the cult.

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— então vamos ter que subir isso tudo pra achar a sala com nossas máscaras e capas?

— sim. faz parte do teste!

não compreendi o motivo disso fazer parte do teste, mas prossegui. eu estava precisando de um emprego, e aquilo apareceu no momento certo, oferecendo uma grana legal. e cá estou eu!

é uma seleção para ser figurante em um filme de terror que estava sendo produzido. não haviam tantas pessoas como eu imaginei, então fiquei esperançosa de ser uma das selecionadas para o papel.

existiam duas formas de subir: parkour, ou apenas subindo as escadas. inicialmente eu fui pelo mais óbvio, até me cansar de verdade.

porém eu percebi que conforme iria subindo, as escadas iam ficando cada vez mais inseguras. começavam a balançar e enferrujar, alguns degraus já estavam desgastados, outros quebrados. não havia mais o que fazer. precisei apelar pro parkour.

eu já estava num nível muito distante do chão, e mesmo tendo uma cordinha de segurança preso em minha cintura, era assustador. inclusive, cair significava desclassificação.

passei por várias salas e não encontrava meu nome e minhas coisas. o cansaço começou a bater mas eu não desisti. respirei fundo, descansei um pouco e continuei a subir.

no caminho acabei encontrando um garoto. alto, cabelos longos e castanhos, olhos verdes e camiseta de banda. ele também estava fazendo parkour.

— aposto que você tem namorado. -disse de repente.

— sim, eu tenho... - falei confusa.

— que droga. - resmungou.

apesar dessa curta e constrangedora conversa, continuamos subindo cada vez mais.

— aquilo ali também é uma sala? - disse o garoto apontando para um corredor escuro e meio escondido.

— deve ser. você vai lá?

— nós vamos lá. - disse sorrindo.

não sabia qual era a desse moleque, mas eu estava bem curiosa pra saber o que era aquilo então o acompanhei.

ao entrarmos percebemos que aquilo não era uma simples sala, mas sim uma casa, provavelmente do proprietário do prédio e responsável pelo teste. era um lugar iluminado por lamparinas meio fracas, tudo muito amadeirado e cheirando a mofo.

— mas que porra é essa? - disse o garoto, chocado.

resolvemos nos separar. fui me aproximando silenciosamente seguindo o som de teclado que vinha de uma sala no fim do corredor daquela casa.

coloquei a cabeça devagarinho na porta e consegui ver um homem alto, branco e grisalho, mas não consegui ler o que estava digitando. junto com ele tinha um outro homem, cabelos longos e cacheados, parecia ser indiano.

percebi que eles começaram a se movimentar muito e sai rápido para procurar o garoto e nos esconder.

— porque você me puxou pra dentro desse armário?

— shhhh, fala baixo! - tampei a boca dele.

ouvimos os passos e a voz dos dois homens que eu havia visto mais cedo, caminhando para algum lugar. quando eles saíram completamente, nós resolvemos continuar olhando o ambiente. dessa vez fui para o andar de cima e ele para o de baixo.

ao subir todas as escadas, acabei indo parar no terraço e me deparei com uma cena horrível. uma mulher amarrava sua empregada e tapava sua boca com silver tape, jogando-a do topo do prédio em seguida. eu presenciei um assassinato!

desci correndo e com medo, tínhamos que sair dali. ao encontrar o garoto novamente, contei o que havia visto e ele ficou assustado também. decidimos ir embora, mas fomos cercados.

de um lado estava os dois homens que tínhamos visto mais cedo, e do outro, a mulher assassina do terraço. para onde iríamos fugir?

decidimos subir as escadas que estavam no meio da sala e fomos parar no quarto das crianças. só não imaginávamos que elas estariam acordadas.

— crianças não se assustem! nós só estamos conferindo se... todas os quartos estão limpos ok? não comentem nada com ninguém!

— esse pode ser o nosso segredinho certo? - falei me abaixando para ficar na altura delas.

elas concordaram e voltaram a deitar. quando vimos que a barra tava limpa, saímos do quarto e voltamos a explorar a casa.

nos ouvimos um choro repentino e um pedido de socorro. fomos seguindo a voz até darmos de cara com o espírito de uma mulher. ela era ruiva e seu rosto estava um pouco desfigurado.

— por favor nos ajude! a seita prendeu todos nós aqui e queremos ir embora.

— nós? - questionou o garoto.

olhamos em volta procurando onde estavam os outros espíritos e tinha muitos presos nas paredes. foi assustador.

— eles enganaram todos nós com uma proposta de atuação em um filme. após passarmos no processo seletivo, eles nos levaram para dentro na casa, nos torturou e matou em nome da seita deles.

eu e o garoto nos olhamos pensando "puta merda, então esse era o nosso destino?"

questionamos como poderíamos ajudá-los e ela disse que havia uma pedra misteriosa roxa com detalhes azuis (que os mantinha presos na casa), e que era para nós o levarmos e jogá-lo no mar.

ela informou também que essa pedra estava guardada no quarto das crianças dentro de uma gaveta trancada e implorou por liberdade.

obviamente não podíamos fugir dali e deixar tudo como está. fomos escondido para o quarto das crianças e elas já estavam dormindo.

— se elas estivessem acordadas seria um problemão. - sussurrei.

o garoto então usou um cartão de crédito para destrancar a gaveta (e deu certo!).

ao tocar na pedra, algo bizarro aconteceu. as crianças acordaram automaticamente e pularam na gente e gritando.

— ISSO NÃO PERTENCE A VOCÊS! INVASORES! LADRÕES! - disse uma das crianças pulando no pescoço do garoto, o sufocando.

obviamente fiz de tudo pra tirar a criança de cima dele, mas não foi nada fácil. as outras crianças pularam em cima da gente, pareciam possuídas.

tivemos que usar a força bruta pra sair de lá, caso contrário, essas crianças poderiam realmente ter nos matado!

corremos para um quarto vazio e que tinha uma porta no lugar de uma janela. imaginamos que era uma passagem secreta para outro canto da casa e que poderíamos usar para fugir.

abrimos a porta e levamos um susto. aquilo dava para uma queda livre de pelo menos 20 metros de distância do chão, diretamente no mar!
 
a mulher assassina e os dois homens haviam nos encontrado, então não tivemos escolha além de pular no mar.

para piorar tudo, eu não sabia nadar. o garoto teve que me ajudar e nadamos com dificuldade para a areia. aproveitei e deixei a pedra no fundo do mar mesmo, assim como os espíritos pediram.

chegamos na areia e caímos de cansaço.

— cara, isso foi assustadoramente foda. - disse o garoto espremendo suas roupas. 

— eu ainda tô tremendo. - mostrei a minha mão e começamos a rir bastante.

—  espero que esses filhos da puta parem com essa merda.

— pode crer... a propósito, eu ainda não sei seu nome.

— hunter. e você?

— lilith. - disse levantando da areia.

— foi um prazer te conhecer lilith. apesar de quase termos sido assassinados e morrido afogados, foi um prazer.

— espero que da próxima vez que a gente se ver não tenhamos que lutar contra alienígenas. - disse rindo.

so... i woke up.

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