Capítulo 5 - A faixa de transição.

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Anos atrás...

- Você precisa alinhar a mira de trás com a da frente - diz Saulo, que me ensinava a usar uma pistola no vasto quintal de casa.

- Você se sente bem ensinando duas crianças a usarem armas? - pergunto, uso meu olho dominante na mira da pistola.

- Sim, me sinto muito bem, aprendi bem mais novo que vocês.

Atiro mirando em uma das latinhas que estavam penduradas em uma árvore. Acerto uma folha do lado de uma lata vermelha.

- Droga.

- Sua vez Alicia - Saulo a ajuda.

Alicia segura a arma, parece insegura. Tem algum tempo que moramos todos juntos, Saulo decidiu que já estava na hora de aprendermos a nos defender.

Ela atira, acerta um galho derrubando o ramo inteiro.

- Ela fez mais estrago que você, Amélia - atiça Saulo com um pouco de desdém.

- E isso é bom? - Alicia parece ter gostado, era sempre insegura com os treinamentos, não tinha tanto interesse quanto eu, mas ficava super empolgada quando notava sua evolução.

- Depende da situação.

- Tá, mas e você? - me dirijo a Saulo. - Você é bom? Porque tá exigindo uma coisa da gente que nem sabemos se você tem? - saiu mais agressivo do que eu gostaria.

- A raiva pode ser um ótimo combustível, só não deixa ela te dominar - ele pega a arma na mão de Alicia e recarrega o cartucho. - E respondendo sua pergunta, estou meio enferrujado pra isso - Saulo atira, as balas cortam o ar com tanta velocidade que só é possível identificá-las pelo barulho e furos que surgem nas latinhas. - Esquece, eu ainda mando muito bem.

Ele usou todas as balas do cartucho, e não errou nenhuma. Não estamos tão distantes das latinhas já que eu e Alicia estamos a pouco tempo treinando, mas mesmo com essa distância é surpreendente para mim. Saulo é muito forte, inteligente e habilidoso, e está me treinando, eu posso conquistar muita coisa se eu usar esse poder de forma inteligente.

Depois do treino com armas, entramos e Saulo foi preparar o almoço.

Eu lia um dos livros de magia do Saulo sentada no sofá, tem algumas coisas interessantes que ele guarda. Saulo me disse que só existe um cópia de cada livro de magia, e que esses que ele tem são réplicas que fez quando ainda estava na Lith.

A página dizia sobre magia elementar, uma das primeiras coisas que Saulo nos ensinou, os exercícios eram baseados em manipulação da água no estado líquido, tínhamos que passar alguns litros de água de uma bacia para outra, é mais difícil do que parece.

- Tá lendo sobre o que? - pergunta Saulo sentando ao meu lado.

- Magia elementar - digo, sem tirar meus olhos das páginas.

- Ei garota - ele põe a mão em meu ombro. - Não precisa levar os treinos tão a sério, quero que vocês aprendam a se defender e sobreviver nesse mundo, mas não quero que isso afete negativamente vocês, ok? Leva como um esporte, pode ser? - Levanto minha visão e encontro os olhos castanhos claros de Saulo, tão claros e vibrantes que são praticamente laranjas, os mesmos olhos que me encararam quando Saulo me salvou.

Dou um suspiro longo.

- Tá bom - respondo, ele me observa carrancudo como sempre, mas abre espaço para um pequeno sorriso.

- Eu estava pensando que... você é muito limitada aos meus livros, o que acha de irmos a uma biblioteca amanhã?

- Uma biblioteca de verdade? - minha empolgação era evidente.

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