Naquela manhã eles receberam uma carta de Beaune, Thomas já estava marchando com alguns soldados para o ponto de encontro com o rei Luís da França. Nem Alethea ou Filipe conseguiram se concentrar em outra coisa. Ficaram sentados nas poltronas do quarto de Oscar, encarando a janela como se a qualquer momento Thomas fosse surgir no jardim.
O palácio voltou a ficar movimentado depois que Filipe soltou os competidores, e os membros do conselho voltaram ao trabalho. Com a senhora Laurent aprisionada, não deveria haver mais ameaças à vida de ninguém. Mas nenhuma das pessoas se animaram para usar o salão de jogos ou de bailes, não com a notícia do rei ainda acamado. Todos mantinham a discrição, as vozes baixas e as roupas escuras em luto pelo homem doente.
Apesar de não ser ele a tomar o Male, Filipe parecia cada dia mais enfermiço. A responsabilidade do reino não caíra bem em seus ombros, por isso ele nunca a havia almejado. Ficar parado, esperando notícias e lidando com nobres ofendidos, era um pesadelo. Ele preferiria comandar o exército pessoalmente.
Ao seu lado, Alethea já tinha roído todas as unhas de uma das mãos, o livro aberto no colo estava parado na mesma página há muitos minutos. Oscar cochilava na cama, a respiração profunda como se tivesse cansado depois de dar a volta no palácio correndo, quando na verdade, nem tinha levantado da cama desde que foi despertado dos efeitos do Male.
- Eu lhe imploro, vamos fazer alguma coisa - Filipe sussurrou para Alethea.
- Você não tem assuntos do reino para resolver?
Ele bufou e afundou mais na cadeira.
- A morte seria mais misericordiosa. E se fizermos tiro ao alvo com as armas que eu construí?
- Não. - Aquele barulho ensurdecedor deixava Alethea louca.
- Por favor. - ele implorou.
-Não.
-Alethea.
-Não!
Ela abriu o compartimento da arma e colocou as balas como Filipe a havia instruído. O alvo era uma maçã sobre o tronco de uma árvore cortada. Alethea levantou desajeitada a arma, o cano maior do que seu braço dificultava o manuseio.
- Você não teria uma pistola consigo, não é?
Filipe a olhou de cara feia.
- É claro que tenho, mas a arma que você segura é mais eficiente.
- Eu não concordo.
- Você entendeu a parte que eu tenho uma pistola?
Alethea o ignorou, e foi para a marcação de giz no chão, tentando achar a melhor maneira de segurar o cabo de madeira da arma. Ela tomou fôlego antes de apertar o gatilho de metal, e quase caiu para trás com o recuo da arma.
Filipe engasgou, tentando não dar risada.
- Você não me disse que deveria passar concreto nos pés.
- Tem certeza de que foi você que acertou o duque? - ele pegou a arma das mãos dela. Alethea tinha errado a maçã por muitos metros.
Quando Alethea desceu para o jantar no grande salão, Filipe já ocupava o lugar do rei na ponta da mesa. Ele fez um gesto para que Alethea se sentasse no lugar próximo ao dele. Ela foi hesitante até a cadeira que pertencia à Rainha Amélia.
- Ele está voltando. - Filipe mal esperou ela se acomodar. - Deve chegar em algumas horas.
Alethea não prestou atenção no sabor da comida daquela noite. Engoliu a massa e o vinho depressa, e esperou impaciente a carruagem de Thomas adentrar os portões. Eles o recepcionaram na entrada, como haviam feito com Filipe, quando ele chegou da viagem de Edimburgo.
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O Conselho do Rei
FantasiaPara Alethea se tornar Conselheira do Rei significa mais do que poder, é a chance de alcançar a sonhada independência. Disputando a vaga no Palácio de Erbrook com outros nobres, ela logo descobre que a competição não é nenhum pouco justa, pois algu...