"você sempre me teve" - parte I

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Olívia conseguia ver o sorriso das suas duas mães no reflexo do espelho enquanto a admiravam. O passado e o presente unindo-se, junto com o biológico e o afeto. Fátima estava radiante pelo casamento, esperou tanto tempo por isso que chegou a duvidar que um dia existiria. Já Heloísa estava mais feliz por poder participar finalmente de um episódio tão importante para sua tão amada Clarinha - que agora, era Olívia.

As duas sabiam que ela não amava o noivo. Mas, até agora, era só a prova de um vestido. A primeira prova do primeiro vestido de noiva feito por Isadora Tapajós! Se fosse uma aposta, todos naquele lugar teriam perdido. Apostavam veemente que Olívia nunca se casaria, uma vez que seu coração pertencia a quem não deveria e mesmo que todos daquela sala lhe protegesse, era impossível negar o visível aos olhos nus.

- E então, Olívia? - indagou Violeta pela recém descoberta sobrinha. - Gostou do vestido?

- Ele é... lindo. - respondeu mordendo os lábios diante da beleza do vestido e se lembrando da conversa que Isadora teve com ela.

Há alguns dias atrás...

- Olívia, eu vou ser bem sincera com você e eu espero que você entenda - foi direta a herdeira da Tecelagem Tropical, chamando a atenção da noiva. - Você vai ter o vestido mais lindo que essa vila já viu. Mas não o mais lindo que poderia ter.

- E por que não? - perguntou a mais velha percebendo um tom diferente na voz doce de Isadora. Estava mais doce ainda.

- Porque você vai ter o vestido mais deslumbrante do mundo... Quando se casar com o amor da sua vida - apenas a menção na pessoa dele, fez a voz de Olívia embargar em um curto tempo de sofrimento.

- Dorinha... - em tom de lamento, forçou um sorriso fraco. - Isso não vai acontecer. Gosto muito do Gael, é com ele que irei me casar... Temos uma história juntos. Uma história tão linda...

- Olívia, minha irmã - a voz de Isadora ainda era mais confiante ao dizer essa frase. - O que Gael e você tem é um passado de amizade, de cumplicidade. Você tem respeito e gratidão com ele, mas, amor... Não, não. Se você o amasse, teria o amado desde a infância. E não o fez!

- Isadora, a mesma coisa que eu tenho com o Gael... eu tinha com o Tenório. Um é igual a outro!

- Um tem o seu amor, Olívia! O outro só tem o seu desespero de ficar sozinha.

- Não terá outro vestido, Dorinha - Olivia sentenciou como se estivesse colocando um ponto final naquela história de uma vez por todas. E estava.

Atualmente

- Olívia, a animação que você tem com seu casamento é a mesma que papai tem quando ver vovó na sua frente - comenta Arminda, recebendo um cotovelada de Violeta. Era certo que todas ali queriam evitar tocar no nome dele, mas, aquela altura do campeonato, o nome de Tenório Marques rondava a mente de todas as mulheres ali presente.

- Arminda, eu... Eu estou animada, é que apenas... Nunca pensei que esse dia chegaria para mim, sabe? Sempre me imaginei solteirona, conhecendo os lugares, trabalhando... Independente. Nunca foi o meu sonho vestir-me de véu e grinalda, estou tendo um grande choque de realidade, minha amiga.

- Mas, você quer se casar com o Gael, minha filha? - Heloísa faz a temida pergunta. - Eu juro que estou tentando não tocar no nome da terceira pessoa envolvida nessa história, Olívia, mas me preocupo com que acontecerá naquele altar...

Direta e reta, tal como a filha. Sem rodeios, sem truques, sem mentiras. Olívia tenta e consegue segurar a vontade de chorar quando o menciona e ignorar a batida desregulada do seu coração.

- A senhora quer saber se irei dizer 'sim' ao Gael mesmo com o padre Tenório na minha frente? Pois eu te respondo que sim. Seria incapaz de magoar Gael desta forma! Eu vou até o fim nessa história e toda essa paixão proibida vai passar. Tem... que passar, não é?

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