Two

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Durante todo o fim de semana eu pensei nela, tentei ocupar minha cabeça o máximo que pude, mas ela não saiu dos meus pensamentos.

Eu nunca estive tão ansioso para uma segunda feira de trabalho como estou agora. Já dentro do elevador, desta vez lotado de outros funcionários, volto a pensar no que aconteceu e se não fosse pelo cara da manutenção me abordando na entrada do prédio para pedir desculpas de novo, eu talvez pensaria que tudo não tinha passado de um delírio meu.

Um delírio muito bom e caótico.

Mas quando enfim chego ao meu escritório e chamo Leyla até a minha sala, recebo a resposta que não queria: Eda não está na empresa hoje.

— Como assim ela não veio? — acho que em todos esses meses aqui eu nunca vi Eda faltar um dia de trabalho.

— Do que isso te importa? — minha secretária, e amiga, diz. Ela ainda não sabe o que aconteceu porque não achei certo contar.

— Nada, eu... uh... acho que queria sugerir um novo projeto. — minto.

— Você? diretamente com ela?

— Ela é minha chefe afinal.

— A chefe que age como se você não existisse, não esqueça desse detalhe. — ela ressalta bem.

— Mas enfim, era só uma ideia, posso chamá-la quando ela retornar.

Mas claro que Eda não retornou, durante uma semana inteira ela não pisou os pés na empresa, mesmo com todos os gerentes enlouquecidos com os fins dos prazos chegando, ela tirou uns dias para trabalhar em casa.

No entanto, hoje todos nós temos uma reunião importante e eu sei que desse compromisso ela não ficaria de fora.

Então eu a vejo entrar na sala de conferência, em toda sua benevolência e poder. Ela apresenta os pontos da reunião, conserta algumas falhas e todos escrevem os novos reajustes. Sempre foi excitante vê-la exercer seu poder aqui dentro, numa empresa onde boa parte da equipe administrativa é formada por homens... isso nunca pareceu ser um problema para ela, pelo contrário, não há um único homem aqui que não tenha medo de ter a bunda chutada por ela, ou melhor, congelada.

A reunião acaba e ela é a primeira a sair da sala, mal tenho tempo de tentar acompanhá-la quando ela some da minha vista e provavelmente segue para a sua sala que fica no andar superior ao meu.

Quando volto para a minha sala, Leyla já está lá me esperando.

— A poderosa chefona pediu para entregar isso a você — ela está com pacote enorme nas mãos, provavelmente é o meu paletó.

— Ela veio aqui?

— Só nos seus sonhos — ela responde — Claro que ela mandou a secretária dela entregar, está se sentindo tão especial a ponto da princesa de gelo vir até aqui? O que aconteceu?

— Nada, eu só... achei que... uh... não achei nada. Esqueça. — toda minha capacidade de raciocínio foi drenada, não consigo pensar em uma boa desculpa para meu chilique quase adolescente.

— Mas porque ela está te entregando o seu paletó? Que diga-se de passagem, eu sei muito bem que foi o mesmo que você usou duas sextas feiras atrás.

— Talvez eu esteja assustado que você tenha notado minha roupa — tento tirar o foco.

— Não mude a direção da conversa — mas é claro que ela não cai.

Conselho: nunca tenha sua amiga como sua secretária.

— Ela... — pensa, pensa, pensa... — Derramou café em mim. — minto.

— Meu Deus, sério? Ela realmente te odeia!

— Não! — falo rápido antes que ela pense que Eda é uma megera total — Foi sem querer, ela meio que esbarrou em mim.

A mentira toda parece ter convencido a Leyla, que então começa a falar sobre os próximos protocolos do dia. No entanto, tenho até vergonha de admitir que meu pensamento continua em Eda.

Durante a pausa, vou até algumas áreas sociais para ver se ela está por perto, encontro sua secretária que diz que ela está almoçando em seu escritório. Então agindo por impulso sigo até a sala dela, para confrontá-la diretamente do seu trono de gelo.

Quando bato em sua porta, ela demora um pouco para abrir, mas é nítida sua surpresa ao me ver.

— Precisamos conversar — antes que ela pense em fechar a porta eu entro no escritório sem saber que ela está acompanhada. Só então percebo um cara em seu sofá, me olhando com cara de poucos amigos.

— Sim, claro... Eu só... — ela parece um pouco atrapalhada — Nos vemos depois?

Ela fala para o outro homem, que levanta e se despede dela com um beijo na bochecha.

— Não esqueça de acertar os últimos detalhes. — ele diz antes de sair e nos deixar a sós.

— Seu namorado? — pergunto.

— Isso não te interessa — ela rebate.

— Claro que me interessa, você estava com a língua na minha boca dias atrás. Esqueceu?

— Você não me deixa esquecer.

Ainda estamos de pé perto da porta, que agora está fechada, e tudo que eu desejo é beijá-la contra a parede.

— Olha, Serkan, me desculpe — Eda diz, me pegando de surpresa.

— Pelo que?

— Tudo. — ela economiza nas palavras.

— Seja mais específica, por favor — não gosto de pensar que ela não gostou do que quase fizemos.

— Por tudo que aconteceu no elevador, eu não deveria ter ido tão longe... então, uh, me desculpe.

— Você não veio trabalhar esses dias por causa de mim? — faço a pergunta que tem me torturado.

— Eu estava com muita vergonha, então sim. — ela ao menos é honesta.

— Então você se arrepende do que quase fizemos — era pra ser uma pergunta, mas minha voz soa afirmativa.

Eda não me responde e desvia o olhar do meu.

— Você se arrepende? — pergunto de novo.

— Me arrependo de poucas coisas em minha vida — ela é vaga na resposta.

— Você teria continuado com a distração se não tivéssemos sido interrompidos? — troco minha pergunta e ela me olha.

— Sim.

Isso é o bastante para que dessa vez eu a beije. Ela responde ao meu beijo, invadindo minha boca com a sua língua, e é tão bom quanto o beijo no elevador. Mas agora é um momento diferente, não há tanta luxúria como dentro do elevador, mas com certeza há algo mais... intenso, conflitante e sensual.

Tão rápido quanto o beijo começa, ele também termina. Eda continua de olhos fechados e eu preciso me controlar para não começar tudo de novo.

— Isso é pra te dar o que pensar, para que você saiba que pode ter muito mais. — Eu falo e abro a porta, saindo de sua sala, deixando para trás uma Eda com lábios vermelhos e ofegantes.

Passando no corredor eu limpo os vestígios do seu batom que ficou em minha boca, sorrindo pelo que acabou de acontecer e pensando no quanto ela beija fodidamente bem.

Acho que dessa vez eu venci esse jogo.

BO$$Onde histórias criam vida. Descubra agora