SONHO DOURADO [⚣]

6 - Ele é legal

#EtonPipeDream

Reescrito em: 23/05/2023

Terça-feira nunca foi um dia muito bom. Não é nem no começo da semana, nem no meio, nem no fim. Terça é um dia completamente inútil. Só serve pra ligar segunda à quarta, até chegar sábado e começar tudo de novo. Mas, sinceramente, pra aquela terça-feira eu estava bem nervoso.

O motivo tinha nome e sobrenome.

Ontem, depois do Ashton realmente me largar na praia sozinho, voltei pra casa, com o rosto vermelho por algum motivo. Me imaginei como um cachorro com o rabo entre as pernas quando abri a porta da casa e vi minha mãe correndo pra me abraçar. Ela não disse nada por minutos e isso me deixou com a culpa maior ainda.

Meu pai me olhou com aquele olhar de quem comeu e não gostou. Pelo menos o outro filho dele não estava mais aqui, mas não sabia se isso era bom ou ruim porque, naquele momento, eu teria que aguentar o esporro completamente sozinho.

Ele abriu a boca.

Meu corpo gelou.

"Você está de castigo," disse, friamente, enquanto me olhava. Não sei que tipo de coisa estava passando na cabeça do meu pai, mas a expressão de desgosto me deixou amortecido. E não de um jeito bom. "Por tempo indeterminado. Não pode sair com seus amigos, não vou te dar mais dinheiro. Você tem que estar em casa todos os dias antes das-"

"Terry...", minha mãe sussurra, tão baixinho que penso ter imaginado a sua voz.

"A culpa é sua. Você passa a mão na cabeça dele pra tudo", meu pai se virou para ela. Percebi que ela abriu a boca mas não soltou nada além de um gemido sofrido, abaixando o rosto. "Se eu tivesse ensinado esse moleque, ele seria igual ao-"

"Igual ao seu outro filho?!", berrei, sem conseguir mais controlar aquela queimação no fundo da minha garganta. Meu sangue esquentou como a merda de um vulcão em erupção. "Esperto? Bom em tudo? Por que você não ficou com a porra da sua outra mulher, então?"

"Evan-"

Meu pai me encarou, com as sobrancelhas franzidas. Quase não havia raiva nos olhos dele, só surpresa. O peito dele descia e subia, como um touro. Imagino que ele nunca pensou que um dia eu responderia de um jeito tão agressivo. Talvez nem Randall se atrevesse a fazer isso.

Aquilo me deixou um resquício de coragem. Pela primeira vez na vida, eu consegui causar qualquer reação no meu pai que não fosse decepção. Mas como se um raio tivesse atingido minha cabeça, percebi o que eu tinha feito. Ele deu dois passos na minha direção e me encolhi. Não é a primeira vez que apanho, mas seria a primeira vez que eu talvez merecesse.

Quase fechei meus olhos quando senti a quentura de um corpo perto de mim. Meu pai me olhou de novo, com um tipo de tom zombeteiro em sua voz. "Se você quer se fazer de homem, aguente as consequências."

Então de repente..

SLAP.

O choque e horror passou pelo meu corpo quando a mão pesada do meu pai deu um tapa no meu rosto.

Minha pele não doeu no primeiro momento, o que doeu mesmo foi meu peito, cercado por decepção e tanto ódio que não conseguia reconhecer aquela pessoa na minha frente como meu pai. Era um monstro. Um monstro disfarçado.

Minha mãe ficou olhando, horrorizada, com a boca aberta. Aquele homem virou os tornozelos e eles se olharam. Por um instante, achei que teria que pular nele. Uma luz cruzou meus olhos e a imagem dele apertando o pescoço da minha mãe fez meu sangue bombear. No entanto, quando pisquei, aquilo sumiu como fumaça.