Neil lidou com a verdade a sua frente: Isso não duraria para sempre.
Como tal Neil se viu guardando todos os pertences que utilizava de volta na mochila, nunca arrumando no apartamento, ele sabia que uma hora ou outra teria de voltar a colocar a mochila às costas.
Todos os dias saía para correr, para não perder o costume.
Em constante desassossego ele lidava com a morte antecipada.
Os homens do seu pai vão chegar até ele e não pode permitir que cheguem a Andrew.
O loiro nota o seu comportamento frequentemente exigindo que ele pare de agir como um coelho, Neil apenas sorri com isso.
Ele colocou a raposa na sua mochila também, pensa na fúria de sua mãe ao carregar algo tão desnecessário e que ocupa tanto espaço, mas Neil fazia questão de quando for, levar um pedaço de Andrew com ele.
Neil é novo nisso de amizades.
Todos os dias observa Andrew sentado numa poltrona lendo algum romance policial e não pode deixar de sentir a corda em seu peito o puxar para perto, malditas almas gêmeas.
As vezes fumavam na varanda e trocavam verdades, essa era uma dessas noites, até deixar de ser.
- Não gostas de contacto físico - afirma Neil enquanto inala a fumaça.
- Que observador - Andrew indaga.
- Por que? - Neil se atreve a tentar, e o olhar que Andrew lhe dá fá-lo arrepender-se.
- E eu preciso de um motivo?
- Bem... Não. - Neil não disse mais nada e ouviu Andrew suspirar ao seu lado.
- Cresci num orfanato, varias famílias adotivas, as pessoas não sabem manter as mãos para elas mesma e você consegue adivinhar o resto - Andrew deu outra tragada no cigarro.
O silêncio estendeu-se muito pesado, se o que a imaginação de Neil criou estava correto é melhor ele nunca se cruzar com as pessoas que fizeram isso, no meio de tantos pensamentos odiosos esqueceu-se completamente do tamanho dessa confissão, Neil deveria dar-lhe uma verdade em troca?
- Pensa mais baixo - esbraveja.
- Obrigado - Andrew olhou - por me contares.
O loiro virou-se e entrou em casa.
Não disse mais nada pelo resto da noite.Neil tinha se decidido: Não deixaria nada acontecer a Andrew.
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Neil tinha voltado de uma corrida, suado e cansado.
Andrew esperava na porta, amaldiçoando os pecaminosos shorts curtos de Neil.
- Quando você vai parar com isso? - Andrew perguntou incomodado.
- Parar com o que? - Neil pergunta levianamente.
- De correr.
Neil calou-se por um momento.
- Quando você parar de me ignorar - Neil rebateu.
Andrew não falava com ele há uma semana, sempre evitando desde a conversa na varanda.
- Eu não estou te ignorando
- Certo - diz Neil de maneira irónica e sobe para a casa de banho, o suspiro de consternação vindo de Andrew será a sua única resposta nesse dia.
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O gelo quebrou em uma manhã fria de novembro. Um mês se passava desde que eles tinham se afastado friamente, mas por Andrew que qualquer coisa.
Eles estavam na varanda, Neil tinha acabado de lhe roubar um cigarro, e estava inalando o fumo.
Andrew se deixa extasiar pela visão e sua boca se abre sem aviso.
- Como te convenço a ficar? - Andrew fala com ele pela primeira vez em semanas.
Neil fica um pouco abalado por ouvir a sua voz.
- O quê? - Neil pergunta perplexo.
- De correr, como eu faço você parar de correr?
- Andrew... Isso não vai acontecer eles vão chegar a mim eventualmente. - Neil morde a língua para conter aquele estúpido impulso em seu peito que diz para ele se abrir por completo, aquele instinto primitivo que só irá parar quando entregar sua alma a Andrew.
Almas gêmeas estupidas.
- Eles quem? - Andrew pergunto imediatamente, fingindo não sentir a pontada de agonia do laço invisível em seu peito, algo afetou Neil e de alguma forma Andrew sentiu também: algo primitivo e insaciável.
- Andrew eu... Não posso - Neil tenta continuar mas andrew corta-o. - é perigoso, você já se envolveu mais do que deveria.
- Eu não me importo.
- Não vou deixar que eles cheguem até a sua família - até você Neil quis dizer mas sabia que Andrew não aceitaria bem - estou disposto a arriscar a minha. Não estou disposto a arriscar a deles.
- Não tens de o fazer - Andrew disse - faço eu isso.
Neil não disse nada. Andrew enfiou os dedos no colarinho da camisa de Neil e puxou o suficiente para que ele sentisse.
- Sei o que estou a fazer. Sabia no que me estava a meter quando te deixei entrar por aquela porta. Sabia o que isso nos poderia custar e até onde teria de ir. Você não está indo a lugar nenhum, entendeu? Ficas comigo.
Andrew só largou a sua camisa quando Neil assentiu, e depois pegou-lhe na mão. Tirou o cigarro, colocou-o entre os lábios e depositou uma chave quente na palma da mão vazia de Neil.
Este levantou a mão para olhar. O logotipo gravado significava uma copia. Neil só não sabia de que, mas não demorou muito a perceber. Andrew tinha usado a chave para abrir a porta da rua e agora estava a entregá-la a Neil.- Vai dormir - disse Andrew - seu cérebro não é sensato quando está cansado. Apartir de agora você está no meu encargo.
Neil viu Andrew sair da varanda até fora da sua zona de visão.
Neil sentiu-se inconscientemente a deslizar para o chão e ele sentiu algo húmido em seus olhos, enquanto segurava a chave com força, até formar um vinco em sua mão.
Apesar das promessas e da confiança de Andrew, era bem provável que Neil deixasse Palmetto dentro de um caixão antes da primavera. Neil olhou para chave.
- «casa» - sussurrou, porque precisava de ouvir aquela palavra em voz alta. Era um conceito estranho para ele, um sonho impossível; assustador e maravilhoso ao mesmo tempo. Sentiu seu coração disparar e por instantes, pensou que ia saltar-lhe do peito - bem-vindo a casa, Neil.
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Stay - All for the game
FanfictionAndrew Minyard tenta não ligar para a sua alma gêmea, é só mais uma pessoa que não apareceu para o vir buscar. Neil Josten perdeu sua mãe, morou na rua até lhe roubarem a mochila juntamente com todo o dinheiro. Cansado decide por um fim a tudo, é pe...