Capítulo 3: Corvo.

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Holly

—Acha que ele está armando alguma coisa? —Questionei Aaron, vendo ele encarar o jardim pela janela. —Mackenzie não viu absolutamente nada de diferente.

—Só Atlas poderia nos responder isso. Mas pelo visto ele resolver desaparecer de vez. —Aaron suspirou, se virando para mim e abrindo um sorriso. —Independente disso, vamos ficar bem.

—Ja ouvi muito isso. —Retruquei e ele deu de ombros, se colocando de pé e vindo até mim. —O que acha que Atlas esta fazendo?

Aaron parou na minha frente, colocando as mãos na minha cintura. Fiquei esperando que ele dissesse algo, mas o mesmo apenas balançou a cabeça negativamente. Ergui os olhos para o topo da escada, quando Halley apareceu na mesma com uma expressão séria.

—Esta tudo bem, Halley? —Aaron questionou e ela apenas assentiu, abaixando a cabeça para passar. Segui ela com os olhos, vendo a mesma ir em direção a cozinha, onde Eris estava mexendo em algumas ervas.

—Olá. —A voz baixa chamou a atenção de Eris na mesma hora e ele pareceu confuso ao vê-la ali, falando com ele.

—Oi, Halley. Precisa de alguma coisa? —Eu e Aaron ficamos observando os dois. Halley negou com a cabeça e apontou para as ervas na mão de Eris.

—Holly me disse que você é um mago. —Eris piscou, olhando para ela com atenção. Halley esfregou uma mão na outra. —É verdade que pode sentir a magia de outros seres?

—Sim, é verdade. Posso sentir a magia de qualquer criatura. Principalmente a dos portadores. —Ele voltou a atenção para o que quer que estivesse fazendo e Halley o observou. —Todos os magos podem fazer isso. Podemos dizer o que cada um carrega dentro de si.

—E você pode sentir algo em mim? —Eris parou quando ouviu a pergunta e ergueu os olhos. —Pode sentir algo vindo de mim? Alguma coisa ruim?

—Porque está perguntando isso? —Questionei e Halley virou o rosto na minha direção, com as  bochechas ganhando um tom avermelhado, como se ela tivesse sido pega fazendo alguma coisa muito errada.

—Eu só... —Ela encolheu os ombros e abaixou a cabeça. —Tem algum problema comigo?

A pergunta não era para alguém em específico. Mas olhei para Aaron e vi que ele encarava o topo da escada com os olhos cerrados.

—Não a nada de errado com você, Halley. —Eris afirmou, me fazendo voltar a olhar para os dois. —Não sinto nada de errado vindo de você. Não sei porque está pensando isso, mas fique tranquila.

—Halley? —Chamei e ela ergueu os olhos.

—Nos podemos sair? —Indagou, esfregando uma mão na outra de novo. —Estou cansada de ficar aqui.

—É claro. —Abri um sorriso. —Podemos ir dar uma volta na cidade. Podemos chamar Amaris e Olívia...

—Só nós duas. —Pediu, parecendo com medo da resposta. —Por favor.

E foi inevitável dizer não quando ela me encarou com aqueles olhos azuis. Então assenti.

[...]

A cidade estava movimentada naquele horário do dia. Haviam muitas pessoas andando de um lado para o outro e sorrindo simpaticamente. Eu e Halley caminhamos ao lado uma da outra, com os braços enlaçados. Seguimos pelas ruas de pedra até uma pequena feira, onde a atenção de Halley ficou em todas as coisas que se vendiam ali.

—O que há de errado? —Questionei e ela ergueu os olhos até mim. —Porque perguntou aquilo a Eris?

—Não consigo conversar com os outros por mais de cinco minutos. Não consigo sequer ficar perto de tantas pessoas sem me sentir estranha. —Ela olhou envolta, como se estar ali no meio fosse um tipo de prova. —Talvez tenha algo de errado comigo, sim.

—É claro que não tem. Você ficou presa por muito tempo. É normal sentir dificuldade de socializar. —Rebati e ela encolheu os ombros. Halley voltou a atenção para a feira envolta de nós.

—Como percebeu que estava apaixonada por Aaron? —Indagou, como se quisesse fugir do outro assunto. —Você estava tentando matá-lo.

Ri daquele fato. Eu odiei Aaron parte da minha vida e quando fui colocada na frente dele, a atração falou muito mais alto. E pensar que por várias vezes desejei matá-lo. E hoje, o simples pensamento, me quebra por dentro. Ainda consigo lembrar da sensação de vê-lo morrendo nos meus braços.

—No fundo eu sempre soube que era. Só estava lutando contra isso, pra não ir contra o que eu acreditava. —Declarei, sentindo um gosto amargo na boca. —No fim, eu estava errada.

Halley me olhou com um sorriso pequeno, como se me entendesse. Ela sorriu para as pessoas que passavam por nós e nos cumprimentavam.

—Acha que Atlas está bem? —Questionou e eu não soube responder. Halley encolheu os ombros de novo.

—Não se preocupe, vamos encontrá-lo ainda. —Afirmei, abrindo um sorriso largo e ela não pareceu acreditar.

Soltei um suspiro quando Halley ficou em silêncio e nós duas continuamos a andar, observando as frutas e comidas que estavam sendo vendidas. A feira era um labirinto de barraquinhas e tentas repletas de vendedores que ficavam gritando promoções e preços.

—Quer provar alguma coisa? —Questionei e Halley assentiu com a cabeça, apontando pra uma barraquinha de doces. Olhei de relance para trás, quando senti minha nuca formigar. Mas não havia nada, apenas mais pessoas comprando coisas e vendendo. Voltei a olhar para frente, quando Halley parou na frente da barraquinha e a vendedora começou a conversar com ela sobre o que tinha ali.

Engoli em seco, fixando meus olhos no corvo que estava parado em um cordão que passava sobre as barracas. Ele estava ali, silencioso e virando a cabeça como se quisesse um ângulo melhor pra olhar. Apertei meu braço contra o de Halley.

—Olá, Adya. —Sussurrei para o corvo, que cantou em resposta.


Continua...

Reino de Gelo e Destruição / Vol. 3Onde histórias criam vida. Descubra agora