Capítulo 2 - Conformidade
Snape retirou sua capa e a colocou pendurada ao lado da porta, então retirou seus sapatos e os deixou logo abaixo. Caminhou descalço pela sala pequena até o bar onde pegou um copo de Firewhisky. Com a bebida nas mãos, acenou para a lareira fazendo o fogo aparecer e sentou-se na poltrona em frente. Seus olhos eram inexpressivos enquanto admiravam a dança das labaredas que subiam pelas toras de madeira. Sua mente, no entanto, não estava tão quieta como seu olhar. Seu cérebro já pensara em todos os próximos passos que teria que seguir. Como ótimo ex-agente duplo, controle era sua especialidade e por isso e somente isso não deixava seus sentimentos aflorarem e mostrarem o quanto estava irritado e chateado por essa situação.
A bem da verdade, casar-se com Hermione Granger não seria tão ruim quanto se pensa. Ela era jovem, bonita, inteligente e independente. Se combinassem corretamente, poderiam ter um casamento superficial sem nenhum problema, ele não se meteria na vida dela e nem ela na dele. Cumpriria com seus afazeres de casados e só. No entanto, ainda que não fosse o pior cenário, Snape desejava que ao acordar no dia seguinte tudo aquilo fosse mentira e ele pudesse voltar a sua vidinha vazia e quieta.
Após o término da guerra, a cura do veneno da Nagini e sua inocência comprovada por Harry Potter que lhe garantiu a ordem de Mérlin, primeira classe, Snape voltou para sua casinha na Rua da Fiação. Agora ela estava até mesmo convidativa, uma vez que não havia mais necessidade de ser tão taciturno como sempre fora, pois estava livre de seus mestres e podia aproveitar a tranquilidade de uma vida solitária, sem alunos, sem missões, sem comensais, sem Lord e diretor. Os móveis estavam limpos e as cortinas trocadas. Os livros não tinham uma única teia de aranha, seus armários da cozinha tinham comidas frescas e dentro da validade. O jardim no fundo estava devidamente cuidado e seu laboratório impecável. Era nele que Snape fazia as remessas de poções pedidas por diversos locais no Reino Unido e até mesmo em países distantes. Sua fama de pocionista cresceu muito após Potter se meter a fazer uma propaganda de um uguento inventado por Snape que tinha uma cura acelerada, Madame Pomfrey encomendou pelo menos três caixas cheias. Os pedidos não pararam de subir e hoje seu cofre em Gringotes está mais rechonchudo.
Sua vida estava ótima, recluso em sua casa, sem ninguém para incomodá-lo. Não precisava de companhia, nem mesmo de um elfo. O fato da tatuagem em seu braço esquerdo não se mexer mais era o motivo de seu sono agora ser mais profundo e longo. Nem mesmo dormia com a varinha em sua mão embaixo do travesseiro como fazia antes, agora podia colocá-la no criado mudo ao lado. Os pesadelos que outrora o atormentavam quase todas as noites o fazendo dormir o mínimo possível, agora vinham esporadicamente, o que era um alívio, pois visualizar os fantasmas daqueles que assassinou em nome de Voldemort era cruel demais.
Mas tudo que é bom dura pouco, e agora ele estaria ligado a uma pessoa para sempre, visto que o casamento bruxo não permite divórcios. Hermione Granger viveria consigo todos os dias e ainda que fizessem um acordo para poderem viver suas vidas individuais em paz, ela acabaria descobrindo manias e segredos que preferia que ficassem guardados apenas com ele e as quatro paredes de seu quarto.
Havia assim algumas preocupações que faziam o pocionista beber seu segundo copo de Firewhisky. Primeiro, teria que vender essa casa e comprar uma mais adequada para alguém como Hermione Granger, não era possível imaginá-la vivendo naquele lugar monocromático e tão taciturno. Ela precisaria de uma casa maior, mais clara e aberta. Pelo pouco que a conhecia, por ser sua aluna, ela precisaria de espaço e principalmente de um ambiente só dela para leituras e relaxamento, assim como ele precisaria de seu laboratório. Um sorriso torto apareceu em seus lábios ao perceber que já estava se imaginando casado e com cada um buscando seu refúgio longe um do outro, seria o casamento do século. A outra preocupação seria arranjar um elfo doméstico para auxiliar na casa, claro que deveria ser pago e com todos os direitos garantidos ou sua futura esposa o mataria facilmente. Outro sorriso torto. E o mais importante que o preocupava, era sobre seus desejos carnais. Sabia que seria um ótimo marido para ela, representaria muito bem em todos os aspectos necessários e a satisfaria todas as vezes que ela assim quisesse. Entretanto, seus próprios desejos, aqueles que ele carrega no fundo do âmago e que apenas aquelas meninas pagas souberam e logo esqueceram quando usara Obliviate nelas para que não contassem a ninguém, esses desejos, não poderiam mais ser realizados. Suas vontades sexuais ficariam escondidas dentro de uma caixa trancada e enfiada lá no fundo mais escuro de sua vida, sem possibilidade de revivê-los. Esse talvez fosse o seu maior castigo, negar-se a si mesmo.
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Os segredos de Snape (Snamione - Sevmione)
Storie d'amoreMundo Pós Guerra. Voldemort está morto e o mundo vive livre.... Quer dizer, até certo ponto livre, pois uma lei obriga que bruxos e bruxas maiores de idade que estejam solteiros se casem e reproduzam para que a raça bruxa não seja extinguida da In...