O Tempo

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O tempo
Ged/22

O tempo é como uma grande ampulheta quebrada
Jogando sua areia por todos os cantos
Enquanto passa.

Finíssimos os grãos preenchem tudo
Apagam as memórias
Boas e ruins
Sugam as lágrimas
Secam o sangue.

Trazem a tosse da velhice,
Deixam tudo em tons de sépia,
Marrom e sem vida,
Como uma fotografia velha
De uns parentes distantes.

Arranham a pele de quem
Tenta, em vão, lutar contra ele.
Preenchem os pulmões
Comem os ossos.

Arenosos fragmentos lixam pontes,
Abraços, olhares...
Constroem suntuosas dunas
Em corações apaixonados
Em relações passadas...
E travam as articulações das duradouras
Que insistem em caminhar apesar das dores.

Cínico, sabe que tudo será dele.
E já é.
Por vezes, toma de assalto.
Noutras, aguarda sorrateiro.
Por fim tudo e todos caem,
Se dobram,
Se afogam,
Nas infinitas areias acres do seu reinado.

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