Capítulo 2 - Papai, eu matei alguns homens

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Betina tinha as mãos sobre a cabeça, tentando se proteger dos tiros, dos gritos, do sangue jorrado em sua cara.

- Fique abaixada. - Fábio sussurrou no ouvido dela.

Betina tirou a mão do ouvido e pegou a dele.

- Onde está Lana? - Ela falou.

- Com Atlas e Thalia. - Fábio a rodeou com um braço - Vamos, pelo chão.

Uma porta de vidro foi estilhaçada ao lado deles, e Fábio grunhiu ao ter seu braço atingido.

- Vamos, vamos! - Ele puxou Betina.

Fábio abria o caminho para eles, rastejando entre cacos e corpos.

Dez metros.

Os gritos se tornavam mais silenciosos, e os tiros mais ressoantes.

Um homem se jogou contra um dos invasores armados, tentando salvar uma mulher da bala.

Eles se embolaram, e as metralhadoras viraram em suas direções, furando-o como uma peneira.

O ar de Betina faltou, e Fábio a puxou com um pouco mais de força.

E se fez um silêncio ensurdecedor.

Não haviam gritos.

Não haviam gemidos.

Não haviam tiros.

- Quieta. - Fábio sussurrou no ouvido de Betina.

Ele a puxou a cunhada um pouco mais perto de si, escondendo-a com seu corpo, ambos tentando se manter imóveis, o mais quietos possíveis.

Lana apertava as unhas contra os dedos, lágrimas escorrendo.

Atlas tinha uma mão firmemente no pulso dela, impedindo-a de se mover e correr para as duas pessoas que ela mais amava no mundo.

Silêncio.

Betina ouvia o coração bater em sua cabeça.

Passos.

Quebrando o vidro já estilhaçado, se aproximando, convidando-a para abraçar seu fim.

Fábio apertou os dedos ternamente sobre o braço de Betina.

Chutaram um corpo ao lado deles, rindo-se de seu corpo desconfigurado.

Uma mulher gemeu, e um tiro lhe tirou o último sopro de vida.

Betina, ainda imóvel contra o chão, começou a mover os olhos ao redor, fixando-se na metralhadora derrubada no chão pelo homem que havia se jogado na frente da mulher.

A cinco passos de distância.

- Diga à sua irmã o quanto a amo. - Fábio sussurrou, e começou a se mover.

- Ei, desgraçados!

Fábio paralisou e Betina sorriu ao ouvir a voz dela.

- Mahina! - Nicolas gritou, tentando alcançá-la sem sair de seu esconderijo de concreto - Volte aqui!

Mahina não virou a cabeça para ele, procurando os olhos da melhor amiga com os seus.

- O que acham que estão fazendo com minha cidade?

Atordoados com sua audácia, os mascarados viraram-se para ela, apontando suas miras, prontos para furá-la.

Ela tinha as mãos acima da cabeça e o olhar divertido.

- Boa sorte. - Mahina sussurrou.

Suas covinhas afundaram-se em uma gargalhada solta, e ela se jogou no chão no instante em que a saraivada de tiros cortou seus agressores em dois.

A Canção da PenumbraOnde histórias criam vida. Descubra agora