Capítulo 9 - O Museu

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- Como esse lugar tem energia? - pergunta Levi a Kiara que fechava a mochila com roupas para o frio.

- Magia - responde ela.

- Sério?

- Não né seu idiota, eu consegui ligar um gerador só nesse andar. Estou pronta.

- Como você consegue chegar aqui em cima sem usar as escadas? - pergunto lembrando das portas fechadas por madeiras impedindo a passagem?

- Com ele.

Não entendo a quem ela se refere, não tem ninguém aqui além de Kiara, Levi e eu. Antes de dizer qualquer coisa sinto algo bufando em minha nuca.

Sinto um arrepio percorrer todo meu corpo, me viro devagar e dou de frente a uma fera enorme, minhas pernas falham e acabam caindo no chão.

Vejo o grande lobo na lanchonete e Richard ao seu lado, vejo tudo voltar, meu pai morto, Saulo sujo de sangue com uma expressão vazia.

- Amélia calma - escuto Levi que parece estar distante. - Estou aqui.

Já passei por isso, muitas vezes. Lembro do que me foi ensinado. Conto até quatro inspirando, seguro por sete segundos, e solto devagar por oito contagens.

"Isso, muito bem."

Consigo ouvir Saulo dizer em minha mente, assim como na primeira vez.

Minha respiração volta ao normal aos poucos e deixa de estar tão acelerada. Tudo só estava em minha cabeça, todas aquelas memórias, todo o sangue, menos a fera, ela é real, mas diferente do grande lobo.

Sua aparência é mais felina e se assemelha a um tigre, sua pelagem é de um roxo profundo com um branco macio, um par de chifres saem do topo de sua cabeça e se curvam para trás.

- Ele é manso - Kiara se aproxima do animal que fecha os olhos para receber o carinho. - O nome dele é Cérbero, não precisa ter medo.

Levi me ajuda a levantar e me guia até perto do grande animal, ele segura minha mão e a leva até o pelo macio onde tomo coragem de acariciá-lo.

- Senti saudade garotão - disse Levi com as mãos nas laterais do rosto de Cérbero.

- Foi um ataque de pânico? - questiona Kiara.

- Foi, não é a primeira vez.

- Eu não sabia que o Cérbero podia ser um gatilho.

- Na verdade nem eu sabia - o animal leva seus grandes olhos a mim, depois de me farejar de perto o tigre roxo se afaga em volta do meu corpo como um gato pedindo carinho. - Está acontecendo tudo muito rápido, é difícil processar tudo de uma vez.

- Você está indo bem - diz Levi me empurrando de leve com o ombro. - Podemos ir?

Kiara volta os olhos para o animal e diz:
- Tem uma condição.

- Pode dizer - os olhos escuros de um reflexo roxo de Kiara se levantam para Levi.

- Eu só vou se me disser pra quem trabalha - um silêncio instaura no lugar, vejo no rosto de Levi que ele calcula se realmente deve falar.

- É realmente necessário?

- Se eu vou voltar a trabalhar com você, quero saber a quem estou me associando.

- Tá, bem, eu digo então - Levi me olha de relance provavelmente procurando apoio.

- Eu trabalho para o Avelar, Saulo Avelar.

Kiara levanta as sobrancelhas. Não costumo ouvir o sobrenome de Saulo, parece ter um peso muito maior do que eu imaginava.

- Tá trabalhando pra um sentinela? Levi? Perdeu a noção?

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