Four

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Mais um fim de semana longo onde Eda não sai da minha mente. Passei essas últimas quarenta e oito horas pensando se eu deveria mandar mensagem para ela ou se deveria esperar ela mandar mensagem pra mim. Resultado: não mandei nada, nem ela me mandou.

Mas tudo bem, não preciso fazer disso uma grande coisa. Somos dois adultos, que tivemos uma foda ocasional, não é algo novo no mundo, com certeza conseguiremos seguir nossa vida normalmente sem constrangimentos. O problema é que eu quero continuar, eu quero mais dela... e isso está me enlouquecendo.

Chego na empresa pouco mais das oito horas da manhã e coincidentemente ela é a primeira pessoa que eu vejo. Observo ela estacionar seu carro e seguir para o elevador, não sei se ela nota que estou logo atrás dela, mas entramos juntos. Infelizmente não estamos sozinhos, mas ela se esquiva dos outros e fica no canto, no fundo do elevador e eu fico ao seu lado.

Ela segura uma pasta em uma de suas mãos e me olha de lado, sem deixar transparecer a energia que flui entre meu corpo e o seu. Como nossos andares é um dos últimos do prédio, entra e sai novas pessoas todo minuto dentro da cabine, mas nenhuma que me faça sair do lado dela. Para testar sua expressão fria eu deixo minha mão vagar para o seu lado, tocando meu dedo mindinho pelas costas de sua mão, apenas para sentir um pouco de sua pele.

Eda vira a cabeça para mim, como se estivesse surpresa pela minha audácia, mas logo se concentra em manter sua postura. Mas eu não quero só isso, aproveito que o elevador fica ridiculamente apertado e me aproximo mais dela, deixando minha mão vagar pelas suas costas, descendo da sua lombar lentamente até alcançar a sua bunda.

Foda-se eu ainda a quero. Muito.

Ela por impulso acaba dando um leve pulinho para frente, mas isso é o suficiente para que ela sem querer bata sua pasta em um dos senhores que está na sua frente. É engraçado que ela deixa sua máscara de gelo derreter, assumindo uma expressão atrapalhada, até começar a pedir desculpas, e claro que ninguém ousaria negar seu perdão.

Penso se eu não deveria acompanhá-la até o último andar onde fica o seu escritório, mas não quero passar dos limites e dar um show para os funcionários comentarem alguma coisa. Mas Eda sequer me dá essa oportunidade porque desce em um andar diferente, antes mesmo do meu próprio andar, então percebo que é onde fica o setor da sua amiga.

O dia percorre como qualquer outro, depois de passar a loucura do lançamento da última coleção, o trabalho fica ainda mais entediante... sem mais agitação, sem mais funcionários entrando e saindo da minha sala, e claro, sem mais visitas inesperadas da chefe andando pelos corredores.

Quando estou pensando em pegar minhas coisas e dar o fora daqui, Eda entra na minha sala inesperadamente e sem se deixar ser avisada. Tenho pena do que a pobre Leyla deve ter passado ao lidar diretamente com Eda e sua autoridade.

— Não fui comunicado da sua entrada — eu digo primeiro. Pela sua expressão eu sei que ela vai falar sobre o que aconteceu mais cedo no elevador.

— Eu não preciso comunicar minha entrada dentro da minha própria empresa — ela está deliciosamente irritada.

— A empresa pode ser sua, mas a sala é minha — gosto de provocá-la — Eu poderia estar em um momento íntimo aqui.

— Você não ousaria... — ela se aproxima de onde estou.

— Você sabe que, sim, eu ousaria. E eu tenho certeza que te mostrei muito bem.

— Você é um imbecil, Serkan — ela senta na cadeira em frente a minha mesa e cruza as pernas — O que foi aquilo no elevador? Você me fez fazer papel de idiota.

— Não fiz nada de mais... foi só minha mão passando pelo seu corpo, nada de novo.

— Eu bati no senhor que estava na minha frente! — ela está um pouco exasperada — O que será que eles devem estar pensando de mim? Todos olharam!

— Eda, provavelmente eles nem devem lembrar do que aconteceu.

— Passei muito tempo construindo minha imagem nessa empresa, Serkan. Não é tão fácil assumir cargo de liderança, principalmente quando se é mulher.

— Relaxe um pouco, eu sei que não deve ser fácil pra você — percebo que esse assunto realmente a incomoda —, mas me desculpe se isso de alguma forma te deixou desconfortável, eu não queria te colocar nessa posição.

Sua expressão suaviza e eu agradeço aos deuses por ela não ter ficado irritada e acabado tudo comigo.

— Eu não quero mais que você faça isso — ela diz.

É... talvez eu tenha agradecido aos deuses rápido demais.

— Claro, desculpe. Não vai mais se repetir.

Eu esperava que fossemos tentar mais vezes, o sexo foi fenomenal, pelo menos pra mim, então claro que é desanimadora sua objeção.

— Ao menos não quando não estivemos sozinhos, ou que de preferência não haja exposição na empresa — ela completa, dessa vez sorrindo.

— Porra, eu achei que você estava terminando comigo.

— Mas nós não temos nada, Serkan. Ou temos? — suas perguntas sempre são uma cilada.

— Mas poderíamos ter — sou honesto, não tenho mais tempo para joguinhos — Somos dois adultos, o sexo foi incrível, porque não deixar rolar?

— Claro, por que não? — ela me devolve com outra pergunta.

— Fora da empresa, certo? — deixo outra pergunta.

— Vamos jantar depois do expediente, hoje na minha casa — ela não pergunta, ela apenas afirma que temos um encontro —, mas sinta-se livre para recusar.

— Eu estarei lá, você não mora tão longe de mim... mas admito que estou ansioso pelo menu.

— Você tem alguma preferência por comida?

— Você já me basta — eu brinco, no entanto não é tão brincadeira assim.

Mas ela sorri e eu já me dou por vencido.

— Idiota — ela se levanta — Bem, eu já vou, preciso acertar algumas coisas no escritório antes de ir embora.

— Eu te acompanho até a porta — me levanto e vou até ela, mas a verdade é que eu quero roubar um beijo — Aliás, estou curioso, o que você disse para a Leyla?

— Nada, eu apenas entrei. Vou deixar sob sua responsabilidade dar uma boa desculpa para ela.

Eda tenta abrir a porta, mas eu seguro um pouco.

— Não sem um beijo — eu falo.

Eda apenas leva seus lábios aos meus e me dá um beijo simples. Um selinho demorado, mas não longo o bastante.

— Até mais, Serkan.

— Até.

Não consigo segurar a empolgação quando ela sai do meu escritório, mas não tenho tempo de pensar em outra coisa porque antes mesmo de eu chegar na minha mesa Leyla entra com mil e uma perguntas.

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