deseje forte - one shot.

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Quando Tenório ouviu a voz do seu Benê o chamar da capela, saiu da sacristia em passos rápidos e surpresos. Aquela hora da manhã, logo depois da missa, sabia que o mais velho deveria estar cheio de serviço na fazenda grande — onde tinha tanto orgulho e fidelidade de trabalhar.

O motivo principal, claro, era o segredo do marido de Fátima: Olívia era Clara, filha perdida de dona Heloísa; e desde então, parecia estar andando sobre ovos quando tratava de qualquer assunto com a família Souza.

Saiu assustado da sacristia com o chamado do homem, mas ao se deparar com a feição tranquila de Benê, se acalmou.

– Bom dia, padre! — saudou Benê, como sempre o fazia.

— Bom dia, seu Benê! O que houve? — perguntou ele, colocando as duas mãos nos bolsos e com uma enorme curiosidade.

— É coisa boa, padre, fique tranquilo! É que hoje é aniversário de Olívia, sabe? Enfim, aí acontece que Fátima vai fazer uma festa aqui na vila lá pra de noite. Tô aqui pra convidar o senhor. Sei que é um bom amigo para minha filha — Benê disse, com um sorriso amigo no rosto.

Benê sabia que Tenório era muito mais que um bom amigo para Olívia. Claro, ela já tinha assumido para os pais os sentimentos que nutria pelo sacerdote, mas ainda assim, falar de fazer alguma coisa para Olívia sem Tenório não estar, parecia incerto.

E também tinha o fato de ser um bom motivo para Olívia se animar com a ideia da mãe de fazer uma comemoração com os vizinhos e os patrões no meio da rua.

Quando o sacerdote percebeu, já tinha confirmado sua presença com um sorriso bem satisfeito no rosto. Não sabia que aquele dia em específico era aniversário de Olívia mas faria questão de nunca mais esquecer. 12 de janeiro. Talvez o dia que ficasse cravado para sempre em sua memória e que fosse fazer questão de celebrar todos eles em todos os anos adiante daquilo.

— Claro que eu vou, seu Benê. É uma data importante para Olívia, sem dúvidas. Conte comigo — respondeu o bom homem, trocando posteriormente algumas palavras com o homem e dando o assunto por encerrado.

Novamente sozinho dentro daquela capela, Tenório virou-se diante do altar e foi impossível não lembrar de uma conversa que os dois teriam no mesmo local, mencionando algo sobre o assunto de aniversários e como a vida passa rápido.

— A vida tá indo tão depressa, não é? — ela indagou para ele, vendo a pequena festa da vila e o pessoal bastante animado em uma roda de dança, junto a ele.

Tenório estranhou aquela afirmação óbvia de Olívia e virou seu rosto para encará-la.
Pelo silêncio do rapaz, ela percebeu que teria que explicar mais aquela indagação.

— Eu vi a Madá nascer. E aqui estou eu: no aniversário de dez anos dela. Uma década se passou desde então. Tudo parece exatamente igual há dez anos atrás — desabafou ela em um tom nostálgico enquanto cruzava os braços.

Tenório gostava quando Olívia contava mais sobre ela. Claro que adorava da mesma forma as conversas que tinham sobre pensamentos e ideais, mas ainda assim, toda vez que Olívia retratava algo sobre a vida dela, quem ela era, o instigava a querer saber ainda mais.

— Exatamente igual, não — disse ele, chamando a atenção da menina. — Eu não estava aqui.

Olívia sorriu.

— Tem razão. O senhor não estava aqui. Aliás, padre, devo dizer, o senhor demorou demais para aparecer em nossas vidas — Tenório riu sem jeito do comentário dela.

— Vim no tempo certo, Olívia. Dez anos atrás eu estava com vinte e quatro anos no seminário. Você estava com o quê? Dezoito anos? — indagou, recebendo um olhar incrédulo da garota e tratou de tentar se corrigir piorando a situação. — Dezessete?

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⏰ Última atualização: Jul 11, 2022 ⏰

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