Capítulo 9 – Verdades
A vinda de um bebê a vida é a melhor notícia que quaisquer pais poderiam receber. Uma nova vida, gerada através de seus genes, carregando seus cromossomos, suas ancestralidades e suas magias. Um ser puro, uma alegria para seus genitores, familiares e amigos. Snape começava a sentir que tudo isso que já ouvira falar era de fato real. Que realmente era possível sentir um sentimento tão forte por um ser que era apenas um grão de arroz dentro da barriga da mãe.
Claro que ninguém que conhecesse sua história poderia condená-lo por não acreditar na verdade do amor paternal, Snape nunca fora amado por seu pai. Tudo que conhecera como relacionamento pai e filho era dor, abandono e negligência, além da inveja que sentia ao ver outros pais com seus filhos, como o pai de Lilian por exemplo. Sempre que via a ruiva com o senhor Evans, sendo abraçada, recebendo carinho e sorrisos, sentia dentro de si um sentimento ruim, como se aqueles atos que a menina recebia fossem os errados, pois a sua verdade, aquela que o esperava em casa com um cinto na mão e ódio no olhar, era muito diferente.
Era tão diferente, tão dolorido que Snape jurou a si mesmo, há muito tempo, que se viesse a ter um filho jamais faria algo assim a ele ou a ela. E mesmo que seu tratamento com os alunos de Hogwarts colocasse esse juramento em cheque, ele jamais deixou de pensar isso. Entretanto, os anos após a morte de Lilian só trouxeram a si a certeza de que nem mesmo precisaria se preocupar com esse juramento, pois não seria possível cumpri-lo já que não teria filhos.
Agora, enquanto acariciava a barriga de sua esposa que ressonava, sabia que o juramento feito há tantos anos ainda era válido e seria cumprido com fervor. Ali dentro estava um pedaço de si mesmo, um filho com seu sangue, um ser que o olharia com admiração, respeito e amor. Um ser que não tinha nem mesmo nascido e já fazia seu coração bater com força. Aquele era talvez o único ser no mundo que seria capaz de o fazer passar novamente por tudo que já passara antes sendo um espião, se fosse necessário, para segurança dele e de sua mãe, Snape resgataria das sombras as suas vestes negras e pesadas, aquelas com marcas de sangue entranhadas nas linhas de suas costuras, colocaria a máscara prateada riscada a cada morte necessária e marcharia para qualquer missão que lhe fosse dada sem nem mesmo piscar ou contestar. Por eles, e apenas por eles, Snape reconstruiria os muros de sua mente e alma, aqueles muros que guardavam seu verdadeiro eu, sua essência e sua verdade. Deixaria para fora apenas a casca oca. Poderia fazer isso, sabia como fazer e faria se fosse necessário.
Mas naquele momento essa necessidade não era uma realidade, por isso podia apenas deitar-se com a cabeça descansando no abdômen de Hermione e fechar os olhos deixando o sono o levar para um mundo onde um menino ou uma menina de cabelos negros sorria correndo para seus braços sabendo que ali encontraria a segurança que precisava para uma vida tranquila sem conhecer a dor.
- Vamos Severus, não quero me atrasar.
Snape, que estivera sentado na poltrona aguardando Hermione, levantou a sobrancelha para a mulher claramente julgando o fato dela estar atrasada e colocar a culpa nele que estava pronto há mais de uma hora. No entanto não dissera nada, apenas se ergueu e a acompanhou até a lareira onde pegaram o pó de Flú prontos para irem diretamente para a casa dos Weasley. Hermione estava muito nervosa com o jantar, sabia que todos os seus amigos estariam ali e tinha receio de como receberiam a notícia da gravidez. Claro que todos sabiam que ela uma hora ou outra apareceria grávida, afinal o casamento era para esse fim, mas ainda era Hermione Granger e ele ainda era Severus Snape. Um arranjo um tanto quanto julgado pelo mundo bruxo.
- Espero que não seja como semana passada. – Disse Hermione segurando o pó de Flú em suas mãos.
- Não será. – Respondeu Snape a virando para olhá-lo. – Seus pais só estavam surpresos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Os segredos de Snape (Snamione - Sevmione)
RomanceMundo Pós Guerra. Voldemort está morto e o mundo vive livre.... Quer dizer, até certo ponto livre, pois uma lei obriga que bruxos e bruxas maiores de idade que estejam solteiros se casem e reproduzam para que a raça bruxa não seja extinguida da In...