1- O Sopro da Anormalidade.⚡

938 43 3
                                    

— CAPÍTULO UM —

O Sopro da Anormalidade.

O Sr. e a Sra. Dursley se orgulhavam de viver uma vida de impecável normalidade. Eram o tipo de pessoas que faziam questão de evitar qualquer coisa que pudesse ser considerada estranha ou misteriosa, repelindo com fervor qualquer sombra de bizarrice que pudesse ameaçar seu mundo de rotina e previsibilidade.

Os Dursley tinham tudo o que consideravam necessário para sustentar essa fachada de perfeição. No entanto, escondiam um segredo profundo, um medo silencioso que os atormentava diariamente. A ideia de que alguém pudesse descobrir a verdade sobre os Potter fazia seus corações dispararem de terror. Para a Sra. Dursley, a existência de sua irmã era um assunto banido, varrido para debaixo do tapete da respeitabilidade. A irmã e o marido dela eram o antônimo daquilo que os Dursley se esforçavam tanto para ser — e isso os enojava.

A mera possibilidade de que os Potter pudessem aparecer na sua vizinhança era suficiente para fazê-los suar frio. O que os vizinhos pensariam se aqueles... indivíduos... se aventurassem por sua rua imaculada? E havia as crianças, claro. Os Dursley sabiam que os Potter tinham dois filhos, embora nunca os tivessem visto. Essas crianças, pensavam eles, seriam a última coisa com a qual queriam que seu Duda, seu precioso e perfeito Duda, se envolvesse. Não, era absolutamente impensável permitir que se misturasse com crianças como aquelas.

Quando o Sr. e a Sra. Dursley despertaram naquela terça-feira pálida e opaca, que marcava o início de nossa história, o Sr. Dursley cantarolava baixinho, de uma forma quase mecânica, enquanto escolhia a gravata mais insípida do seu guarda-roupa. A Sra. Dursley, por outro lado, conversava alegremente ao telefone, a voz um pouco mais aguda do que o habitual, enquanto se esforçava para encaixar o pequeno Duda, que berrava com toda a força dos seus pulmões, na cadeirinha alta. Nenhum deles percebeu a coruja parda que passou voando rente à janela, suas asas batendo com um ritmo inquietante.

Às oito e meia, o Sr. Dursley pegou sua pasta, deu um beijo apressado no rosto da Sra. Dursley e tentou fazer o mesmo com Duda. No entanto, a tentativa foi frustrada, pois o menino, em meio a um ataque de fúria, lançava seu cereal contra as paredes com uma precisão perturbadora.

— Pestinha. — Murmurou o Sr. Dursley, forçando um sorriso enquanto saía de casa, algo na sua voz revelando mais desconforto do que ele gostaria de admitir.

Ele entrou no carro e deu marcha à ré para sair do número quatro, o motor ronronando suavemente, como se tudo estivesse absolutamente normal. Mas foi na esquina da rua que o primeiro sinal de que algo fora do comum estava acontecendo se apresentou – um gato, sentado de forma quase humana, parecia estar lendo um mapa. Por um breve instante, o Sr. Dursley não entendeu o que seus olhos viam e virou rapidamente a cabeça para olhar de novo. Agora, lá estava o gato, de listras amarelas, sentado na esquina da rua dos Alfeneiros, mas o mapa havia desaparecido. Em que estava pensando? Devia ser algum truque de luz, uma ilusão momentânea. Ele piscou com força, tentando ajustar a visão, e encarou o gato de volta. O animal, imóvel, retribuiu o olhar com uma intensidade perturbadora, como se soubesse de algo que o Sr. Dursley não sabia.

Enquanto o carro fazia a curva e subia pela rua, ele espiou pelo retrovisor, esperando ver o gato se afastando ou fazendo algo mais comum. No entanto, o gato continuava ali, sem se mexer, mas agora parecia estar lendo a placa que indicava “Rua dos Alfeneiros”, com uma atenção que parecia quase humana.

Gatos não eram criaturas capazes de ler mapas ou placas de rua, pensou o Sr. Dursley, balançando a cabeça como se pudesse espantar aquela imagem de sua mente. Durante o trajeto até a cidade, ele se concentrou apenas no grande pedido de brocas que esperava receber naquele dia.

Uma Potter - 1° LivroOnde histórias criam vida. Descubra agora