Capítulo 6

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O lugar não era perfeito, mas Malaika sabia que momentos de desespero pediam medidas desesperadas.

Quando não souber para onde ir, olhe para trás e saiba pelo menos de onde vem, lembrou.

A princesa Kalejaiye sentou na terra seca à sombra de uma árvore, ignorando a protuberância de uma raíz ao seu lado. Teria preferido a umidade da margem de um rio, onde poderia pegar a água fresca para a oferenda, mas estava disposta a se contentar com a vela que conseguira afanar no caminho e com o ar puro.

Tempos de desespero, medidas desesperadas, pensou outra vez.

As cinco guerreiras que a acompanhavam naquele momento observavam a alguns metros. Ninguém a deixaria sair do palácio e se embrenhar sozinha e sem proteção na floresta que quase o envolvia, mas as mulheres bem treinadas sabiam quando precisavam deixar a princesa a sós com os próprios pensamentos.

Ou com os ancestrais.

Apesar de estar longe de casa e não ter ideia se seria ouvida pelos ancestrais omlai bem no coração da nação de Hanbyeol, Malaika precisava tentar. Seu coração estava ansioso, o medo do futuro a tomava desde a noite anterior.

Não havia nada de errado com o palácio ou a corte, ela já esperava ser recebida com reticência. As guerreiras estavam se adaptando e continuavam sempre prontas para defendê-la. Shin Taeyang não poderia parecer mais perfeito e era óbvio que estava tão disposto a tentar fazer o casamento dar certo quanto ela, mas...

Nada disso era suficiente para acalmar seu nervosismo.

Tudo era tão diferente ali. Os costumes, as pessoas, até as roupas... As regras. Quem diria que ela não teria permissão para deixar o palácio sem que o rei desse seu aval? Por isso, deixara seu pavilhão logo antes do nascer do sol e lá estava, vendo a luminosidade mudar lentamente em meio às folhas das árvores.

Tempos de desespero, repetiu em pensamento.

Entretanto, Malaika conhecia aquela sensação. Estava familiarizada com a dificuldade para dormir e as perguntas se acumulando em sua mente. Os mgangas nunca deram um nome para aquilo, mas concordavam que era uma condição possível e até normal; que a princesa, inclusive, não era a única a se sentir assim.

Com o tempo, porém, Malaika descobrira algo que ajudava e era isso que buscava ali.

Eu sei quem sou, porque sei de onde venho.

Fechou os olhos devagar, expirando o ar lentamente, tentando se acalmar. Já havia acendido a vela e posicionado a tigela com água limpa ao lado – outro item que pegara emprestado do palácio.

Medidas desesperadas. Um suspiro acompanhou o pensamento.

Então a princesa posicionou as duas mãos no chão e, em seguida, a cabeça, assumindo uma posição que muitos considerariam desconfortável. Ela, porém, não se incomodava depois de anos de prática.

O esforço valia a pena. Toda e cada vez, valia a pena. Os ancestrais lhe trariam a calma de que ela tanto precisava para continuar.

Começou a sussurrar, misturando cântico e conversa, algo que um estranho nunca entenderia.

Algumas vezes, se estivessem particularmente generosos, os acestrais traziam também respostas.

Algumas vezes, se estivessem particularmente generosos, os acestrais traziam também respostas

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As Cores de um ImpérioOnde histórias criam vida. Descubra agora