cap 1: dia comum

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O despertador tocava a mais de 10 minutos fazendo um barulho chato e irritante cobrir o quarto. Eu me contorcia no colchão sem querer se levantar, entretanto sabia que se demorasse mais um pouco acabaria perdendo o ônibus. “ Quem liga pra ônibus afinal? Fodase a escola “ pensei enquanto enrrolava pra desligar aquele barulho irritante.
Mas meus planos foram interrompidos quando escutei ao invés do barulho do  despertador o som do meu celular tocar indicando que alguém estava ligando. Se levantei  rapidamente após ouvir aquele som, já sabia quem estava ligando e isso só me fez ficar mais medroso ainda.

– oi Franz...

– oi é o caralho, cadê tu seu idiota? Já tô aqui na entrada do morro esperando a bela adormecida chegar a mais de 20 minutos. –  gritou Franz do outro lado da chamada.

– 5 minutos eu tô aí – falei  calmante, desligando a chamada antes do meu amigo começar a reclamar mais.
Peguei a primeira roupa que vi pela frente e vesti, não iria perder tempo procurando minha farda, não quando tinha um Franz bolado me esperando. Desci as escadas de casa pegando minha bolsa no caminho e se despedi de minha mãe e meus irmãos mais novos.

Corri pelas ruas e alguns becos e logo cheguei nas escadas vendo Franz escorado na parede de braços cruzados me encarando feio.
– resolveu aparecer foi? – desfez os braços e veio caminhando em minha direção. Pode não parecer mas mesmo com toda essa reputação e carinha de bravo eu sei que ele estava preocupado com o motivo do meu atraso.

– aconteceu alguma coisa? – perguntou olhando diretamente na minha cara. Dei de ombros e soltei um sorriso envergonhado.

– nem, não queria ir pra escola – respondi rindo da sua cara de indignação e corri em direção as escadas sendo acompanhado por ele – não acredito que está sem farda – diz apontando pra minha roupa que obviamente não era o uniforme da escola.

– nem é grande coisa, eles deixam entrar de qualquer jeito mesmo – dei de ombros novamente, amo o jeitinho que ele se preocupa com isso de regra escolar, mesmo que nem mesmo ele cumpra elas ( botar funk no meio da aula não me parece algo muito ético de se fazer ) mas eu realmente admiro como ele faz de tudo pra ser o certinho, os professores amam ele por isso.

A gente se conhece um bocado já, eu tinha uns 7 anos quando nois virou amigo. Ele era uma criança problemática ( até hoje é na verdade ) se metia em encrenca toda hora e até os cara do ensino médio tinha medo de brigar com ele. Aí a gente se conheceu né, na verdade a gente não se gostava muito não, nois vivia brigando e se comendo no tapa mas nada que uma fofoca não resolva. Eu lembro que a gente odiava o mesmo muleke e por isso se aproximamo, a gente ficava fofocando no meio da aula sobre o cara e fizemos até baixo assinado pra fazer o diretor expulsar ele da escola ( até hoje a gente não sabe o motivo de tanto ódio mas a gente era criança né? Isso não importava muito ) e nesse vai e vem a gente tem uns 8 anos de amizade, muita coisa né? Tempo suficiente pra eu saber que ele tá doido pra brigar comigo por minha “irresponsabilidade escolar” como ele chama.

A gente tava indo em direção ao ponto de ônibus pra subir ladeira e chegar na escola,o único problema era que eu tinha esquecido o dinheiro da passagem. Muita gente pergunta porque a gente não vai no transporte escolar como os outros alunos, bem, eles não quiseram vir buscar a gente por causa do local ser “perigoso” para se aproximar. Não tiro a razão deles mas poxa, o alemão não é tão assustadora assim, pelo menos pra mim não.

Ainda preocupado com o dinheiro da passagem peço ao meu incrível, lindo e maravilhoso amigo para pagar por mim, coisa que ele fez muito a contragosto e com uma cara irritada.
– hum, você só não esquece a cabeça porque tá colada no corpo – resmungou enquanto dava o dinheiro para o frentista.

os burgueses da zona sul ( Lebre E Coelho )Onde histórias criam vida. Descubra agora