Capítulo 14: Água Cristalina.

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Halley

Atirei a flecha, observando pelo canto dos olhos Olívia me observar, como se eu fosse um mapa a ser descoberto. Atirei outra flecha, acertando o meio da árvore. E depois outra e outra. Sem errar nenhum tiro.

—Você é boa. —Ouvi ela dizer, se aproximando de mim a passos calmos. —Nunca tinha tocado em um arco antes? —Neguei com a cabeça, me preparando para lançar outra flecha. —Por que escolheu um arco em vez de uma espada? Ou adagas como Holly?

—Meu reflexo. —Falei, vendo ela juntar as sobrancelhas. —Posso ver meu reflexo nas lâminas.

—E o que tem de errado nisso? —Indagou, parecendo curiosa. Encarei a flecha na minha mão, girando ela nos meus dedos, até prendê-la na corda do arco para atirar.

—Só não gosto de ver meu reflexo. Em nada. —Atirei, vendo ela girar no ar e acertar o centro da árvore. —Me lembra o reflexo que eu via de mim, nas águas que se empoçavam no chão da torre.

Olívia ficou em silêncio, piscando algumas vezes, como se estivesse confusa. Então ela assentiu, abaixando os olhos para a grama embaixo dos seus pés.

—Eu não tenho nenhum problema com você, se quer saber. —Comentou, após alguns instantes em silêncio. —Sei que Mackenzie as vezes é complicado. Mas...

—Não precisa me dizer que ele teve uma vida difícil. Todos nós aqui tivemos, não é? —Encarei ela por cima do ombro. —Imagino que até mesmo você tenha tido.

—Eu não era a pessoa mais amável do mundo. —Ela abriu um sorriso fraco. —Minha dimensão é muito diferente da sua. Lá éramos constantemente avaliados. E eu sempre quis ser a melhor em tudo.

—Isso não atrai simpatia. —Falei, caminhando até a árvore para tirar as flechas. Olívia me encarou com um ar surpreso, mas assentiu. —Não sinto que seja uma má pessoa, se quer saber. —Devolvi aquele meio elogio.

—Mas estou longe de ser uma boa pessoa também. —Ela deslizou a mão pelo cabelo vermelho, parecendo pensar longe. —Gosto de Mackenzie por isso. Tenho muitos defeitos. Mas ele não parece se importar com nenhum deles.

—Ele te incita a ser sempre melhor. —Comentei, vendo ela abrir um sorriso.

—Exatamente isso.

—E o que você faz por ele? —Questionei, caminhando para perto dela, observando os cabelos ruivos, um pouco lisos demais.

—Estou tentando concertar a parte dele que está quebrada. Porque ele também não é uma má pessoa. —Afirmou, dando de ombros. —É isso que fazemos quando gostamos muito de alguém, não é? Amamos as partes ruins e tentamos concertar o que está quebrado.

Encarei ela, não tendo certeza do que deveria falar naquele momento. Eu não entendia meus próprios sentimentos. Não entendia muito das coisas que aconteciam comigo. Estremeci ao escutar aquilo de novo. Aqueles sussurros. Olhei ao redor, para o jardim florido a nossa volta. Mas não havia nada ali.

—Halley, você está bem? —Tropecei para trás, quando Olívia colocou a mão no meu braço, me fazendo voltar a realidade. —Você ficou com uma expressão estranha.

—Nada. —Falei, olhando ao redor uma última vez. —Não é nada.

Olhei para a casa, vendo Aaron surgir pela porta com uma cara nada boa. Ele caminhou pelo jardim na minha direção, enquanto eu ajeitava o arco no suporte da minha jaqueta.

—Como foi? —Indagou, apontando para as flechas.

—Ela é boa. Não precisa nem treinar muito. —Olívia respondeu no meu lugar, piscando pra mim antes de se afastar em direção a Mackenzie, que também havia aparecido no jardim.

—Ótimo, porque não temos muito tempo. —Afirmou, fazendo um sinal para que eu o seguisse.

—Você sabe onde ele está? —Indaguei, sentindo meu peito se apertar. Havia muitas coisas que envolviam Atlas. E eu tinha certeza que tudo que eu sabia dele era muito mais profundo do que ele havia me contado.

—Sei pra onde estão levando ele. —Afirmou. —Estava em Porto Marítimo. O outro reino bruxo da dimensão que você estava presa. Mas agora está sendo levado para a Ilha dos Pesadelos na nossa dimensão. Precisamos encontrá-lo antes que eles pisem naquela ilha.

—E quanto tempo temos? —Questionei, lembrando de todas as lendas e histórias de terror que havia escutado sobre a Ilha dos Pesadelos.

—Acho que não muito. —Afirmou, parando ao lado de Mackenzie e se virando pra mim. —Pronta?

[...]

Olhei para os meus pés, vendo a grama muito verde em que eu pisava. Porto Marítimo era um reino sobre as águas, literalmente. Havia algumas elevações de terras, com pequenas florestas coloridas e vibrantes, como a que estávamos. Mas a maior parte era água. Água e mais água por todo lado.

Parei na beirada da elevação, vendo a água cristalina que se estendia até outra pequena ilha de terra, então a contornava até criar mais ilhas. A água era rasa ao nosso redor, me permitindo ver o fundo, colorido com vários peixes e outras criaturas.

—Esse lugar é tão estranho. —Ouvi a voz de Olívia e me virei, vendo ela encarar a pequena ilha em que estávamos, rodeada por água cristalina. —Não há muita terra firme.

—É... exótica. —Falei, vendo ela abrir um sorriso e concordar com a cabeça, como se estivesse pensando o mesmo. —Acha que ele ainda está aqui? Que ainda temos tempo?

—Eu não sei, Halley. Ele pode já ter sido levado daqui a muito tempo. Isaac não costuma ser muito preciso. —Ela deu de ombros. —Normalmente ele conta tudo pela metade.

Olhei para o lado, para as sombras que surgiam como noite no meio de toda vida daquela pequena ilha. Mackenzie e Aaron surgiram no meio delas. Mackenzie parecia indiferente a qualquer coisa, o que eu havia percebido ser normal. E Aaron estava com uma expressão irritada, o que também parecia ser normal.

—Então? —Eu e Olívia perguntamos juntas.

—Chegamos tarde. Ele já foi para a nossa dimensão. —Aaron afirmou, soltando um suspiro frustrado. —Isso significa que agora temos que entrar na Ilha dos Pesadelos. E não acho que vá ser muito fácil. —Ele deu de ombros. —Ah não ser que nos quatro tenhamos o dom de controlar nossos pensamentos, o que eu acho que não.




Continua...

Reino de Gelo e Destruição / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora