One

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A princesa de gelo.
É assim que todos se referem a Eda Yildiz quando ela dá as costas.

Mas não é difícil descobrir o porquê desse apelido carinhoso… não quando todos morrem de medo quando ela passa pelos corredores da empresa, usando seu salto alto silencioso, sua saia lápis ridiculamente bem ajustada ao seu corpo e seu cabelo preso no penteado tradicional que eu nomeei de "veio pronta para congelar corpos até que não reste uma única respiração no lugar".

Desde o primeiro dia que eu coloquei meus pés na ICE eu sabia que, bem, perdoe-me o trocadilho, eu teria um trabalho enorme para descongelar o gelo de como os funcionários se comportavam durante o expediente, pelo menos no meu setor. No entanto, tem sido um verdadeiro gelo na bunda.

O que eu preciso especificar para vocês é que eu sou um dos gerentes que mantém essa empresa funcionando, isso há mais de um ano, mais precisamente um ano e trinta e seis dias, não que eu esteja contando, claro. Porém durante todo esse tempo eu consegui me ajustar perfeitamente a todo o ambiente, exceto a ela.

Mais de um ano que estou nessa empresa e tudo que eu consegui vindo diretamente dela foi um "Seja bem vindo a equipe" seguido de um aperto de mão e nada mais. E bem, foda-se, eu não esperava me irritar tanto com isso, mas a indiferença dela é desconsertante. Não que eu quisesse uma recepção com fogos e convites para jantar, mas eu sou uma pessoa extrovertida, comunicativa, e modéstia parte, eu sou um cara agradável de se manter por perto.

Mas a princesa de gelo, ou melhor, rainha de gelo, já que agora ela assumiu o cargo de CEO, continua com suas belas pernas desfilando de setor em setor, elevando o nível de tensão do lugar, mas sem realmente aprofundar suas relações com os seus subordinados. Isso, é claro, se você desconsiderar a existência de Ceren, a advogada da empresa e pessoa responsável pelo único sorriso que eu vi Eda mostrar nesse prédio.

Leyla, minha secretária, diz que eu já deveria ter superado isso, que meu desconforto é unicamente porque eu me sinto atraído por minha chefe. Bem, em minha defesa, qualquer ser humano se sentiria atraído por ela. O problema real aqui é que às vezes parece que, entre todo mundo da empresa, Eda é mais indiferente a mim.

Mas agora encaro a porta do elevador abrir e uma Eda Yildiz com aparência exausta me olhar surpresa, como se não esperasse encontrar alguém ainda no prédio. Normalmente este horário eu já estou no meu apartamento, mas hoje foi um inferno na empresa. Estamos prestes a lançar uma nova coleção de jóias, mas será uma distribuição internacional, com representantes famosos espalhados pelo mundo todo, então o setor administrativo está se matando para cumprir os prazos e eu fiquei até mais tarde porque hoje é sexta e eu queria adiantar o serviço, já que no fim de semana ninguém vem a empresa.

Eda disfarça sua expressão surpresa e traz de volta seu rosto neutro de sempre. Se não fosse pelo seu leve passo para o lado, eu poderia até dizer que ela fingiu que não notou minha presença. É por isso que penso antes de entrar... fico dividido entre deixar que ela desça até o térreo sem mim e sem precisar fingir cordialidade ao meu lado, ou se entro naquele espaço apertado e a torturo com a minha presença.

— Não vai entrar? — ela interrompe meu dilema. Sua voz parece percorrer minha espinha, me arrepiando como a porra de um vento frio.

— Sim, claro, desculpe. — me apresso a dizer e finalmente entro no elevador — Pensei… err… em voltar para minha sala, mas, uh, chega por hoje.

Ela não responde minha tentativa de conversa. Apenas acena com a cabeça e vejo seus dedos agarrarem mais forte na pasta que está em sua mão. Como ela não me olha, aproveito a descida para observa-la. Não quero pensar que estamos descendo a porra de vinte e oito andares, e que essa tortura vai continuar por alguns minutos, mas é inevitável olhar seu rosto… ela é realmente muito bonita.

BO$$Onde histórias criam vida. Descubra agora