Capítulo 11 - Não entendo.

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- Eu juro que da próxima vez vou explodir a cabeça do Richard - diz Kiara enquanto confere se estamos sendo seguidos.

Entramos em um tipo de bar para nos escondermos, sentamos em uma mesa do canto fugindo o máximo possível da multidão. Consigo perceber que o lugar se assemelha aos restaurantes da Capital, o que difere é que ninguém aqui está com roupas formais, o lugar é um pouco mais escuro com luzes amareladas não tão potentes e a pintura e outros materiais estéticos imploram por manutenção.

Há pessoas aqui com o dobro do meu tamanho, as conversas altas e barulhentas sufocam nosso diálogo, o que é ótimo, não queremos que ninguém saiba quem somos.

William, o feiticeiro de cabelos alvos, fechou com magia todas as feridas que sofremos, principalmente o corte no abdômen de Levi, porém não irá durar, o feitiço ajudará a estancar o sangue mas a cicatrização é trabalho do próprio corpo.

Sinto alguns olhares pousados em nós, mas não parecem carregar tanto julgamento, algumas pessoas andam arrastando grandes machados, martelos brilhantes, cajados florescentes, um bar de guerreiros. Cortes e manchas de sangue não devem ser tão raros aqui, então nosso estado físico não me preocupa.

- Precisamos pensar rápido - indica Levi, ele apoia os cotovelos na mesa com uma expressão investigativa.

- Eu preciso comer antes - Kiara levanta a mão para chamar um atendente.

Uma mulher de cabelo rosa choque pega nosso pedido, não comemos há praticamente um dia inteiro, ainda assim tentei escolher o prato que menos parecia precisar de preparo manual.

Admito que talvez viver na Capital tenha me deixado um pouco mesquinha, não sei quem irá manusear os ingredientes e pelo visto eu sou a única que está preocupada com isso.

Percebo que William ainda não disse nada desde quando o vi pela primeira vez, ele apoia sua cabeça em uma das mãos depois de prender parte do seu cabelo branco em um singelo rabo de cavalo.

- Ah... desculpa ser indelicada mas por que ele está tão quieto? - pergunto ao Levi em um tom tão baixo que quase soou como um cochicho.

- Meu deus! - queixa Kiara - Não contaram a ela? Que incessíveis.

"Olá", diz Will em língua de sinais.

- Ele é surdo - explica Levi.

- Como entende o que estamos dizendo? - pergunto ainda confusa.

- Magiiiiia - responde Kiara de forma mística.

- É sério?

- Não, não é - repreende Levi. - Ele aprendeu a ler lábios.

"Você nos salvou, obrigada", me expresso em sinais, pelo menos acredito que foi isso que fiz.

"Não precisa agradecer"

- Você sabe língua de sinais? - questiona Kiara.

- Tive que aprender um pouco para trabalhar na biblioteca.

- Eu, Amélia e Alicia nos comunicávamos em língua de sinais só para irritar Saulo - conta Levi, me fazendo bem ao lembrar disso. - Mas depois de algumas semanas ele começou a entender o que estávamos dizendo e perdeu a graça.

"Ainda é estranho saber que você trabalha para ele", comenta Will.

- Quem diria, você trabalhando pro Avelar, o cara que fundou o projeto Callisto - Kiara diz com um pouco de remorso na voz.

- E também o cara que salvou as escolhidas - insisti Don.

Prefiro ficar calada, minha opinião não seria nem um pouco imparcial.

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