CAPÍTULO III - Desespero

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        Estou andando o mais silenciosamente que posso, mas o lugar está tão quieto que ainda assim consigo escutar meus passos, se não fosse loucura eu diria que consigo escutar meu coração acelerado. Estou sozinha no meio dessa cidade abandonada e em ruínas “ Será que essa foi uma boa ideia? Eu estou começando a pensar que  “. Levo um susto virando-me rapidamente quando escuto um som atrás de mim, mas não vejo nada “ Provavelmente uma pedra caiu no chão, é... Certeza que uma pedra caiu “, me viro e volto ao meu caminho acreditando no que quero acreditar, aperto firme o punho da minha espada, pois não posso descartar a sensação de estar sendo vigiada que me toma depois disso.

        Já adentrei bastante na cidade e nenhum sinal de Chacais, ou qualquer coisa que fosse, chego até uma pequena fonte seca, em seu tempo de glória ela deveria ser bonita, hoje está velha, suja e rachada. Na parte superior da fonte tem uma pequena estátua de um homenzinho com asas, e ele aponta com o dedo para esquerda, olho na direção que a estátua está apontando e vejo uma casa, ela não está completamente inteira, mas é a casa que está em melhor condição até agora.

        “ O que tem lá senhor homenzinho? Por que aponta para lá? Já que você não vai falar, eu vou lá descobrir “.

        Ando em direção a casa, vou até uma janela lateral antes de chegar abrindo a porta, o vidro está bem sujo, sujo a ponto de dificultar a visão, pego a manga do manto que Ronan me deu e esfrego na tentativa de melhorar a visão do que pode ter lá dentro, não consigo ver muita coisa, apenas alguns móveis revirados na escuridão, então vou até a porta e a abro, o ranger da porta me faz encolher “ Se a ideia era ficar no sigilo, eu acabei de gritar minha localização, meu nome e quantas pessoas veio comigo “, olho rapidamente em volta, parada por alguns segundos “ cara o que eu estou fazendo, deveria ter ido com o Dan “, meus pensamentos são tão altos que talvez possa ser possível escuta-los. Nada se movimenta, tudo continua no seu lugar, mas a maldita sensação de que existem olhos me observando é assustadora, minha garganta está seca, meus músculos tensos, parece que a qualquer momento alguma coisa sairá da escuridão e me atacará, mas nada acontece.

        Me viro e entro devagar na casa escura “ Precisava de uma tocha agora “, estreito os olhos na tentativa de aguçar a visão, o que não adianta muito, é possível ver apenas alguns pontos da casa aonde a luz da dona Lua ilumina por janelas e pela porta “ Agora sim eu tenho certeza que dá para ouvir meu coração, não sei se isso é possível, mas parece que o silêncio ficou ainda mais silencioso “, vou até a janela mais próxima que fica na parede leste da casa a fim de me aproveitar da pouca iluminação, de costas para janela consigo ver o primeiro degrau de uma escada que sobe para o andar de cima, tem luz lá em cima “ provavelmente outra janela, não, é muita luz para entrar por uma janela, deve ter alguma parede destruída lá, vou subir “.

        Tateando pela parede e qualquer coisa que pode me ajudar a não cair enquanto caminho pela casa até o primeiro degrau, meço o tamanho dele para me basear nos próximos que não consigo enxergar e devagar subo me apoiando na parede “ deve ser muito difícil não ter a visão, eu definitivamente deveria ter uma tocha “, subo degrau por degrau até chegar no andar de cima em um corredor para direita que está iluminado, tem duas portas fechadas, uma a esquerda e outra a direita, e ao final do corredor uma outra aberta e é de lá que vem a iluminação, a parede do quarto está destruída, sobrando poucas colunas e restos da estrutura de pé, tem uma cama bem velha, uma tapeçaria que outrora era vermelha bem surrada no chão, caminho devagar até lá com a sensação de que a qualquer momento uma das portas laterais se abrirá bruscamente e algo me atacará, mas nada disso acontece e chego até o quarto iluminado, ele me dá uma boa visão da cidade, como a maioria das casas estão destruídas, não tem estruturas que atrapalham a visão e vejo boa parte do caminho atrás e do lado da casa, da para ver parte do caminho que eu estava seguindo também e tudo está vazio, repleto de escombros e sujeira.

Astrid e o Rito dos caçadores - Volume I: Batismo de TerraOnde histórias criam vida. Descubra agora