A criança ouve o despedaçar do crânio da sua mãe.
"Corre."
"Corre e nunca mais pares."
"Corre Abram, continua a correr"Abram sabia quem era desde muito cedo.
Nathaniel tinha cinco anos quando testemunhou a morte pela primeira vez.
"Demasiado lento Júnior"
E a governanta, Caroline, estava agora com o corpo mole no chão, olhos abertos sem alma a olhar para si.
E se pudesse ver cores, que não podia, tinha a certeza que o sangue não era uma cor fraca.
Nathaniel tinha sete anos quando matou o seu primeiro pássaro.
"Demasiado lento Júnior"
Nathaniel tinha dez anos quando sua mãe o acordou no meio da noite.
"Nem uma palavra Abram"
Chris tinha quatorze anos quando andou de avião pela primeira vez.
"Relaxa Abram"
Stefan tinha dezasseis anos quando aprendeu um novo idioma.
"Errado tenta outra vez" veio seguido de um chute em sua barriga
Neil tinha dezoito anos quando tentou se matar pela primeira vez.
Não tinha comprimidos suficientes.
Neil Josten era talvez o pior dos seus alteregos e também o mais parecido a Abram. Sua mãe nunca deixaria, ela não estava aqui agora.
Ao andar pelas ruas com o casaco que não lava á dias pensa em Mary. Ela não era boa mãe, longe disso, na verdade era um demónio. Um demónio que o mantinha seguro.
Neil pode ter perdido as contas de quantas vezes lhe bateu, mas nunca se esquecerá da primeira.
"—Mamãe de que cor é o carro?"
Nunca viu uma mão vir ter á sua cara tão rápido.Era tudo sobre isso, não era? Almas gêmeas.
"—Abram não há interesse nas cores, não para alguém como você. Nunca as irás ver compreendes? Isso não é uma benção, é uma maldição e não quero ouvir-te a falar sobre almas gêmeas nem mais um segundo."
Bem Neil podia reprimir, aliás a ideia de estar ligado a alguém realmente nunca lhe soou como uma benção. Neil não se apaixona.
Eram as cores que despertavam o seu interesse.Só serás capaz de ver cores quando cruzares os olhos com a tua alma gêmea. Fazia parecer como algo romântico mas era mais deprimente na opinião de Neil.
Se pessoas sem alma gêmea existem, Neil tem a certeza que é uma delas.
Neil acha improvável, afinal se o seu pai tinha uma alma gêmea toda a gente teria uma também.Teve de parar pela desconfortável sensação de areia nos sapatos, desde que enterrou a sua mãe que de lá não saía e já se faziam uns meses. Precisava de roupa nova.
Ah sim essa era outra, o dinheiro da sua mãe, bem na verdade do seu pai, foi roubado há pouco mais de uma semana. Neil tem vivido na rua desde então.
Caminha assim à procura de algo para lhe tirar o sofrimento, algo mais eficaz que aqueles comprimidos.
Vê um prédio vermelho escuro, e pensa que para o tipo de pessoa que deve viver lá seria perfeitamente credível que alguém se tivesse mandado, e a queda é grande o suficiente para saber que não resiste.
Ao entrar o cheiro a droga sobrepõem o cheiro a rato morto.
Sobe as escadas de emergência até ao telhado era este o momento que estava á espera.
E por algum motivo olhava para o chão, não sentia medo, apenas pouca vontade de se mandar. A ideia pareceu mais apelativa que a execução.
Ficou ali parado por um tempo só a olhar, observar as pequenas formigas a viver a sua vida, mais á direita uma jovem estava visivelmente com pressa, talvez uma entrevista de emprego? Já á esquerda um casal trocava flores.
Neil gostava de observar a vida, sempre gostou.
Ficou lá parado.
— Precisas de um empurrãozinho? – uma voz congestionada saiu de trás dele.
—Não – respondeu Neil, sem desviar o olhar do chão
— É uma pena porque estás a estragar a vista – a voz saí entediada mas com um tom de aviso.
O que esse cara quer?
— Olha vai-te embora okay? – quando Neil diz isso ouve o cara misterioso soltar algo parecido com um riso – tem piada?
Neil tenta virar-se para o estranho quando pergunta mas acaba por perder o equilíbrio.
Por momentos sente medo, mas não era isso que ele queria para início de conversa?
O vento em seu corpo não vem, e muito menos a queda, envez disso uma mão quente agarra fortemente a sua fria.
Os seus olhos encontram-se com os do estranho e derrepente um clarão o força a fechar novamente.
Pisca varias vezes.
Cor.Derrepente o mundo cinzento se forma á sua volta com milhares de tons diferentes, então é assim que o céu é?
Neil não podia fingir que não estava fascinado, estava tão fascinado que aliás nem tinha parado para pensar o que isso significava. Almas gêmeas.
Neil não era um crente, mas quando olhou melhor para a sua alma gêmea quase acreditou no destino.
Vejam bem, Neil não se apaixona, Neil não balança, mas se o fizesse seria por alguém assim. Pensamento perigoso.
Os cabelos eram brilhantes à luz do sol, não sabia que cor era essa, mas de acordo com as descrições dos livros imagina que seja algo entre amarelo e dourado.
A sua cara era pintada com sardas que eram de um tom apenas um bocado mais escuro que a pele clara. Olhos da mesma cor das sardas, não se lembra de ler sobre alguma cor que bata com o que está ver ali.
Castanho? Mas não, não soava certo era mais que isso, demasiado suave.
Um pensamento engraçado já que o cara como um todo era tudo menos suave.Neil não era o único fascinado já que o "cachinhos dourados" estava embasbacado olhando para os seus olhos.
Neil tenta não corar com o pensamento de que com todas as cicatrizes em sua face o estranho preferiu ter curiosidade sobre a íris dos seus olhos.
—Olhando – Neil sorri atravessado enquanto fala, quase como uma vitória silenciosa contra o estranho.
— Cuidado – alertou o desconhecido – ainda posso soltar.
O sorriso de Neil só aumentou.
Touché.
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<3
.- Oh quem voltoooou e voltei com os meus surtos de madrugada.
- e trarei a versão do Andrew não tarda nada pois ando bastante inspirada.
- Se pudessem votar, ficaria feliz Mwah Mwah.
-Revisei até mais ou menos vai.
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Stay - All for the game
FanfictionAndrew Minyard tenta não ligar para a sua alma gêmea, é só mais uma pessoa que não apareceu para o vir buscar. Neil Josten perdeu sua mãe, morou na rua até lhe roubarem a mochila juntamente com todo o dinheiro. Cansado decide por um fim a tudo, é pe...