Capítulo 16 - A semente da desconfiança

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Alethea mirou na cabeça do duque mas não conseguiu se obrigar a atirar. Abaixou a arma na direção do ombro, prevendo que ele acabaria soltando a adaga, e daria tempo para alguém intervir.

Ela segurou a pistola com mais força. O conselheiro Ethan a notou, e arregalou os olhos . Será que pensava que o alvo dela era o rei? Aquilo chamou a atenção do duque. Ele estava prestes a se virar na direção dela, quando Alethea atirou.

A bala atravessou as camadas de tecidos até chegar na carne, o homem gritou com a dor. O rei Henrique agiu rápido, arrancando a adaga das mãos do duque. Às vezes, Alethea se esquecia que o rei tinha sido um soldado e sabia lutar tão bem quanto qualquer guarda.

Ninguém se mexeu quando o rei levantou da cadeira, a fúria transparecendo nos olhos. O duque segurava o ombro no local em que a bala o tinha atingido, sangue já manchava seus dedos.

O rei acertou o rosto do velho com um soco que o fez cair no chão.

- Por que? - o monarca o olhou de cima. A adaga na mão, pronta para ser cravada no corpo do traidor.

- Você nunca quis mais Henrique? - cuspiu - Enquanto os outros reinos marcham conquistando novas terras, você parou no tempo se contentando com essa faixa de terra. Erbrook é fraca porque é governada por um rei fraco.

- Você acredita mesmo nisso? - o rei o olhou com curiosidade - Onde está a sua esposa e filhas agora? - o duque paralisou, confirmando as suspeitas do rei - Três prisioneiras chegaram em Paris há alguns meses. Não conseguimos identificá-las na época, mas agora eu sei quem são. Eu poderia ter tentado resgatá-las, trazê-las de volta em segurança se você tivesse vindo até mim. - ele apontou a adaga no rosto do homem - Você não é mais o duque de Beaune, não é mais nada, e vai morrer sabendo que sua família perdeu tudo por sua causa.

- Ele ia matá-las, eu não tinha escolha. - o duque retrucou, mas continuou com a expressão feroz. Não se renderia nem na morte.

- Você escolheu os franceses achando que Erbrook não tinha chances de ganhar essa guerra, e você estava errado. É uma pena que nunca verá Erbrook se levantar de novo, Martin.

- Henrique...

Alethea fechou os olhos quando o rei usou a adaga do homem para cortar-lhe a garganta. O duque de Beaune morreu a poucos metros de Alethea, engasgado com o próprio sangue.

- Saiam! - o rei berrou - Todos vocês.

Com uma traição daquelas partindo do seu próprio conselho, não havia lugar seguro para o rei de Erbrook, não havia em quem confiar. E o duque ainda disse que outros estavam ao seu lado. Quem quer que fosse, foi esperto o bastante para ficar calado.

Alethea levantou com as pernas trêmulas. Tinha de admitir que esperava pelo menos um olhar de agradecimento por parte do rei.

Ela se espremeu entre os outros homens na sala de guarda, que ligava os aposentos do rei com a sala do Conselho. Os sons da batalha travada nos corredores do palácio, eram ainda mais altos naquele cômodo.

Alethea ficou olhando para a porta por um longo tempo, desejando ver rostos conhecidos. Ainda segurava a pistola, inútil sem munição. Ela cogitou pedir uma bala para um soldado, mas achou provável que eles lhe tirassem a pistola das mãos, e ela gostaria de guardar aquela arma. Não era boba, sabia que tinha acabado de salvar a pele do rei naquela sala. Bom, isso se os soldados nos andares de baixo conseguissem impedir os inimigos de chegarem até ali.

Seus ombros doíam com a tensão. Qualquer barulho mais alto a fazia achar que a sala estava sendo invadida. Ela lutaria com o que quer que estivesse em seu alcance, lutaria por sua família, e provavelmente morreria no processo. Pagaria qualquer preço para manter os Falks seguros.

O Conselho do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora