Os quatro deuses

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Nas primeiras páginas do livreto Navi percebeu que se tratava de uma mitologia muito mais complexa do que a que Amze havia narrado. A narrativa contava sobre quatro deuses.

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Em uma era distante, onde a escuridão dominava o vazio, surgiu uma criatura colossal chamada Argan, conhecida como "O Racional". Argan, um sábio que já nascera velho e poderoso, criou o tempo e aprendeu a controlá-lo. Viajando entre seu vazio e outros mundos em diferentes dimensões e datas. Descobriu vida, alegria e amores. Embora contente, sentia que o vazio precisava ser preenchido. Orientando o vazio, criaram um irmão: Mortemus, apelidado de "O Imponente", aprendeu a criar a vida. Maior até mesmo que Argan, seu corpo era composto de terra, árvores, plantas e água — a vida que Argan encontrou em outros mundos.

Decidiram, então, criar um globo onde a vida floresceria. Brincando com suas habilidades divinas, moldaram terras, cachoeiras, oceanos, montanhas, animais, florestas e penhascos. O vazio, que outrora criou os irmãos, aprovou a não ser mais vazio e gerou Shivan, "O Sábio". Shivan, um ser de beleza ímpar, apresentava um rosto de dragão destacando-se em seu corpo púrpura, com escamas brilhantes de efeito furta-cor. Sua longa cauda arrastava-se pelo vazio, criando constelações e estrelas ao caminhar.

Shivan propôs uma ideia aos outros deuses: replicar suas consciências nas criações dos irmãos mais velhos. Assim, selecionaram, evoluíram e dotaram de consciência diversas criaturas vivas. Com a vida, o vazio gerou a irmã caçula dos três deuses, Daolamec. Ela era muito menor que os irmãos, mas não era menos poderosa. Com pele branca emitindo luz própria e usando seu cajado, guiava as almas desprendidas da criação de seus irmãos, como cordeiros em um rebanho, de volta à vida. Suas asas eram luz orientadora e o véu que cobria seu corpo, o conforto para as almas puras. Se a alma era má ou tirana, Daolamec as descartava no vazio, onde o espírito se dissipava. Sua intenção era benevolente, querendo que apenas os bons frutos permanecessem.

Assim nasceu Zorath, um mundo próspero e tão próximo de seus deuses que cada pessoa, cada povo podia sentir a presença de seus criadores em suas almas, e ouvi-los em seus sonhos. Cada casta tinha um deus guia que os inspirava e trazia bons frutos, até que tudo mudou.

Com o tempo, em Zorath, chegou uma era em que os deuses cessaram suas interações com suas criações. O silêncio divino pairou sobre o mundo, e as lendas sobre os quatro deuses começaram a tomar forma entre os seres pensantes.

O primeiro deus a desaparecer foi Argan. Seus seguidores, outrora acostumados a ouvir suas conversas, profecias e parábolas, sentiram-se abandonados. O vazio criado pela ausência de Argan levou-os ao desespero, e uma crença sombria começou a se espalhar: Argan estava morto. Logo em seguida, os seguidores de Daolamec foram os próximos a perder o contato com a deusa. Os devotos de Argan, em sua aflição, ampliaram as lendas, imaginando que Daolamec havia assassinado Argan. Em um cenário de exílio e traição, uma guerra monumental eclodiu entre os seguidores dos dois deuses desaparecidos.

O terceiro a desaparecer foi Shivan. Agora, em consenso, os crentes de Argan e Daolamec elaboraram uma narrativa diferente: Shivan, o dragão sábio e imponente, teria assassinado Argan e, em seguida, incriminado sua própria irmã caçula. Uma aliança improvável foi forjada entre os seguidores de Argan e Daolamec, que se uniram para erradicar todos aqueles que adoravam Shivan e não traziam respostas.

Enquanto isso, os humanos eram os únicos que ainda mantinham contato com seu deus, Mortemus, o imponente. Eram os únicos que ouviam seus mandamentos e histórias. Quando os povos em guerra buscaram respostas junto aos humanos, Mortemus permaneceu em silêncio, sem oferecer explicação sobre o desaparecimento dos outros deuses. A falta de respostas apenas intensificou a fúria entre os povos em conflito.

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