4 - Woodbine Beach (parte 1)

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Capítulo reescrito em: 31/05/2023      <3

Viro o cigarro nas minhas mãos, passando os dedos pelos números que Ashton havia escrito há quase uma semana.

Ainda não tinha salvo o contato dele no meu celular porque minha mãe ainda não tinha me perguntado a razão de eu estar demorando tanto para chegar em casa ultimamente – acho que ela está tolerando meus atrasos por causa das férias – mas no instante em que pisei no quintal de casa naquele dia específico, reparei que já passava das oito da noite.

Ashton e eu ficamos tempo demais para limpar uma das áreas da biblioteca porque ele não parava de conversar comigo e eu não conseguia para de conversar com ele. Ficamos tanto tempo tagarelando que, quando notei, já passava das sete e meia. Tive que correr para casa.

Minha mãe não toleraria um atraso tão grande quanto o dessa vez, eu tenho certeza.

Por essa razão, tirei o celular do bolso e salvei o contato de Ashton antes de respirar fundo e encarar a porta da entrada, pensando na sua sugestão sobre não contar sobre a detenção. Nossa casa era tão quieta, tão sem vida, que nem mesmo o seu tamanho compensava. Na verdade, eu achava que, pelo fato de ser um sobrado tão grande, eu me sentia mais solitário do que certamente deveria sentir-me na minha própria casa.

Meu pai mal ficava conosco mas, quando ficava, a sensação que eu sentia era pior do que a da solidão. Era um medo constante pinicando minha pele, como se vermes se arrastassem pelas minhas veias, deixando-me em alerta a todo instante.

Respirei fundo uma última vez e então engoli em seco ao pegar na maçaneta. No mesmo instante em que eu a giro e escuto um click usual do trinco virando, a voz da minha mãe invade meus ouvidos: "Evan, é você?"

Fecho os olhos quando percebo a nota de preocupação em sua voz, mas algo chama a minha atenção: havia um par a mais de sapatos ao lado da entrada, o que significava que, ou meu pai já estava em casa – o que não era comum de acontecer, principalmente em dias de semana – ou tínhamos visita.

Um flash brilhante cruza a minha mente quando penso em um nome e a sensação de enjoo é quase instantânea.

"Sou eu, mãe."

Então ela aparece na minha frente, com as sobrancelhas franzidas e um avental. Seu rosto estava um pouco sujo de farinha e de repente tudo o que consigo prestar atenção é o cheiro doce de massa de bolo. Bolo que ela só faz quando quer agradar – ou impressionar – alguém. Bolo que faz quando Randall aparece aqui.

"Onde você estava?"

"Randall está aqui?"

Perguntamos no mesmo instante e quando ela escuta o tom acusatório na minha voz, desmancha a expressão raivosa. Ela sabe dos meus problemas com Randall, sabe do complexo de inferioridade que tenho em relação ao meu meio irmão porque, porra, passei a minha vida inteira ouvindo do meu pai que eu deveria ser inteligente e bem-sucedido como aquele mauricinho. "Randall passou para falar com seu pai sobre algo. Por que você demorou tanto? Fiquei preocupada. Não faça isso comigo, Evan."

Sei o que ela quer dizer com "falar sobre algo". Significa simplesmente que ela não faz ideia do que eles estão conversando naquele escritório mofado do meu pai, porque nenhum dos dois a considera digna de saber de assuntos "sérios" como os deles.

Aperto o punho com força, tentando controlar aquela súbita onda de impulsividade que se alastrou pelo meu corpo. É uma sensação semelhante à de quando soquei o rosto de Jasper.

"Eu estava na casa de um amigo, estudando para o começo do ano", explico, porque sei que é o que ela gostaria de ouvir: que vou começar o último ano do ensino médio me dedicando aos estudos. "Se quiser, posso te passar o número dele pra ele te confirmar."

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