— CAPÍTULO DOIS —
Quando Até as Cobras Têm Algo a Dizer.
Naquele instante, o maldito telefone tocou e a tia Petúnia foi atender. Eu, o Harry e o tio Válter estávamos lá, olhando enquanto o Duda rasgava os embrulhos de todos aqueles presentes que ele nem merecia. Tipo, uma bicicleta de corrida, uma câmera de vídeo, um aeromodelo com controle remoto, uns dezesseis jogos de computador, e ainda por cima, um gravador de vídeos. Ele estava lá, todo pomposo, tirando o plástico de um relógio de ouro. Que inveja ridícula que eu senti! Eu odeio sentir isso, sério mesmo. Mas o Duda é tão patético que nem sei como ele aguenta ser ele mesmo.
Tia Petúnia voltou do telefone parecendo ao mesmo tempo zangada e preocupada.
— Más notícias, Válter. A Sra. Figg fraturou a perna. Não pode ficar com eles. — Ela indicou meu irmão e eu com um gesto brusco de cabeça.
Duda ficou com cara de espanto, como se tivesse visto um fantasma ou algo assim, e meu coração quase saiu pela boca. Todo ano, sem falta, no aniversário do Duda, meus tios faziam questão de levá-lo para alguma porcaria de parque de diversões, ou para entupir a cara em lanchonetes, ou então para assistir a filmes idiotas no cinema. E, adivinha só? Todo santo ano, eu e Harry éramos jogados na casa da Sra. Figg. Uma velhota esquisita que morava ali perto. Sério, a gente odiava aquele lugar. A casa inteira fedia a repolho, e ela tinha mania bizarra de nos mostrar fotos de todos os gatos que já tinha tido. E eram muitos, pode acreditar.
— E agora? — Perguntou tia Petúnia, sua voz carregada de fúria, como se a culpa fosse nossa.
E agora? Bom, agora vocês podiam muito bem dar as mãos e explodir juntos. Sério, seria um alívio pra todo o mundo. Mas como eu sei que, infelizmente, esse tipo de coisa só acontece nos meus sonhos, o que eles "podiam" fazer era nos deixar aqui quietos. Assim, eu podia mexer no computador de Duda e comer o que me desse na telha, sem ninguém pra encher o saco.
Olhei pro meu irmão, que estava com uma cara séria, mais desanimada do que o normal. Então, coloquei a mão no ombro dele, meio que tentando ser solidária ou algo assim. Ele me olhou de volta e deu um sorriso de leve. Um daqueles sorrisos que não dizem nada, mas que, de alguma forma, dizem tudo ao mesmo tempo.
E eu entendia ele, sabe? Não só porque éramos gêmeos, mas porque a gente tava no mesmo barco furado. Uma vida chata pra burro, onde a gente nem podia ser criança de verdade. Era aquela mesmice sem fim, como se tudo estivesse meio que condenado desde o começo. Eu não tô exagerando, era quase insuportável. Tipo, a gente mal tinha motivo pra se animar, sabe? Uma vida que parecia uma droga, pra ser sincera.
— Podemos ligar para a Guida. — Sugeriu tio Válter, sem muita convicção.
— Não diga bobagens, Válter. Ela detesta essas crianças. — Retrucou ela, com um desdém que fazia meu sangue ferver.
Os Dursley viviam falando da gente como se nem estivéssemos ali. Tipo, como se fôssemos invisíveis ou, sei lá, algo nojento que não merecia atenção, tipo uma lesma ou qualquer coisa do tipo. Sério, era ridículo. Dava uma vontade de mandar todo mundo pro inferno. Me irritava de um jeito inexplicável.
— E aquela sua amiga, como é mesmo o nome dela... Ivone? — Perguntou ele.
— Está passando férias em Majorca — Respondeu Petúnia, com rispidez cortante, como se a simples menção à amiga fosse um insulto.
Harry arriscou, com uma centelha de esperança em sua voz:
— Vocês podiam nos deixar aqui.
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Uma Potter - 1° Livro
FanfictionEm um mundo onde a magia se entrelaça com segredos obscuros, Harry Potter, o garoto que sobreviveu, enfrenta desafios. Mas ele não está sozinho. Harper, sua irmã gêmea, é uma alma inquieta, uma rebelde que despreza as regras do mundo bruxo e busca...