estava livre depois de muito tempo, por mais que eu ache que deveria ter ficado mais tempo, eu estou feliz por finalmente ter ganhado uma chance de recomeçar, mas eu sei que não vai ser difícil.

Agora o senhor Lee Deok-hwa estava me levando de volta para minha casa. Não é a mesma casa em que eu... bem... cometi crimes, aquela casa me trás lembranças ruins. Durante todo o meu período presa, o senhor Lee cuidou de todas as minhas finanças e comprou uma casa menor para mim, ele disse que não é nada muito luxuoso mas apenas o suficiente pra eu me sentir confortável. Apesar de tudo que fiz, o senhor Lee nunca saiu do meu lado um segundo, ele é como um pai pra mim, um pai que eu nunca tive.

Durante o retrovisor, percebi que o senhor Lee me olhava enquanto prestava atenção na estrada.

— Como você está menina? — O mais velho perguntou.

Me remexo no banco e ajeitei a minha postura.

— Acho que não sou mais uma menina, tenho 33 anos agora. — Respondi dando uma risada tímida, era engraçado vê-lo me chamando de menina. — Eu estou... bem. — Digo dando um suspiro.

— Pra mim você será pra sempre uma menina. — Deok-hwa dizia calmamente. — Fico feliz que esteja bem.

Tento dar um sorriso convincente e logo me debruço na janela novamente.

— A casa é bonita? — Pergunto enquanto vejo as gotas de chuva caírem aos poucos.

— É do seu gosto senhorita Irene.

— Ótimo. — Dou um sorriso satisfeita, pois o senhor Lee sabe qual é o meu gosto, ele me conhece desde quando eu nem me conhecia direito.

Viramos em mais uma esquina e o que parecia ser uma cafeteria me chama a atenção. Não consegui ver muito bem o nome mas reparei que a cafeteira era toda branca e parecia muito confortável, pelo visto é perto da minha casa então vou ir andando, eu só preciso tomar coragem pra isso.

Então logo chegamos a minha nova casa, o senhor Lee estacionou bem em frente e devo dizer que é perfeita pra mim.

Na entrada tinha uma pequena árvore, e já dava pra ver a garagem do andar de cima, no canto esquerdo ficava a porta de entrada e bem na frente uma graminha com umas pedras pra pisar, parecia ser muito aconchegante e perfeita para uma pessoa só.

— A chave do carro senhorita. — Deok-hwa se aproximou chamando a atenção enquanto me dava a chave do carro e me curvei agradecendo. — Eu estou indo agora, qualquer coisa que precisar pode me chamar. A compra do mês já está feita e a casa limpa. — Dizia com um sorriso leve no rosto.

— Obrigada senhor Lee, nem sei como agradecer. — Digo sincera.

— Você vai estar me agradecendo se cuidando criança, fica atenta com essas pessoas desocupadas com câmeras. Se alguém tentar alguma graci-

— Senhor Lee, quem teria coragem de se aproximar de uma ex presidiária que foi presa por tentativa de assassinato e tentativa de sequestro? Estão com tanto medo de mim que eu realmente não sei como vai ser daqui em diante. — Falo cruzando os meus braços preocupadas, tudo o que eu disse é verdade.

— Você errou e pagou por todos os seus erros Irene, você agora é mais uma pessoa nesse mundo que está recomeçando e que merece mais uma chance. — O senhor Lee dizia em um tom de voz mais sério. — Tente não ligar para o que vão comentar de você nesse momento.

Apenas assenti com a cabeça e um sorriso forçado no rosto. Por mais que eu quisesse que fosse assim, não é, e não tem nada que eu possa fazer pra mudar isso.

[...]

Depois de um belo banho e de uma janta reforçada, decido sentar para assistir televisão, é até estranho dizer isso.

Assim que boto em um canal qualquer de notícias, logo me arrependo pois a primeira coisa que eu vejo é o meu rosto.

Estamos aqui no centro de Seul e vamos entrevistar os moradores perguntando o que eles acham sobre Bae Joohyun ou Irene, ter sido solta hoje. — O repórter dizia.

Eu já estava pronta para mudar de canal porque sei que não vai dar certo, eu sei o que eu vou escutar. Mas ainda sim a ponta de esperança de escutar algo... não bom, mas considerável, falou mais alto. Só estou seguindo o que aprendi na terapia, não ignorar os meus sentimentos, sejam lá quais eles forem.

Eu acho que ela deveria ter ficado mais tempo presa, o que ela fez foi horrível. Com certeza as pessoas que foram afetadas por ela devem estar com medo agora. — Uma mulher disse enquanto segurava o microfone.

Por mais que doa, é a verdade.

Se ela cometeu esses crimes uma vez, nada muda a minha idéia de que ela possa fazer novamente, e novamente, eu agora estou com medo de andar na rua sabendo que uma pessoa assim está solta por aí. — Agora um homem disse e eu senti o meu peito apertar, eu tento compreender mas ainda fico magoada que as pessoas pensam assim, mas é aquilo, eu não os culpo.

Bem... ela passou bastante tempo presa né? 11 anos é bastante coisa e pelo o que eu soube ela também fez terapia, acho que ela aprendeu com os erros e agora só está tentando recomeçar, eu acho... — Uma velinha dizia simpática enquanto olhava pra câmera.

Eu gostei de ter ouvido isso, acho que foi a primeira vez até agora que alguém não apontou o dedo na minha cara e disse coisas que não me machucaram.

Desligo a televisão assim que a outra pessoa começa a falar, eu já tinha escutado demais. Levantei do sofá e andei em direção ao meu quarto, eu iria me preparar para dormir, hoje o dia foi... cheio. Vi na previsão do tempo e amanhã vai fazer bastante frio, o tempo perfeito pra um café, eu estou pensando se devo ir naquela cafeteria que vi hoje, é aqui na esquina, não é muito longe e da para ir andando.

O problema são as pessoas, e os olhares de julgamento vão me deixar desconfortável, talvez eu não seja bem atendida, pra ser sincera, acho que vou ser chutada da cafeteria.

Odeio todo esse sentimento, mas eu não posso fazer nada, apenas esperar que as pessoas esqueçam, até porque existem pessoas que fizeram muito pior que eu. Acho que eu não deveria estar pensando assim pois está sendo egoísta da minha parte? Eu não sei, mas em parte... acho que é isso.

[...]

Deitada, fecho os meus olhos e tudo o que aconteceu até agora passa pela minha mente e sinto vontade de chorar, tento ser forte e apenas esquecer mas é totalmente falho. Fico pensando por um tempo e os meus olhos começam a pesar, e assim, adormeço na esperança em que amanhã seja um dia melhor.

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