tudo naquela casa me incomodava. aquele ambiente não era nada acolhedor, me sentia constantemente observada e rodeada por pessoas mesmo estando claramente sozinha. eu odiava viver ali.
o bairro era ainda pior! crimes cruéis causados por traficantes ocorriam com bastante frequência próximo a minha residência, era um terror constante.
mas eu era uma criança. eu não entendia o motivo de me sentir assim, não entendia o porquê de tanta maldade presente num local tão pequeno. entendia menos ainda o fato de não estar me sentindo sozinha numa casa vazia.
meus pais, como sempre, haviam ido trabalhar e o meu irmão passava o dia inteiro na creche. essa rotina acontece desde que completei 7 anos de idade, o que me fez acostumar com a ideia de estar sozinha... até nos mudarmos para aquela casa.
passos, vozes e barulhos na cozinha eram coisas que escutava frequentemente de madrugada. sentia muito desconforto por meu quarto ser de frente para a cozinha e para o banheiro também. tinha a sensação que as "coisas ruins" ficavam nesses locais.
por conta desses fatores, comecei a pesquisar sobre o assunto, para entender o motivo de eu me sentir assim, ou o que eu poderia fazer para resolver.
durante essas pesquisas, acabei me enfiando num universo completamente bizarro. creepypastas, lendas, feitiços, espíritos, brincadeiras ocultas, rituais proibidos e tudo mais. foi chocante.
não havia muita coisa que eu pudesse fazer além de rezar todas as noites pedindo para que deus me protegesse, o que nunca aconteceu.
meus pais não eram cristãos rígidos, mas são o suficiente para trejeitar qualquer prática não-cristã. ou seja, todos os métodos que eu tinha lido que poderiam me ajudar não pode ser executado.
todas as noites eu implorava pra deus levar todas as coisas ruins que haviam na minha casa para outro lugar. não aguentava mais sentir angústia ao voltar pra casa. não aguentava mais me sentir insegura na minha própria moradia.
eu já não sabia mais o que fazer. conversei com minhas amigas sobre isso na escola e elas souberam menos ainda como resolver. uma situação difícil.
viver ali era uma constante sensação de perigo, que algo de repente iria aparecer para te buscar. o inferno na terra.
foram muitos anos assombrada. eu já estava "me acostumando" com o ambiente sombrio em que estava inserida, me conformando com tudo.
não tem como piorar... certo?
eu estava tão errada.
[...]
era uma noite chuvosa. estávamos todos nos preparando para dormir, como sempre.
eu sentia do fundo da minha alma que algo estava errado, que algo iria acontecer. tentei deitar na cama e esquecer isso tudo, mas era impossível. minha barriga gelava, meu coração acelerado. a luz do abajur piscando pelo mal-contato.
comecei a rezar novamente, implorando para que tudo ficasse bem, que deus não deixasse nada de ruim me pegar.
meus olhos não desviavam em momento algum da porta. minhas pernas tremiam, o suor frio escorria pelas minhas costas e minha respiração cada vez mais ofegante.
quando finalmente comecei a me acalmar, por achar que nada aconteceria, que minha mente estava me sabotando, ele apareceu.
uma criança completamente negra, desde sua pele, até a esclera de seus olhos. ele estava escondidinho na porta, sem a intenção de se mostrar para mim, mas infelizmente eu consegui vê-lo.
comecei a chorar de desespero. queria gritar meus pais mas a voz não saia. queria correr mas não tinha para onde. eu estava encurralada.
a criança percebeu que eu havia visto, e se escondeu. nesse momento eu gritei meus pais com as forças que eu consegui recuperar, e eles vieram rápido.
expliquei tudo o que havia acontecido e eles queriam enfiar na minha cabeça a ideia de que aquilo foi apenas um sonho. eu sabia que não era.
eles me deixaram dormir com eles essa noite.
no dia seguinte, acordei com uma movimentação estranha em casa. haviam pastores e algumas pessoas da igreja na sala, conversando com meus pais.
eu ouvi eles conversarem, dizendo que precisariam fazer um "exorcismo" na casa e purificá-la logo em seguida. fiquei um pouco aliviada, por meus pais finalmente tomarem uma providência em relação a esse assunto, que eu já reclamava a anos.
sentei no sofá e os observei começar o ritual. eu não estava com um bom pressentimento então preferi sair de casa e ficar na varanda.
alguns minutos depois, me senti inquieta.
essa inquietação começou a me incomodar cada vez mais. era a mesma sensação da noite passada. algo estava incorreto...entrei em casa para verificar se corria tudo bem, é me deparei com uma cena horrível. o padre estava com os braços abertos, os olhos completamente pretos e saindo sangue de sua boca.
meus pais estavam escondidos no quarto com medo. aparentemente o padre não conseguiu dar conta do espírito/entidade que estava preso na casa.
os ajudantes da igreja estavam desmaiados e com um líquido preto estranho saindo dos seus ouvidos e boca. eu não sabia mais o que fazer.
— fujam! vocês precisam ir logo... - disse o padre com uma voz assustadora, tossindo sangue.
peguei minhas malas, guardei todos os meus pertences e pedi para meus pais fazerem o mesmo. nós precisávamos sair dali urgentemente!
meus pais foram na frente, levando as coisas para a casa de nossos familiares que moravam por perto, e eu decidi ficar. eu tinha que fazer alguma coisa.
liguei pra ambulância vir buscar o padre e os ajudantes que estavam desmaiados. nesse meio tempo peguei todo o sal grosso que havia no armário e coloquei na entrada de cada cômodo.
voltei para sala e vi que havia um papel caído perto da porta. tentei ler, mas não estava entendendo. então resolvi pesquisar, e para a minha sorte, era um feitiço de exorcismo que era para ser recitado pelo padre.
respirei fundo e comecei a falar alto e claro:
"Regna terrae, cantate deo, psallite dominio...Tribuite virtutem deo. Exorcizamus te, omnis immundus spiritus, omnis satanica potestas, omnis incuriso infernalis adversarii, omnis legio, omnis congredatio et secta diabolica... Ergo... Perditionis venenum propinare. Vade, satana, inventor et magister omnis fallaciae. Hostis humanae salutis. Humiliare sub potenti manu dei. Contremisce et effuge. Invocato a nobis sancto et terribile nomine. Quem inferi tremunt... Ab insidis diaboli, libera nos, domine. Ut ecclesiam tuam secura tibi facias, libertate servire, te rogamus, audi nos. Ut inimicos sanctae ecclesiae humiliare digneris, to rogamus audi... Dominicos sanctae ecclesiae, terogamus audi nos, terribilis deus do sanctuario suo deus israhel. Lpse tribuite virtutem et fortitudinem plebi suae, benedictus deus, gloria patri..."
o padre começou a se contorcer e a gritar desesperadamente. sangue saiam dos seus olhos, ouvidos e boca, seus ossos faziam estalos altos, se que quebrando em vários pedaços.
continuei falando o texto várias e várias vezes, até que a entidade saiu do corpo do padre, muito enfurecida. eu nunca havia visto algo como aquilo.
outros espíritos começaram a sair da parede e eu temia que aquele texto não fosse contê-los. resolvi arrastar o corpo das pessoas que estavam na casa para o lado de fora.
os coloquei na varanda, perto do portão para que quando a ambulância chegasse pudesse levá-los imediatamente.
de repente senti duas mãos em meus pés, que me puxaram com força para dentro da casa.
porquê deus me deixou?
so... i woke up.
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DAYDREAM
General FictionUm compilado de histórias baseadas em sonhos que tenho frequentemente.