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A noite após aquela ligação foi um verdadeiro tormento. Meus pensamentos se tornaram um redemoinho incessante, cada um mais doloroso e confuso que o outro. A ideia de vê-lo novamente era como carregar um peso esmagador no peito. Cada vez que fechava os olhos, imaginava seu rosto, seu olhar perdido, e isso fazia as lágrimas brotarem novamente. Eu estava mergulhada em uma batalha interna, tentando decifrar se o que sentia era medo dele ou de mim mesma — de minha incapacidade de resistir a ele.

Na manhã seguinte, arrastei-me para o trabalho, ainda com os olhos inchados e a cabeça pesada. O aroma de resina do estúdio de balé trouxe uma sensação de normalidade bem-vinda, ainda que temporária. Faltavam apenas quinze dias para a grande apresentação, e a empolgação das alunas começava a contagiar até mesmo a mim, apesar de todo o turbilhão interno.

– Elas estão incríveis. – A voz familiar de Levi ecoou pelo estúdio, trazendo um calor inesperado. Ele estava ali novamente, observando os ensaios como vinha fazendo ultimamente, mesmo sem ter nenhum motivo aparente. – Tenho certeza de que vão ganhar. – Ele sorria de forma genuína, como se sua confiança pudesse transferir-se diretamente para as meninas e para mim.

– Obrigada. Ainda há detalhes para aperfeiçoar, mas estamos no caminho certo. – Respondi, tentando ignorar o sorriso que insistia em se formar no meu rosto.

Ele continuou ali, conversando brevemente com as meninas e oferecendo palavras de incentivo, até que, com um leve aceno, despediu-se.

– Não se esqueça, você é espetacular. – Suas palavras finais ficaram ecoando em minha mente enquanto ele saía, e senti uma pontada de conforto. Levi tinha sido uma presença constante e gentil, algo que, nesse momento, parecia inestimável.

Depois do ensaio, voltei para casa por volta das 17h40. Tomei um banho quente e demorado, tentando acalmar os nervos antes do encontro. Vesti algo simples — um vestido azul claro, confortável e sem pretensão. Não tinha vontade de me arrumar para vê-lo. Não era um encontro, mas um ponto final.

Frente ao espelho, fechei os olhos e respirei fundo várias vezes. Era a única maneira que encontrei para conter a ansiedade que parecia crescer dentro de mim como uma onda pronta para engolir tudo. Peguei as chaves do carro e segui para a praça.

Quando o avistei de longe, quase perdi o controle do carro. Eren estava sentado em um banco, segurando um papel nas mãos. Parecia uma sombra de si mesmo. Magro, abatido, os cabelos desgrenhados e o olhar vazio. Fiquei no carro por alguns minutos, observando-o de longe, tentando reunir a coragem que me faltava.

Finalmente, desci e caminhei até ele, cada passo me exigindo mais força do que eu achava possuir.

– Boa noite. – Minha voz saiu quase inaudível. Ele demorou alguns segundos para erguer a cabeça, e quando o fez, seu olhar encontrou o meu com uma mistura de tristeza e resignação. – Aqui estou – acrescentei, tentando romper o silêncio que se instalara entre nós.

– Desculpe... Não sei o que dizer. – Sua voz era rouca, quase quebrada. – Eu só... Eu só queria ver seu rosto pela última vez. ― Engoli em seco. Aquelas palavras me atingiram como um golpe.

– Última vez? – Sussurrei, a insegurança e o medo transparecendo na minha voz. Ele desviou o olhar, encarando algum ponto indefinido no chão.

– Sim. Não posso mais fazer isso com você... nem comigo. Por mais que eu te ame, sei que sou um peso na sua vida. E não é justo. – Sua voz vacilava, cheia de arrependimento. – Nada faz mais sentido. Tudo o que eu faço é machucar a única pessoa que eu mais amo no mundo.

Meu coração parecia despencar, e as palavras não vinham. Eu sabia que ele tinha razão, mas ouvir aquilo era devastador.

– Não se culpe tanto. – Minha voz saiu hesitante, quase implorando para que ele não carregasse tanto sofrimento. – Talvez estejamos prontos para isso. Nem sempre almas gêmeas ficam juntas, Eren. Às vezes, o encontro é o suficiente. ― As lágrimas ardiam em meus olhos, mas eu me forcei a manter a compostura. – Você foi importante para mim, e sempre será. Mas acho que esse é o momento de seguirmos em frente.

– Eu só queria que as coisas fossem diferentes... – Ele murmurou, a voz embargada. – Eu te amo, Marissa. Nunca duvide disso. E me desculpe por todo o sofrimento que causei.

Eu mal consegui responder. Um simples "eu também te amo" escapou de meus lábios, mas não havia mais nada a ser dito. Ele se levantou, hesitante, e começou a se afastar.

Antes de sair completamente, virei-me para o banco onde ele estava e vi o papel que ele segurava anteriormente. Era uma carta. Meu nome estava escrito no envelope. Peguei-a, mas guardei-a sem abrir. Não tinha forças para lidar com mais nada naquele momento.

Cheguei em casa com o coração pesado e a mente cheia de lembranças. Deitei na cama, a carta ainda intocada ao meu lado.

O amor não deveria doer tanto assim.

𝐖𝐀𝐈𝐓𝐈𝐍𝐆 𝐅𝐎𝐑 𝐘𝐎𝐔, eren yeager Onde histórias criam vida. Descubra agora