amor de carnaval: parte I

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Olivia ainda se lembra do primeiro dia que viu Tenório a sua frente. Era uma manhã de setembro, quando estava descendo da escadaria da igreja após verificar se estava tudo certo com as contas que a Tecelagem mantia os reparos desta e a mantia de pé.

Naquela vila, mesmo em 2021, o poder financeiro e social estava concentrado apenas em uma mão. Aliás, em uma enorme fábrica de tecidos: a Tecelagem Tropical. Todas as estruturas ali presente eram quase que totalmente dependentes da fábrica e, doutor Eugênio por ser extremamente católico, fazia questão de manter tudo em ordem. A chegada do novo padre havia sido feita com animação para estes uma semana antes. Desde a morte do padre Alberto, os fiéis estavam na expectativa de como seria o seu substituto.

Olivia não entendia o motivo de tanta expectativa e animosidade. Nunca foi das mais devotas e tinha causas maiores e piores para preocupar-se com a chegada de um novo alguém. Entretanto, quando Eugênio, esposo de sua tia lhe deu essa tarefa, foi impossível dizer não.

Andando sobre os saltos altos que ecoavam sobre o piso de mármore da Igreja, fazendo jus ao visual de uma advogada, ela havia se preparado para ir embora quando ouviu uma voz ao fundo chamar a sua atenção.

- Devo dizer que se não fosse esses sapatos, jamais imaginaria que estivesse aqui - pronta para dar uma resposta, Olivia virou-se a ele e perdeu todas as palavras que havia pensado.

Ali estava um homem bonito que chamaria a sua atenção por onde quer que passasse. A sua voz já era muito bonita mas ele próprio era impossível passar despercebido. O sorriso largo e olhar divertido era quase como um flerte a imaginação de Olivia que optou-se por aproximar-se do homem que estava ali na frente do altar da igreja.

- Você deve ser Olivia, certo? - Ele entendeu a mão grande a ela que o cumprimentou quase que se derretendo pelo calor das suas mãos. - Seu tio me avisou que poderia estar aqui.

- E você é...?

- Eu sou Tenório. O novo padre da vila.

Já faziam meses que ele havia dito aquilo mas ela se lembrava daquela quebra de expectativas como se estivesse acontecendo agora. Lembra também de como sentiu-se a maior das pecadoras por estar cobiçando um homem de Deus perante a sua imagem no altar e pela primeira vez, em meses, rezou ao menos o Pai Nosso aquele dia.

Herdeiro de uma grande companhia de joias, o humilde sacerdote morava agora junto aos Camargo, na Fazenda Grande - onde costumava ser a moradia do antigo padre também. Dois meses morando sob o mesmo teto, praticamente, de Olivia fez com que ele a achasse a mulher mais fascinante que ele já havia conhecido. Inteligente, perspicaz, esperta, curiosa, sensível e linda - era os adjetivos que ele poderia dizer sem se sentir o sacerdote mais pecador do Brasil.

- Oi - sussurrou Olivia juntando-se a ele naquela madrugada na cozinha da Fazenda. Desde que ele foi morar com estes, a menina conseguiu o convencer de que era uma bela tradição fazer isso ao menos um dia da semana para trazerem boas ideias para a socialização da vila. - Achei que não estaria aqui.

- Achei que não viesse até aqui - revidou puxando uma cadeira para ela se sentar. - Sei como você adora carnaval, Dorinha me contou. Pensei que iria repor as suas energias para o começo desse feriado.

Nenhum dos dois questionou ao outro o motivo de terem achado aquilo. Era o mesmo: a tarde de quinta passada. Tenório permitiu-se falar meia verdade para que não ficasse tudo tão transparente assim.

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