II

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Portas abrirem no meio da noite nunca é um bom presságio.

Andrew Doe conheceu o verdadeiro monstro debaixo da cama cedo demais.

Vejam bem, para uma criança órfã, sem família, sem amigos e sem amor, uma alma gêmea parecia ser um oásis no deserto, para satisfazer os seus desejos mais básicos e primitivos.

Para estas crianças, almas gêmeas não eram nada além de uma esperança, um cartão de livre saída.

Alguém que estava destinado a ama-los para sempre, não importa como sejam ou o que façam.
Andrew gosta disso, gosta tanto que nem se preocupava com o conceito de ser controlado pelo destino.

Até que Andrew cresceu. E a alma gêmea nunca apareceu para o tirar daqueles orfanatos, para o tirar daquelas casas, para o tirar daquelas mãos.

A sua alma gêmea era só mais alguém que não aparaceu para o vir buscar, abandono, Andrew estava familiarizado com esse sentimento.

E depois Aaron apareceu com aquele complexo de herói, quer dizer ninguém pode ser assim tão altruísta, é um falso e obviamente drogado, não que os outros vejam isso.

E depois veio Nicky, e consequentemente um emprego que o levou até Renee.

Sim, o controlo que o destino exercia nunca foi algo que Andrew se preocupasse em lutar contra.

Era inevitável.

Isso era inevitável.

Aqueles olhos eram inevitáveis.

Andrew nunca foi de impedir as pessoas de caírem na própria miséria, além do seu irmão mas isso era diferente. Tirando essa situação, a miséria costuma adorar companhia.

Por algum motivo algo lhe dizia para impedir o jovem mal vestido de se mandar daquele telhado.

O ar à sua volta cheirava a tabaco e a alguma erva medicinal, e não teve tempo de continuar a pensar quando a sua mão agarrou a do estranho.

E o mundo desfez-se em cores.
Mas nada era mais colorido do que o homem à sua frente.
Por um momento talvez Andrew quisesse lutar contra o destino.

Andrew gosta daquela cor, os olhos, ou seriam mais de uma?

— Olhando – algum sorriso de merda passa pelo rosto do suicida.

—Cuidado – provoquei – ainda posso soltar.

—Podes – continuou – mas não vais.

— Tens sempre muita fé em pessoas que não conheces? Não admira que te querias matar.

Isso fez o desconhecido soltar uma gargalhada genuína. E Andrew viu-se a tirá-lo da beira antes mesmo de poder pensar em fazê-lo.

— Imaginei varias vezes como isso iria acontecer – solto despretensiosamente

— O quê achaste que te daria flores? - o tom era trocista - "Olá belo desconhecido, que me proporcionou um update ocular queres casar e viver feliz para sempre?'

— Okay eu entendi – que sorte que me há saído, ele não parece propriamente abalado com a descoberta da sua alma gêmea, mas para ser sincero nem eu esperava estar tão calmo como estou.

— Agora se me dás licença a vida não se ganha sozinha, têm um bom dia cachinhos dourados.

Andrew tentou não ficar paralisado com a interação que teve com o bonito, destinado a ele, estranho homem que se ia atirar do telhado, pisou no cigarro e foi para dentro.

—————

— Ei Andrew, vou fazer lasanha para o jantar - Aaron aparece, a usar avental com vários babados e uma cor clara, está ridículo, mas ele já é.

— carne ou atum? - perguntou como se nada se passasse na sua cabeça.

— Atum Andrew, não me insultes - disse muito ofendido, quando Andrew notou o lacinho no canto do avental.

— Boa  – disse subindo um degrau, parou – E... Aaron  – olhou para o irmão que já estava olhando para ele com cara de peixe morto, sem conseguir resistir à tentação disse: – O avental, essa cor não nos favorece. – e subiu escada acima.

— Andrew, como você?... em nome do Lorde o que Caralhos - Andrew não ouviu o resto das constatações

Quando se deitou foi ao google procurar imagens do céu para mandar a Renee:
"Que cor é essa?"
"Azul"
"👍"

Azul. Andrew tinha visão full hd há menos de vinte e quatro horas e já tinha encontrado a sua cor favorita.

______

Amaldiçoa Aaron por não saber comprar absorventes com abas para a sua namorada e ter de ligar a Andrew que estava saindo do expediente para ir comprar.
A este ponto Katelyn devia namorar Andrew e não Aaron, quase se engasgou com o pensamento mas o ridículo tinha a sua graça.

— Não quer saco? – O homem de cabelo preto sorriu

— Não obrigado – dirigiu-se à saída enquanto dizia.

— au revoir – Despediu-se o farmacêutico, com um sotaque demasiado nativo para estar a troçar de si.

Não conseguia pensar na hora de ver a sua cama novamente, quase tanto como não conseguia parar de pensar no estranho do telhado, será que chegou a se matar?

Como se o destino não gostasse de brincar consigo, acabou de ver um homem com um cabelo demasiado vermelho para ser irreconhecível, a dormir num banco de jardim á sua frente.

Bem, de todas as almas gêmeas do mundo Andrew não podia ter calhado com um bilionário.

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- um pouco do pov do Andrew pq faz bem para a saúde

- Se quiserem votar, ficaria imensamente grata <33

-Não foi revisto, irei revisar pela manhã, ou talvez não.

Stay - All for the gameOnde histórias criam vida. Descubra agora